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6- Memórias de um Cachorrinho Maduro



 

Quando mamãe me faz festa, eu deito de costas e ela coça a minha barriga que foi feita pra isso. Faz  eu me sentir no céu e eu sorrio bem grande, fecho os olhos até ficarem quase todos fechados e nem vejo mais nada, meio dormindo e sonhando por todos os mundos do carinho dela. Eu fico nas estrelas, no céu, na transparência em volta da gente, fico igual a um perfume se misturando com o ar e flutuando no espaço.


   Mamãe diz que Chris e Tweety são sagrados porque Deus botou eles sob a responsabilidade dela e não porque ela é mãe “coruja”, sei lá o que é isso.  E eu também sou sagrado mesmo que tenha me mudado pro Chris porque a mamãe faz eu sentir que sou. 

Mamãe diz que cachorros podem ver Deus porque ficam maravilhados: “a gente vê nos olhinhos deles que estão além do mundo! olham pra gente extasiados!”. 


        Eu sou um cachorro alérgico. Tweety ouviu um papo que cachorro pega as “neuras” dos donos, então disse que eu sou alérgico porque ela também é, e que a Maya tem TOC porque eu também tenho. Sei lá o que é TOC, mas a Maya faz umas coisas estranhas na hora de comer. O Chris ensinou a gente a sentar no chão pra ganhar o nosso prato, e ela deu de só sentar em cima do sofá, e quando vê o prato dela no chão sai do sofá e vai comer.


A mamãe fica tentando fazer ela sentar no chão, mas ela sai correndo como se fosse apanhar. “Mayinha vem ca!” a mamãe diz toda com pena. “O que deu em você?”, ela pergunta, e a Maya nem aí pra tentar parar as manias dela. Com o Chris, ela não faz nada disso, as ordens têm o foco de serem inteiras, sem dúvida ou pena da gente ou hesitação e a gente se sente burro de não sacar que tem que corresponder. Eu fico no maior orgulho porque aprendi a sentar quando ele manda, mesmo que eu não seja um cachorro soldado. Aproveito pra me mostrar bem serio pra Maya ver!


   Mas por causa da alergia, Tweety e mamãe me levaram no veterinário porque o meu olho fica vermelho e pequeno muitas vezes, e eu fico coçando a minha cabeça.  Eu me acho o máximo no veterinário, vendo que tem ele e uma ajudante só pra prestar atenção em mim. Olham dentro das minhas orelhas, botam uma luz forte nos meus olhos e eu me porto muito bem. Mas o veterinário achou que eu posso ter alergia a frango e à carne que tem na minha comida. Deu um colírio pra mamãe e disse que se eu não melhorasse seria bom me botarem numa dieta vegana! louco! Ele nem sacou que eu não estava coçando o meu olho coisa nenhuma, mas a minha cabeça, bem no topo, e pra lá do olho.


   De coisa vegana eu só gosto das amêndoas que a mamãe me dá, quando ela está comendo e eu fico insistindo e pulando na perna dela pra ganhar uma. Mas de vegano, eu não tenho nada. Ao contrario, sou tão bom caçador que até uma pinha maior do que a minha boca eu consegui engolir quando era filhote e não tive alergia nenhuma!


   Mamãe começou a me dizer que eu era um cachorro pedigree e que fui feito não só pela natureza, mas pela ciência humana de criar raças, querendo me consolar por eu ser alérgico.  Ela já dizia isso de pedigree porque eu deixo ela escovar meus dentes:


   “Você bem sabe que precisa de cuidados especiais, muito bem!”, ela falava, e eu ficava todo orgulhoso em não ser só um cachorro natural. Mas fiquei uma fera com o veterinário. Ainda bem que a moça que leva a Maya pro parque falou pra mamãe tentar me dar peixe, e ela até já comprou atum pro jantar de hoje.


 




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