A Economia das Experiências
Quanto custa uma boa refeição em um bom restaurante? Você soma o valor dos ingredientes, a margem do aluguel do espaço, garçons, maitre e demais despesas e você chega a um custo. Acrescente sua margem de lucro e você terá a importância a cobrar do cliente.
Pode-se, porém, mudar a pergunta para: quanto vale proporcionar, não a comida, mas a experiência inesquecível? Em uma bela tarde você saborear com calma estes mesmos pratos, com uma linda vista, em companhia agradável e guardando desta refeição uma impressão que dura, às vezes, anos de boas lembranças de momento tão especial? Não tem preço, como se diz.
Por isso, hoje é necessário ter criatividade para gerar experiências valiosas.
Darei quatro exemplos de lugares na serra, nos arredores de Petrópolis, onde ainda é possível perceber o valor da experiência gastronômica, algo que vai muito além do que matar a fome.
Música de alta qualidade. Escute!
Vamos começar pela vila tchecoviana, construção do início do século XX, da família Góes, hoje a Pousada da Alcobaça, de Laura Lacombe Góes e seu filho, Guilherme. Laura é uma instituição. Antes como educadora e, depois, como mãe de família, como hostess, como orientadora de uma cozinha clássica brasileira insuperável. Roberta Sudbrack pode confirmar. É onde se pode comer um cozido, uma carne assada com batatas sujinhas. Um patê maison de entrada e, ainda, arrematar com uma imbatível torta gelada com cobertura de damasco. O visual é uma viagem no tempo, para o melhor dos tempos. Vá muito para virar amigo, pois a amizade com os donos, pessoas cultas, finíssimas e reservadas, tem um grande significado.
Para aqueles que acham que a carta de vinhos poderia melhorar, por favor, abstenham-se de sugestões. Traga seu vinho de casa, pague a rolha e fique quieto. Não se atrevam a mexer em nada. Do menu consta a frase: não preparamos filé-mignon bem passado, não adianta insistir. A bom entendedor meia palavra basta. Saia feliz deste passeio à República Velha.
Passando para os tempos de Getúlio, em matéria de decor e implantação, a Fazenda Bela Vista, desde 1929 propriedade de Luiz e Flora Morgan-Snell, você encontrará um ambiente de maior escala e frescor na abundância material daquele período de elegância e riqueza traduzida na era dos cassinos, escadarias e lustres colossais. A casa e seu terreno com maravilhosos piquetes, aleias de árvores quase centenárias e o restaurante com serviço profissional, perfeito e simpático, em atmosfera harmoniosa com o campo, vão lhe impressionar. Boa carta de vinhos, cozinha internacional mais para ítalo-portuguesa Volte sempre nesta viagem no tempo para desfrutar deste Brasil do período final pré-industrialização, comida e espaços! fartos, no salão ou na varanda.
Música Instrumental brasileira, ouça.
Mais um passo e temos a Fazenda Marambaia, em Correas. O melhor do neocolonial brasileiro dos anos 40/50, com seu casarão projeto de Wladimir Alves de Sousa para Dona Odete Monteiro e, mais tarde, residência de Luiz Cezar Fernandes. Jardins incomparáveis de Burle-Marx. Naturalmente, com todos aqueles refinamentos de embasbacar a turma "do mercado", os frequentadores mais jovens que já descobriram o novo templo gastronômico do premiadíssimo chef Roland Villard. Decoração um pouco over para a serra que conhecemos rústica, mas que tenha seu público fiel por muito tempo. What an experience!
Nós, quando pensamos em experiências inesquecíveis, não podemos deixar de lembrar a França. E aí somos todos órfãos do Belle Meunière, de Suzanne Dupré e Jean, seu marido, seguidos depois por filhos e netos. Como este, nunca houve nada igual. Suzanne tinha fama de mal-humorada. Era francesa, ponto. Um amor. Tricotou sapatinhos de bebê para minhas filhas. Seu restaurante na União e Indústria poderia estar em uma daquelas estradinhas provinciais na Borgonha. Com suas toalhas de renda que machucavam braços e cotovelos, talvez para lembrar que nunca devem ser apoiados na mesa. Seu coq au vin, canard à l'orange, fromage de tête de porc, crepes suzettes e omeletes confiture, marcos do grande momento de afirmação mundial da cozinha francesa, são imperecíveis lembranças, mesmo anos após o encerramento das atividades.
A criatividade é tudo. É a força do Rio de Janeiro.
Cantam muito!
Ouça!
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