Antônio Fraga: um quase esquecido gigante das nossas letras. (1ª parte)
Quando ouço O Homem Velho, do Caetano, me lembro de Antônio Fraga. Ouvi esses dias e lembrei-me de quando o conheci. Foi num sábado pela manhã, final da década de 1970 no reservado de um bar na ‘rua dos cartórios’ em Nova Iguaçu. Quando cheguei lá já estavam os jornalistas Enock Cavalcante, Luis Ferrão, o Alberto Cantalice filho do Adalberto editor da revista Equipe e, o entrevistado, o escritor marginal, Antonio Fraga.
Fui apresentado ao homem magro de cabelos longos e grisalhos mais para brancos, calça jeans, camiseta e uma bolsa tiracolo. Na cabeça uma boina de crochê. E sem dentes. Apertou-me a mão e deu um sorriso simpático. A partir daquela entrevista que se transformou num bate papo, Fraga adotou nossa turma que o adotou também de imediato. Foi afinidade à primeira vista.
Antônio Fraga é um peso pesado da literatura nacional embora sem muitos holofotes. Rotulado de escritor maldito, marginal ou ‘Joyce do Mangue’, nunca deu muita bola aos penduricalhos. Foi aplaudido por gente do naipe de Vinícius de Moraes, Antonio Callado, Mário Pedrosa, Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, entre outros. Escreveu peças, poemas, crônicas e a novela, 'Desabrigo', ambientada na Zona do Mangue, considerada sua obra prima e que o levou ser comparado a Guimarães Rosa tal a inovação estilística e a originalidade no trato da linguagem.
Filhos de pais anarquistas, foi criado na Cidade Nova, colado ao Catumbi. Abandonou cedo a escola e na maioridade saiu de casa chegando a morar num bordel na Zona do Mangue, o sedutor baixo meretrício do Rio. Lá conviveu com a marginalidade em geral, com prostitutas, com gente simples, desqualificados pela sociedade. Filtrou para a literatura o universo peculiar daquele trecho do Rio, com personagens reais na sua ficção.
Ainda jovem Fraga passou por perrengues ao se desentender com um delegado de polícia. Morou em outros cantos, mas voltou à sua cidade. Para sobreviver trabalhou na feira, foi lanterninha de cinema, ajudante de cozinha e até vendeu siri no Mangue. Praticamente um autodidata chegou a dominar outras línguas e certa vez me mostrou sua tradução do romance ‘O Super Macho’, de Alfredo Jarry.
Intelectual por natureza foi redator de emissoras de rádio e revisor do Jornal do Brasil o que definitivamente o aproximou da intelectualidade e da boemia carioca da época. E que se consolidou com o lançamento do instigante e admirável ‘Desabrigo’, em 1945. Era um momento efervescente de conversas e tertúlias intermináveis no ‘Vermelhinho’, na Cinelândia e em outros redutos célebres na companhia de Mário Pedrosa, Djanira, Antonio Houaiss, Antonio Olinto e outros.
De repente, o amor entra forte na vida do “marginal”. A paixão o envolve com uma jovem atriz e muda o roteiro outra vez. Ela, menor de idade, foge para viver com Fraga. Se “escondem” na Baixada Fluminense. Em Queimados, distrito de Nova Iguaçu. Foi seu único casamento. Viveu com ela e os filhos até seus últimos dias, em 1993.
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E nossos caminhos se cruzaram anos depois dessa fuga. A Revista Equipe era uma publicação ‘quase’ mensal, dedicada à cultura e política. A sede era itinerante. Vários bares supriam a necessidade. Depois da entrevista, Fraga passou a ser habituée do nosso universo. Estive algumas vezes em sua casa em Queimados onde vivia com dificuldade. Entre outras saídas, pintava quadros que vendia a visitantes.
Fraga era um homem de alma forte. Fumava muito e bebia cerveja com gosto. Nossas conversas versavam sobre política, sobre literatura, ele contava histórias do seu tempo e dava conselhos. Foi para mim, uma referência. E era sempre uma presença muito querida em nossas mesas. Mas feito um folhetim, sua vida daria outra grande guinada. Mas aí já é o papo da próxima semana. Até lá.
“O homem velho deixa a vida e morte para trás Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais O homem velho é o rei dos animais”.
(O Homem velho – Caetano Veloso )
Lais Amaral Jr. para CRIATIVOS!
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