A TRISTEZA É SENHORA OU NÃO
- Marlos Degani
- 1 de abr.
- 3 min de leitura

A tristeza é um estágio além de o simples ficar puto com alguma coisa e estar triste é muito pior do que estar puto porque a tristeza é mais ampla e paradoxalmente ao mesmo tempo mais concentrada do que o aborrecimento casual e quem fica puto com tudo corre o sério risco de perder-se nesta puteza quase utilizei erradamente a palavra putaria mas putaria é putaria seja ela da carne ou do espírito dominante e não rara irracional diluir a puteza em vários alvos é também e de uma certa forma diluir a importância da coisa pútica por assim dizer a tristeza é um óleo essencial um extrato de suas impressões negativas sobre a vida que não conseguiu mais espaço digamos no seu manancial de puteza pessoal; ultrapassou o estágio de lava vulcânica quente e espaçosa e breve para um núcleo constante e inicialmente indelével do seu estado de espírito Estou triste com o Brasil com esse país condenado a um futuro promissor que o atravanca a um passado inextinguível há muito a minha ingenuidade partiu de mim sem dó nem piedade e sei quão relevantes e desafiadores são os problemas de um país continental feito o nosso e sei também que não deve ser nada fácil governar o Brasil entretanto Nelson Rodrigues certa feita nos falou sobre o nosso complexo de inferioridade quando se referia há mais de 50 anos atrás à postura da seleção brasileira de futebol frente aos adversários ou seja em relação a outras seleções nacionais mas é claro que seu discurso se acomodava também nos estratos sociais do brasileiro como povo e nação ele o chamava de “complexo de vira-latas” caro Nelson creio que deva de estar muito bem acompanhado por aí e por isso peço um grande favor caso possa reúna o João o Carlos o Murilo o Otto o Paulo o Mário e aquela turma boa e pergunte se a sua teoria evoluiu e acho que sim pois daquele complexo de inferioridade intrínseco partimos para um estado de incompetência generalizada que se fia diretamente neste nosso irritante decadente famigerado e cafona “jeitinho brasileiro” o que poderia ser uma marca registrada do nosso povo um plus de criatividade e perseverança frente às intempéries do mundo transformou-se numa eterna desculpa esfarrapadíssima e que na verdade revela um dado aterrorizador o descompromisso do brasileiro com o Brasil o Código Penal continua uma piada de salão para os ricos infratores e suas bancas cheias de advogados com seus recursos embromatórios e tergiversantes que nos levam ao sorriso vermelho da vergonha o Brasil continua enfim sendo uma grande piada sem graça alguma e de péssimo gosto fico pensando no Roger Moreira do Ultraje a Rigor e na sua canção de mais de 30 anos atrás que país é esse inútil mas nem tudo está perdido talvez não seja difícil afirmar todas as horas são crônicas feitas minuto a minuto a vida passa na frente dos nossos olhos ou não do jeito que afirmam alguns pois a realidade não existe etc e tal para mim sendo o elemento mais bruto que possa existir e caso sinta dor ao pisar num prego estou vivendo bem vivinho da silva dizem sempre há um calçado furado para um pé descalço então presumo que há arte a todo tempo à espera do artista e posso concordar tranquilamente com isso uma crônica pode ser o que ela quiser à medida da pena do cronista sou absolutamente volúvel à dança dos minutos hoje no ônibus subiram duas mulheres uma jovem com os olhos de uma cor que nunca tinha visto, algo perto de um cinza bem esquisito e lindo algo hipnotizante ficaria o dia inteiro apreciando aqueles olhos estranhos e tão misteriosos e nem me sentiria tão inferior assim...
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