DIVÃ
O Raimundinho achava que tinha um Freud dentro de si. Ao contrário do que recomendaria a racionalidade, jamais lera qualquer coisa dele ou dos outros pais da ciência psicanalítica. Nada de Lacan, Jung, nada. Se gabava de conhecer a alma das pessoas com meia hora de conversa. Difícil era convencer alguém a entabular meia hora de papo, porque Mundinho tinha a si próprio em alta conta demais.
Do balcão da mercearia, onde era dono, gerente, atendente, estoquista e contador, não perdia a chance de puxar conversa com as pessoas. Na cidade pequena, o movimento nunca era significativamente grande ao ponto de ele não conseguir dar conta. Nem a Maricota, a única capaz de aturar as manias psicanalíticas do Mundinho, casafa com ele há uma eternidade, nem ela ajudava no dia a dia do mercadinho. Não precisava e ele se sentia melhor sozinho pra abordar quem chegava.
A falta de outro mercado fazia de todo mundo cliente compulsório do Raimundo e, por extensão, sujeito da sua psicanálise de balcão.
Analisada com frequência era a Doralice. Das poucas que não se incomodava muito com as coisas que o analista do mercado, no caso “da mercearia”, lhe dizia. Doralice sofria de tudo. Um pouco de mal de amor, um pouco de solidão, um pouco pelo afastamento da família desde o casamento. Prato cheio pra Raimundinho, que logo na primeira ocasião, deitou falação. Perguntou da relação com o pai, de traumas da infância, se a mãe era castradora, se apanhava dos irmãos. E Doralice falou e falou. O “Dr. Mundinho” então concluiu dizendo que seria preciso muito tempo de conversa pra que Doralice tomasse consciência de si mesmo e de seu potencial, deixando pra trás os aperreios que influenciaram a construção de sua personalidade. A cada compra, a conversa segue.
O Toninho, garoto extrovertido que lamenta sempre não ter conseguido sair da cidadezinha pra viver uma vida mais libertária em uma grande cidade, é outro paciente preferencial. É chegar na venda, onde compra seus cremes de cabelo, únicos itens que leva em separado das compras do mês, e é logo abordado pelo Mundinho.
- Tudo bem? Como anda o relacionamento com seus pais? Ela já foram à sua casa? Fizeram alguma observação? Você tem lembranças de comentários que eles tenham feito na sua infância? O que você sentia por eles? Eles reprimiram o teu jeito de ser?
O Toninho até se interessou pela abordagem, mas não levou fé naquela primeira sessão. Passou a se interessar depois, já na terceira ou quarta vez, quando entendeu que estava lidando melhor com sua própria condição e aquelas conversas faziam algum sentido.
Melhor sorte não teve quando tentou analisar seu Zezinho do armarinho, que nunca leu Marx, Engels, nem teóricos marxistas brasileiros ou de parte alguma, um pouco por falta de acesso e muito por não saber mesmo juntas as letras, nunca se alfabetizara, mas era mais comunista que o Mao Tse Tung e mais descrente que Nietzsche.
Na primeira pergunta, depois do Seu Zezinho reclamar do preço do feijão, do arroz e do tomate, indispensáveis na despensa de casa, houve reação inesperada:
- Seu Zezinho, o que lhe aflige? Sua relação com os pais foi conflituosa?
- Ô cabra! O que me aperreia é o preço da comida! E lá em casa nunca teve frescura não. Mainha era boa demais e painho só trabalhava. Agora você, se não der jeito de baixar o preço dos mantimentos aí, eu acho que o povo deve vir e pegar na marra!
- Mas Seu Zé, isso é injusto. Eu não faço os preços. Eu eu só queria saber se o senhor tem problemas que levaram a essa revolta.
- Não sou revoltado com nada, a não ser com o capitalismo e com essas religiões que escravizam o povo e o fazem aceitar a maldade do mundo.
E com gente que quer saber da vida dos outros...
- Ficamos por aqui e continuamos a conversa nas próximas compras.
- Se eu voltar. Detesto gente que se mete na intimidade das outras pessoas.
- Mas é o processo psicanalítico!
- Pra mim, o nome disso é fofoca. E vá te catar. Passe bem!
Rio de Janeiro, fevereiro de 2025.
Escuta essas músicas!
Escute agora na Cedro Rosa a playlist Música de Bar e Boteco .
Plataforma Global de Música
e Audiovisual
A Cedro Rosa Digital é uma plataforma inovadora de certificação, distribuição e licenciamento musical, conectando artistas independentes ao mercado global. Criada pelo produtor e compositor Antonio Galante, a empresa representa músicos de cinco continentes, oferecendo soluções para direitos autorais, sincronização e produção audiovisual.
Como Funciona a Plataforma?
A Cedro Rosa opera como um ecossistema digital para compositores, intérpretes, produtores e empresas que necessitam de músicas para seus projetos. Um dos seus principais diferenciais é o CERTIFICA SOM, sistema criado pela Cedro Rosa e desenvolvido pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), com apoio da EMBRAPII e SEBRAE RJ. A ferramenta registra e certifica obras e gravações, garantindo que os detentores dos direitos sejam corretamente creditados e remunerados. Além disso, possibilita a distribuição em streamings globais e oferece um extenso catálogo para licenciamento em publicidade, filmes, jogos e mídias diversas.
Principais Produtos e Serviços
CERTIFICA SOM – Registro e certificação de músicas, assegurando a autoria e a correta distribuição de direitos.
Distribuição Digital – Disponibilização de faixas em plataformas como Spotify, Apple Music e YouTube Music.
Licenciamento Musical – Facilitação da sincronização de músicas em filmes, séries, publicidade e jogos.
Produção Audiovisual – Desenvolvimento de filmes musicais, documentários e séries, incluindo:
+40 Anos do Clube do Samba – Coprodução com a TV Cultura de São Paulo.
PARTIDEIROS – O filme que, segundo O Globo, “apresenta uma roda de samba como ela é, em um filme para a eternidade”.
PARTIDEIROS 2 – Continuação do premiado documentário, atualmente em produção.
História da Música Brasileira na Era das Gravações – Minissérie que resgata a trajetória da música no Brasil.
Gestão de Direitos Autorais – Monitoramento e arrecadação de royalties em parceria com ASCAP, SACEM e ECAD.
Eventos e Iniciativas Culturais
Além de suas atividades no setor musical e audiovisual, a Cedro Rosa promove e apoia eventos que discutem e fortalecem a economia criativa:
A Música na Era Digital – Seminário realizado no Rio de Janeiro em 2018, reunindo grandes nomes da música e dos direitos autorais.
O Samba Está Aqui – Mostra audiovisual em parceria com a produtora Artifício Cinematográfico, que será apresentada em diversas cidades brasileiras no pré-carnaval de 2025.
Parcerias Estratégicas
A Cedro Rosa mantém acordos com importantes instituições e empresas do setor, incluindo associações de direitos autorais, plataformas de streaming, festivais internacionais e órgãos de fomento à cultura. O CERTIFICA SOM, por sua vez, é um exemplo de colaboração entre a Cedro Rosa e instituições acadêmicas e tecnológicas, como a UFCG, EMBRAPII e SEBRAE RJ, impulsionando a inovação na certificação musical.
Como Utilizar e se Associar à Cedro Rosa?
Músicos, compositores e produtores podem acessar a Cedro Rosa para cadastrar suas músicas, solicitar certificação via CERTIFICA SOM e distribuir suas obras globalmente. Empresas e profissionais do audiovisual podem explorar o catálogo e licenciar trilhas para seus projetos. O processo de associação pode ser feito diretamente pelo site, garantindo acesso a ferramentas exclusivas para a monetização da música.
A Cedro Rosa Digital se consolida como uma ponte entre criadores e o mercado global, garantindo transparência, remuneração justa e um espaço dinâmico para a economia criativa.
コメント