Aldir Blanc, nem muda e nem sai de nossa memória
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Semana passada fui fisgado no Youtube por uma playlist de MPB que o pessoal da Cedro Rosa Digital está divulgando. É aquele álbum com uma roda de samba no Bip-Bip, o lendário bar do saudoso Alfredinho, em Copacabana. A primeira faixa, uma composição do também saudoso Aldir Blanc com Jayme Vignoli, em homenagem a Nei Lopes, Primos entre si, é daquelas criações impagáveis, como diriam os mais antigos. E ela cantada pelo próprio Aldir, com aquela voz gravíssima faz o cérebro sorrir. Mesmo com discrição.
“Eu tava junto com um primo do Nei
Biritando num frege da Praça Mauá
Chegou outro primo do Nei
Deu pro Santo e propôs: vamos pra Paquetá
Na praia da Guarda tinha um batizado
Dum primo do Nei com a Naná
E siris que Walmir Gato Manso
Que é primo do Nei de Água Santa Jurou cozinhar”
E a letra segue numa malemolência gostosa de crônica contando um quiproquó familiar que incluiu até Fernando Henrique Cardoso e Lula, ambos, assumidamente, também primos do Nei. Uma delícia.
Aldir Blanc faz uma falta absurda. (Sei que isso é chover no molhado, mas fazer o quê?). Eu o coloco no pódio mais alto entre nossos letristas contemporâneos. E nesse pódio não existe degrau de primeiro, segundo e terceiro lugar. É um pódio horizontal em que estão além dele, Chico Buarque e Paulo Cesar Pinheiro. No mesmo patamar.
E isso, sem desmerecer nossos maravilhosos compositores, poetas e letristas que existem em pencas por aí e com qualidade e criações ombro a ombro com os três citados. É que sinto a necessidade de eleger alguns gênios da raça. Eu os defino e os diferencio por nuances que julgo perceber. Então, Paulo César Pinheiro é poeta-letrista, Chico é prosador-letrista e Aldir Blanc é cronista-letrista.
“Vanderley e Odilon
São muito unidos
E vão pro Maracanã
Todo domingo
Criticando o casamento
E o papo mostra
Que o casamento anda uma bosta” – A Nível de, com melodia do João Bosco, vocês lembram, é mais um desses colóquios diretos e cheios de fagulhas críticas e humoradas assinadas pelo cronista Aldir, como tantas outras. Claro que o universo criado pelo sujeito é amplo e tem joias arrebatadoras, mas aqui fui autoestimulado a falar dessa sua marca. O cronista.
Quando menino ele viveu em Vila Isabel, certamente foi impregnado pelo poeta da Vila. Quem sai aos seus não degenera. E Aldir partiu num 4 de maio, assim como Noel. Acho que foi mais uma brincadeira dele pra fazer a gente pensar. Fico aqui me perguntando, será que o ‘Nem muda e nem sai de cima’ e o ‘Simpatia é quase amor’ vão arrebentar neste Carnaval pós Covid? Tanto tempo sem a folia, já seria mote para alguma letra cronicada do mestre. Certeza. E ele já deve estar por aí. Momo e Baco já o devem ter convocado.
“Os boias-frias quando tomam umas biritas
Espantando a tristeza
Sonham com bife à cavalo, batata frita
E a sobremesa
É goiabada cascão, com muito queijo, depois café
Cigarro e o beijo de uma mulata chamada
Leonor, ou Dagmar
Amar, um rádio de pilha um fogão jacaré a marmita
O domingo no bar, onde tantos iguais se reúnem
Contando mentiras pra poder suportar ai
São pais de santos, paus de arara, são passistas
São flagelados, são pingentes, balconistas
Palhaços, marcianos, canibais, lírios pirados
Dançando, dormindo de olhos abertos
À sombra da alegoria
Dos faraós embalsamados” (Rancho da Goiabada)
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