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Foto do escritorMilton Calmon Filho

Algo a Dizer



 

Queria te dizer

que te persigo

como se fosses minha alma

numa vitrina descomposta por crianças.

Meus pés estão cansados

de devorar a areia de territórios vazios,

e a pulsação de minha sina,

ofegante, desliza por um abismo

mergulhado em letargia.

 

Queria te dizer

que o que repete meu canto é o silêncio

e sobrevivem nele

mil espelhos apagados.

Meu poema me transmite tua voz

e prolonga as descendências do teu corpo.

Minha palavra não tem memória,

meu planeta não tem segredos

e meu povo é submisso.

 

Queria te dizer

que minha pele está repleta de mistérios

que só esperam tuas unhas

para se decifrarem em ferrovias.

Uma rua me persegue, indefinida,

e não termina onde me acho

nem onde te encontro.

 

Queria te dizer

o que não basta te dizer,

porque não basta ser sincero

para reproduzir a flor que tenho nas mãos.

Por isso me calo enquanto não te escrevo,

enquanto não te elucido por completo,

enquanto não te descubro em meus sentidos.


 

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