top of page
Foto do escritorLéo Viana

ANIMAIS...



Eu não tenho animais em casa. Ao menos não voluntariamente. Mas tenho, no geral, uma relação boa com os bichos, sejam eles pets, como se chamam os de estimação de um tempo pra cá, ou silvestres. Se digo que não os tenho voluntariamente é porque as meninas e uma gata das redondezas mantem uma relação de fidelidade. E na falta ocasional delas em casa, a gata me reconhece como tutor dela, eu acho. Só faço dar água na torneira da portaria, porque ela não bebe do pote.


Eu tenho, no entanto, um passado de relação com os bichos mais estranhos. Tive uma grande coleção de besouros vivos, recolhidos em casa toda noite lá em Meriti, quando havia ainda nas redondezas mais mato que ocupação humana e dias e noites eram cheios de visitas voadoras. Muito vagalume, muito besouro, muita libélula.


Também tive muito peixe. Primeiro barrigudinhos capturados nas valas do entorno e mais tarde peixes ornamentais, de loja. Muito acará e muito espada. Eu e meu irmão ainda criamos uma cobra por algum tempo, numa caixa d’água desativada que tinha em casa. A cobrinha era do tamanho de uma régua (uns 30 cm) e não lembro o que a gente deu pra ela comer (acho que baratas, uma barrigudinhos maiores, mas não tenho certeza). Ainda rolaram uns porquinhos da Índia, que mantivemos por algum tempo também e o meu maior tesouro durante grande parte da adolescência, que era a minha coleção de aranhas coloridas, que eu recolhia no bananal do quintal e soltava num canteiro que tinha sido uma horta atrás de casa. De manhã eu ia ver a nova teia que tinha se instalado e ainda catava uns grilos ou moscas pra jogar lá e manter as bichinhas alimentadas.


Pois bem. Depois da universidade e de ter vindo morar em apartamento, não deu mais pra essas zoologices. Mantive umas minhocas no canteirinho da entrada de casa por um tempo e foi só. Entretanto, de um tempo pra cá, não é sem algum espanto que venho observando, eu e todo mundo, um aumento expressivo na quantidade de animais silvestres interagindo com humanos, não sem o tradicional espanto de parte dos humanos, que não vão entender nunca que grande parte dessa fauna chegou antes de nós aqui e que nos instalamos onde eles viviam tranquilos sem nossa presença. Essa interação volta e meia chega a níveis perigosos, principalmente para os bichos. Nem preciso falar dessa multidão que alimenta os micos (ok, eles não são nativos aqui do Rio. Aliás, do mesmo jeito que provavelmente o seu avô, mas já se naturalizaram!), passando pelos que prendem pássaros, preguiças, etc.


Feita essa longa introdução, o que rolou na última sexta foi uma inusitada relação com um bicho que eu custei a conhecer pessoalmente. Quando era criança, tinha uma galera de perto de casa que comia gambás, que eram relativamente comuns lá. O pessoal dizia que botava um ovo aberto e um pouco de cachaça numa arapuca à noite, mas eu só via o bichinho depois, já frito em pedaços. Uma vez até comi um pedaço, mas não virei usuário. Na minha cabeça tava o gambá dos desenhos animados, preto e branco e fedorento. Mais tarde conheci o marsupial brazuca e seu jeitão simpático de ratão lento e arrepiado. Eles têm aparecido com frequência enorme aqui na área do prédio e já deram sustos notáveis nos vizinhos, arrumam confusões entre os gatos, enfim, fazem um escarcéu com seu andar desajeitado.


Tinha eu chegado do samba, moído, doido pra dormir, meio cochilando sentado na cama ainda antes de tomar banho, quando escutei um barulho na cozinha. Não me mexi num primeiro momento. Pensei que pudesse ser do lado de fora. Mas aí um copo fez barulho e pensei imediatamente que a gata tivesse entrado pela janela basculante, permanentemente entreaberta. Quando cheguei lá, tava o gambá desfilando em cima da pia, entre copos e talheres, que tive que lavar, um por um, depois da epopeia que foi pra tirar o perdidão do cenário.

Com medo de levar uma mordida e também de machucar o filhote (era pequeno, do tamanho de uma ratazana média), peguei uma vassoura e coloquei perto pra ver se ele subia. Nada. O carinha se assustou e acelerou em direção ao fogão, passou pela bateria de temperos, pimentas, azeite, vinagre, etc. Sem derrubar nada, para minha alegria, e caiu no abismo atrás do fogão. Aí desliguei o eletrodoméstico da tomada, dei uma olhada no tamanho da mangueira do gás, porque ia precisar arrasta-lo, e comecei a tentar pegar o carinha.


Ele entrou embaixo do fogão, o que me deu um trabalho extra, porque passei a a ter medo de arrastar o fogão e esmagar o inocente. De repente, o sacana surge no alto do fogão, atrás das bocas. Quando fui olhar, nada. O bicho ainda é ilusionista? Saí de perto, fiquei olhando à distância e, de novo, ele botou a cara. Entendi, finalmente, que ele tinha entrado numa espécie de forro que o fogão tem por trás, onde fica a parte elétrica e saem o fio e a mangueira de gás. Começou uma brincadeira de gato e rato, que durou até às três horas da madrugada.


Mas ele cometeu um erro tático. Provavelmente com muita fome, o pequeno delinquente desceu pelo forro do fogão e saiu para o chão da cozinha de novo, mudando o teatro de operações. Pus uma pá com um pedaço de banana, mas ele não se interessou e fugiu para o local onde foi capturado: um beco do armário onde ficam diversas garrafas de vinagre, azeite, etc. Se escondeu atrás delas, mas fui tirando uma a uma até chegar ao invasor, que mostrou os dentes, fez cara feia, virou de barriga pra cima e tentou fugir, sem sucesso. Coloquei mais um pedaço de banana no fundo de uma caixa comprida e fechei a entrada do beco com a caixa aberta. O mané entrou direto lá e perdeu a contenda, mas atacou imediatamente a banana e começou a comer vorazmente. Joguei ainda um reforço de banana pra ele e levei caixa, gambá, banana e tudo pra um terreno baldio aqui perto, por volta das três e meia da matina.


Salvei a vida dele, que poderia ser assassinado se entrasse na casa de alguém menos paciente ou com mais medo que eu. Mas se alguém encontrar com ele ou algum parente, pode dizer que ele não precisa voltar pra agradecer. Especialmente no meio da madrugada...


Rio de Janeiro, julho de 2023.


 

Arte, Cultura, Economia Criativa



Cedro Rosa Digital impulsiona direitos autorais para compositores e produtores

com músicas certificadas.


Plataforma promove qualidade e segurança para artistas independentes no mercado da música.




A Cedro Rosa Digital tem desempenhado um papel fundamental no mercado da música independente ao oferecer uma plataforma especializada em distribuição, certificação e licenciamento de músicas. O destaque dessa plataforma está na importância da certificação, que assegura a autenticidade das obras e a geração de direitos autorais para compositores, músicos, bandas e produtores.



Cantoras da pesada!


Com a crescente busca por trilhas sonoras exclusivas e autênticas, a Cedro Rosa Digital se tornou referência ao oferecer um rigoroso processo de certificação das músicas disponíveis em sua plataforma. Isso proporciona confiança tanto para os artistas, que têm suas obras protegidas e remuneradas adequadamente, quanto para os produtores audiovisuais, que encontram trilhas sonoras de qualidade para seus projetos.




Ao escolher a Cedro Rosa Digital, compositores e produtores contam com uma plataforma confiável e especializada, garantindo a proteção de seus direitos autorais e a geração de renda por meio das suas criações. A empresa está desempenhando um papel significativo na valorização da música independente, ao impulsionar a importância dos direitos autorais e promover um mercado mais justo e sustentável para os artistas.

0 comentário

Comments


+ Confira também

destaques

Essa Semana

bottom of page