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Foto do escritorPaula Sabbag

As crianças


Paula Sabbag

Gosto de observar as pessoas, algo que faço desde que me conheço por gente. E ir à praça próxima de onde moramos, eu minha filha Alice de 6 anos e nossa cadelinha Meg é sempre uma excelente oportunidade para passear e brincar e é claro, observar as pessoas, os animais, os acontecimentos. Mas nesta ocasião específica, minha atenção foi particularmente voltada às crianças. "Mãe, quero brincar com aquela menininha" disse minha filha. Eu respondi "Vá até lá e a chame para brincar". Ela foi. Logo depois, juntou-se as duas mais uma garotinha um pouco menor. E dali por diante, muitas brincadeiras e conversas aconteceram. E entre idas aos brinquedos do playground, pega pega ou na busca por pedrinhas para escrever no chão, as meninas animadas iniciaram uma conversa.

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"Como você chama?" "Júlia, e você?" "Eu chamo Alice." E qual é o seu nome? "Lilian." "Quantos anos você tem?" "Seis e você?" "Eu também, e você Lilian?" "Eu só tenho quatro anos." Foi nesse momento que minha filha disse "ah não tem problema, você pode ser nossa amiga, porque depois do quatro vem o cinco e depois do cinco já é o seis." Pronto, simples assim. Ali se formou um laço (duradouro ou temporário, ainda não sabemos) de seres humanos abertos e dispostos a estar com o outro no propósito de se divertir. E aí eu fiquei pensando: por quê será que ao ficarmos mais velhos perdemos essa maneira despretensiosa e natural de conhecer pessoas, essa facilidade em fazer "grandes" novos amigos de forma tão simples e dificilmente construímos relações com novas pessoas sem tantos entraves, desconfianças e julgamentos? Por quê deixamos a nossa rotina, a nossa pressa e a observação crítica em excesso tirar de nós a oportunidade de viver momentos simples com pessoas que ainda não conhecemos profundamente? É certo que as crianças em geral não fazem diferença umas das outras, obviamente não selecionam como nós, não julgam com a mesma intensidade e possuem uma ingenuidade que em outras circunstâncias pode até ser considerada perigosa. Mas se a total falta dessa mesma ingenuidade aliada ao desinteresse pelo outro nos levou para um caminho onde não somos sequer capazes de tirar cinco minutinhos para bater um papo com os vizinhos, de cumprimentar pessoas na rua, onde não conseguimos ter uma conversa agradável com alguém na praça, no consultório, no supermercado talvez haja algo de errado conosco.

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Ao voltarmos da praça, minha filha satisfeita, contabilizou mais duas amigas para a listinha de amigos que ela possui. E eu voltei para casa com as duas, contente em vê-la feliz, porém, sem nenhum novo amigo para contabilizar na minha listinha de amigos. Ah, as crianças. Que possamos sempre aprender com elas.


De Paula Sabbag para CRIATIVOS!


 

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