Algo a Dizer
Queria te dizer
que te persigo
como se fosses minha alma
numa vitrina descomposta por crianças.
Meus pés estão cansados
de devorar a areia de territórios vazios,
e a pulsação de minha sina,
ofegante, desliza por um abismo
mergulhado em letargia.
Queria te dizer
que o que repete meu canto é o silêncio
e sobrevivem nele
mil espelhos apagados.
Meu poema me transmite tua voz
e prolonga as descendências do teu corpo.
Minha palavra não tem memória,
meu planeta não tem segredos
e meu povo é submisso.
Queria te dizer
que minha pele está repleta de mistérios
que só esperam tuas unhas
para se decifrarem em ferrovias.
Uma rua me persegue, indefinida,
e não termina onde me acho
nem onde te encontro.
Queria te dizer
o que não basta te dizer,
porque não basta ser sincero
para reproduzir a flor que tenho nas mãos.
Por isso me calo enquanto não te escrevo,
enquanto não te elucido por completo,
enquanto não te descubro em meus sentidos.
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