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Foto do escritorLais Amaral Jr.

A aranha


Faz algum tempo uma coisa estranha se alojou no velho baú aos pés da minha cama. Alguma coisa, viva. Tenho certeza. Percebo o ruído do arranhar as paredes internas do baú. Não sei como aquilo, uma enorme aranha ou sei lá o que é, chegou ao meu quarto. Por onde entrou? Não consigo achar a resposta. O fato é que nas noites seguintes evitei me aproximar do baú. Passei a dormir na sala. Com a TV ligada. Temia ouvir os sons que denunciassem alguma ação como um arrumar de tralhas num... Ninho.


Não bastassem os problemas do dia a dia no escritório, a ex-mulher infernizando, os filhos perdidos na vida, tinha agora essa incômoda e perturbadora visita dentro do próprio quarto. Nunca me senti tão vulnerável. Tão desprotegido na vida. Há tempos me esquivo de Rita que quer resolver questões pendentes de um divórcio demorado e doloroso. Sabendo que o final da pendenga resultará em perdas materiais. Emocionalmente não há mais o que perder. Ainda mais agora com a chegada desse bicho. ‘Esse’, sei lá o quê.


Decidi que não vai haver confronto. Nem aranha e nem Rita, que vive ligando para o escritório, passando MSN, Whatsapp. Forçando um encontro. Igual aos tempos de namoro e dos primeiros anos de casados quando queria discutir a relação. Nunca foi o meu forte. Sempre evitei.


 


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Passados dois meses e até me sentindo mais seguro e conformado com a situação, ensaiei o retorno ao quarto. Era início da noite e, entrando pela janela a luz crepuscular do sol desenhava sombras compridas no chão da sala. As sombras se esgueiravam da janela até a entrada do quarto. Mal me aproximei e pressenti o movimento. Um forte arrepio me encrespou o corpo todo. Como se meus pelos tivessem se transformado em espinhos. Alguma coisa peluda e comprida, uma perna grande de inseto talvez, escorregou ligeira sob a fresta da porta para dentro do quarto. Tentando, acredito, fugir do invasor. No caso, eu. Minha mão com a chave parou a meio caminho. ‘Nada de abrir essa porta’, pensei de imediato. Desisti. Uma aranha gigante mora no meu quarto. O que anda sendo feito dessa vida?!!


Mais uma pendência. Coisas não resolvidas. Paralisadas feito minha mão segurando a chave. Congelada a caminho da fechadura da porta do quarto. Pendências que estão a tatuar na alma o código genético que compõe aqueles que não vencem por medo de derrotas e por isso empatam o jogo. Foi assim que vi o filho escolher um caminho tosco. Sonhava em vê-lo engenheiro, médico. Crescendo, vencendo desafios, sendo melhor que eu. Caiu nas drogas e agora trabalha como caixa de supermercado. Ana, a filha, um doce. Envolveu-se com um hippie e preferiu ir pras montanhas vender bijuterias artesanais. Não sou de impor regras. A mãe chorou. Abati-me com a notícia do primeiro neto.


Eu tinha o hábito de, no silencio da madrugada, pensar no mistério da vida. Mas isso era antes da aranha aparecer. A vida não tem cartilha nem manual. Nós a conhecemos por intermédio das pessoas. Dos outros. A vida existe ao perpassar as pessoas. É a percepção da existência. Por isso, na minha fraqueza diante da magnificência do existir, recorro ao convívio diuturno com pessoas de todos os matizes e influencias possíveis. Elas produzem o contorno, delineiam a minha visão de vida. Assim aprendo sempre um pouco mais sobre o mistério do viver. Mas ainda é sempre muito pouco.



 

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O silêncio da casa e a impressão de ouvir ruídos no meu quarto me fez recordar disso, agora. Reflito que desde que li ‘Alice no País das Maravilhas’ e um livro ateu de Monteiro Lobato, que não sentia essa sensação. A nostalgia do fim do livro, em ‘Alice’, a triste separação de um envolvente e instigante mundo de fantasias e descobertas. No livro de Monteiro Lobato, dona Benta descarnando mitos e mostrando a realidade crua e fascinante do mundo sem um criador. Da natureza e da evolução como sementes de tudo.


Não vou mais entrar no meu quarto. Também não seria conveniente vender a casa. Podem descobrir esse monstro e eu teria que me explicar. Poderia incendiar tudo e acabar com essa coisa e pronto! Mas incêndio criminoso é facilmente desvendado por um perito judicial. Não. Melhor deixá-la viva. Qual o tempo de vida de uma aranha?


Só pode ter sido Deus quem enviou essa monstruosidade para provar que Ele existe. Que é Ele quem manda. Que é Ele quem dá as cartas. Uma aranha, ou outro bicho horripilante e asqueroso qualquer, veio aqui para dar cabo do meu futuro ou... Fazer parte dele. Uma aranha gigante. Colossal. Que a esta altura já ocupa toda a dimensão do meu quarto. Da casa.


(Conto do livro ‘Chico Buarque no Olho Mágico’ , de Laís Amaral Jr – recém-lançado).




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