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Foto do escritorPaulo Eduardo Ribeiro

A dor da falta de criatividade



O dia amanheceu frio e chuvoso naquela manhã de terça-feira véspera da entrega do artigo semanal que ele escreve para uma revista, mas ele sabia que aquele seria um trabalho difícil de finalizar, a noite passada foi longa e dolorosa por causa da vacina que ele tomou no dia anterior.


Sempre foi assim, desde muito pequeno vacinas o deixavam com o braço dolorido, só que naquela manhã tinha um agravante, uma dor chata de dente que insistia em se fazer presente desde a noite anterior quando uma restauração fez o favor de cair de um de seus dentes superiores do fundo.


Poucas coisas afetavam sua criatividade, dor certamente era uma delas.

Sentado a frente do computador e olhando para a tela em branco na tentativa de, sem nenhum tipo de trocadilho, “extrair” algo de seu cérebro, nenhuma boa ideia surgia e a sensação era que dessa vez deixaria seu parceiro na mão, não que ele desejasse isso, mas o dente latejando forte e num compasso quase que sádico fez sim por diversas vezes ele pensar em falhar naquela semana.


Lembrou-se da cena do filme “O Náufrago” quando Tom Hanks usa patins de gelo para arrancar um dente que lhe atormentava, como achou aquela uma atitude extrema, mas pela primeira vez aquilo lhe pareceu fazer sentido.

A chuva continuava caindo pesada do lado de fora, e sua cadelinha resolveu que também iria dar sua contribuição para a falta de criatividade que quase podia ser vista no ar. Justo hoje ela decidiu que seria um dia perfeito para exigir sua total atenção, numa sinfonia de choro e latidos dengosos típicos de bichinhos de apartamento, definitivamente hoje o dia vai ser longo.


Ir ao dentista nunca foi um problema, afinal ele usou aparelho durante muitos anos, o bruxismo sempre contribui para que seus dentes sofressem as consequências das mordidas apertadas durante a noite, mas ele nunca precisou deixar seu trabalho de lado por causa disso.


Parece brincadeira, mas até a vizinha resolveu “colaborar” com marteladas e cantorias em seu apartamento, músicas que ao invés de acalmar deixam qualquer um mais irritado, para falar a verdade ele não tem muita certeza se o problema são as músicas ou a interprete que às vezes parecem piores que as próprias marteladas.


O barulho dos golpes nas paredes parece estar dentro de sua cabeça, parecem que vão derrubar o bloco todo, e o que é pior, sincronizadas com a dor latejante em seu dente que não dá nem um segundo de trégua parece ser muito pior do que realmente deve ser.

“Preciso de um cigarro...” esse pensamento estranho começou a se manifestar de uma maneira igualmente estranha.


Um cigarro com certeza, ou não, lhe traria um pouco de alívio nesse momento, mas ele se lembrou de que não fuma, e isso o fez pensar o quanto a dor estava lhe incomodando para pensar nessa possibilidade.


O martelo continua sua sinfonia pesada e ritmada, a cadelinha sentada ao seu lado clamando por sua atenção, a chuva, à noite mal dormida, a lembrança do gelo queimando seu rosto na tentativa de diminuir a dor nem um pouco claudicante, a escuridão e o relógio andando a passos de tartaruga, talvez ele devesse escrever sobre isso.

Quem em sã consciência se interessaria por uma história como essa?


Seria preciso encontrar uma conexão para que tudo fizesse sentido, mas como fazer isso com a televisão falando dos resultados dos jogos de ontem? Como fazer isso com o braço doendo por causa da tal da vacina? Como fazer isso com a febre começando a se manifestar nele?


O comentarista decidiu esbanjar todo seu conhecimento em estatística para trazer ao seu público fiel com exatidão quais são as chances dos times serem rebaixados, mas ele deixou de se interessar por futebol desde que percebeu que era o único que realmente sofria e que não ganhava nada com aquilo.


Chegou a pensar na broca de sua dentista... não, melhor o aparelho de limpeza que ele tanto odeia calando por alguns minutos o comentarista fanfarrão metido a estatístico. Foi a primeira vez que sorriu naquele dia, na verdade quase que gargalhou tamanha bobagem que lhe passou pela cabeça em um momento que deveria estar pensando no artigo que precisa entregar.


Como desejou a broca de sua dentista invadindo o que restou de seu dente até então totalmente restaurado, nem anestesia seria necessário e quantas coisas passariam por sua cabeça que lhe dariam subsídios para mais um excelente texto, excelente na visão dele é claro.


Por favor, perdoem o pobre homem, a falta de modéstia com certeza é em decorrência das dores que afligem nosso amigo.


Exigir criatividade de nosso amigo hoje é tão sádico quanto o dente dele que insiste em doer, então para lhe dar um pouco de tranquilidade para que possa buscar em algum lugar elementos criativos para o seu texto dessa semana vou ficando por aqui, torcendo para que as marteladas parem, que a cantoria cesse, que sua cachorrinha perceba sua aflição e dê umas boas lambidas em seu nariz mas que acima de tudo ele consiga escrever algo minimamente decente.


Paulo Eduardo Ribeiro, do Canal Ponte Aérea, para CRIATIVOS!


 

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