Atriz lança livro sobre o ‘Boca de Cena’, grupo de teatro que fez história no Sul Fluminense
Virgínia Dias Calaes é atriz e jornalista. Nasceu em Belo Horizonte, mas foi criada em Ouro Preto-MG, onde vivia sua família. É formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora-MG. Em sua carreira de atriz, conquistou o Prêmio de Melhor Atriz, no Festival Nacional de Teatro Amador, em Ponta Grossa-PA (1973) e no Festival Estadual de Teatro Jovem, em Niterói (1986).
Desde 1981 vive em Resende, onde trabalhou na imprensa local, tendo atuado como repórter e depois editora do centenário jornal A Lira, que circulou na cidade até o final do século XX. Foi assessora de comunicação do Comitê para Integração da Bacia Rio Paraíba do Sul – CEIVAP e da Associação Educacional Dom Bosco.
Integra a Academia Resendense de História desde sua fundação. É autora do livro Luz que não se apaga - a Trajetória de um Educador – biografia de Antônio Esteves, fundador das Faculdades Dom Bosco, publicada pela Associação Educacional Dom Bosco - Editora (AEDB), em 2004.
Na semana passada, dia 6, Virgínia fez o pré-lançamento do livro Boca de Cena – a trajetória bem-sucedida de um Grupo de Teatro do interior, evento para o mundo acadêmico, na AEDB. O livro, escrito em parceria com Maria Celina Whately fala do consagrado grupo que marcou época em Resende e região e é um capítulo importante na história da arte cênica no Sul Fluminense. O livro será lançado em noite de autógrafos no dia 28/11 das 18 horas às 21 horas no Espaço Z (antigo Mercado Municipal) em Resende.
CRIATIVOS - Virgínia, antes de falar do livro, gostaria que você comentasse sobre o teatro na atualidade. Você pode ser considerada uma testemunha da cena teatral regional, há pelo menos quatro décadas. O teatro mudou?
VIRGÍNIA CALAES - O teatro, essa arte milenar, que surgiu lá na Grécia antiga, não mudou. Continua resistindo bravamente, enfrentando a concorrência das novas tecnologias de informação/comunicação e das novas formas de expressão artística, nesses tempos atuais onde predomina o ambiente virtual/digital.
CRIATIVOS - A intensificação das comunicações entre as pessoas, hiperbolizado pela tecnologia com as redes sociais, na sua opinião interfere no teatro?
VIRGÍNIA CALAES - Por maior que seja o fascínio que os meios de comunicação audiovisuais exerçam sobre as pessoas, por mais que as pessoas hoje estejam “viciadas” na comunicação por internet, o teatro não sofre interferência, não perde seu público, pois tem uma característica que o distingue de todas as outras artes: a comunicação entre ator e espectador acontece direta e instantaneamente. O teatro não usa nenhum outro recurso que não seja o corpo e a voz do ator.
O teatro, para se realizar plenamente como arte, não necessita do aparato tecnológico cada vez mais sofisticado utilizado pelas outras formas de expressão artística. O ator está ali, cara a cara com o seu público. E o que acontece ali, no escurinho do teatro, é a comunhão entre ator e espectador. Artur da Távola disse isso de maneira muito bonita: “O ato de representar é um ato de comunhão entre ator, autor, personagem e espectador. O ator é o oficiante leigo dos rituais da comunhão humana”.
CRIATIVOS - Fale do grupo Boca de Cena e de sua relevância para o teatro e para atrizes e atores locais.
VIRGÍNIA CALAES - O Grupo Boca de Cena marcou época. Aplaudido pelo público e elogiado pela crítica especializada, venceu muitos Festivais de Teatro, chegando a ser considerado o melhor grupo de teatro amador do Estado do Rio. Diziam que éramos um grupo amador que fazia teatro com a qualidade de profissional. O Boca de Cena influenciou toda uma geração, na década de 1980, em Resende. Nossa trajetória bem sucedida estimulou jovens daquela época a também fazer teatro. Outros grupos teatrais surgiram, inspirados por nós. O Boca de Cena reunia pessoas de várias faixas etárias e diferentes profissões. Com exceção de quatro ou cinco pessoas, nenhum dos integrantes do Grupo tinha experiência como ator. Então o Boca de Cena funcionou, também, como uma escola para atores. Alguns adolescentes que participaram do Boca de Cena descobriram ali sua vocação de ator. E acabaram saindo de Resende para estudar teatro no Rio. Alguns até se profissionalizaram.
CRIATIVOS - Como surgiu a ideia de um livro sobre o Grupo Boca de Cena?
VIRGÍNIA CALAES - A ideia de escrever o livro sobre o Grupo Boca de Cena partiu da Celina Whately, atriz, jornalista e historiadora, que foi uma das fundadoras do Grupo. Ela me convidou para fazermos o trabalho juntas. E me convenceu da importância de se deixar registrado para as gerações futuras a experiência do Boca de Cena, acreditando que essa publicação poderia servir de estímulo a estudantes, professores e governantes, para o desenvolvimento da atividade teatral nas escolas e comunidades, com maior incentivo do poder público. Isso está dito na capa do livro. Fizemos juntas a pesquisa sobre o Boca de Cena nos nossos arquivos pessoais. Escrevemos a quatro mãos o primeiro capítulo. Mas, infelizmente, a Celina sofreu um problema sério de saúde. E eu tive que continuar a escrever e concluir o livro sozinha.
CRIATIVOS - Se o teatro, como as artes em geral, pode ser considerado a expressão de um contexto temporal, falando de seu tempo, que tipo de peça você gostaria de encenar nos dias de hoje: comédia, tragédia, discurso político ou o que?
VIRGÍNIA CALAES - Nos dias de hoje, eu gostaria de encenar uma comédia de costumes. É possível abordar, com humor (ou ironia?) questões sérias desse nosso mundo caótico – guerras, mudanças climáticas, desastres ambientais, fome, a psicopatia de certo ditador que subjuga o povo de certa nação, aqui pertinho de nós, etc, etc, etc... – e dessa forma atingir mais o público, do que se apresentássemos um dramalhão.
No cenário cultural e tecnológico atual, construir um polo de criação independente e de qualidade é uma missão inspiradora, especialmente quando comunidades culturais, artísticas, intelectuais e científicas se unem para transformar a dinâmica entre consumidores e produtores. Nesse campo, a ideia é que todos saiam de uma posição de consumidores passivos para se tornarem protagonistas ativos, gerando e expandindo novas vozes e narrativas. Esse movimento, ainda que desafiante, tem ganhado corpo por meio de iniciativas como as da Cedro Rosa Digital e seu sistema de certificação musical, além do portal CRIATIVOS!, que aposta no incentivo contínuo à produção local e global.
Imagine um espaço onde artistas, cientistas e pensadores possam não apenas compartilhar, mas também valorizar seus trabalhos em um ambiente que remunera corretamente suas criações.
A Cedro Rosa Digital, fundada por Antonio Galante, é uma das pioneiras em trazer esse conceito para a realidade. Com sua plataforma de certificação e distribuição, ela não só distribui obras musicais para um público diverso, como garante que os direitos autorais sejam preservados e que os criadores sejam compensados pelo uso de suas produções em projetos audiovisuais, comerciais e digitais.
Ao lado de parceiros institucionais como ASCAP, SACEM e ECAD, e em colaboração com entidades como a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e a EMBRAPII, a Cedro Rosa Digital desenvolve tecnologias de ponta, incluindo o sistema CERTIFICA SOM, para dar transparência e segurança à distribuição musical. Assim, a plataforma oferece um novo caminho para o artista, que passa a ser reconhecido não apenas no Brasil, mas também globalmente, fortalecendo o impacto do setor criativo na economia.
O portal CRIATIVOS!, por sua vez, vem atuando como um catalisador no fomento à diversidade cultural. Este site diário, que reúne escritores, cineastas, acadêmicos e criadores de todas as áreas, tem criado um espaço dinâmico onde o pensamento crítico e a inovação se encontram. A cada postagem, o portal não apenas divulga novas obras, mas também cria um ambiente de troca de ideias que incentiva a criação colaborativa.
Alta qualidade musical: Evandro Lima e Lais Amaral, na Cedro Rosa.
Um exemplo recente é a série de discussões sobre os benefícios do blockchain para o mercado cultural independente, tema amplamente explorado pelo portal. Em outra edição, foram apresentados novos talentos da música instrumental, promovendo obras que saem diretamente do catálogo da Cedro Rosa, como a faixa "Amendoim e Caviar", de Tuninho Galante e Marceu Vieira, que personifica a brasilidade contemporânea com estilo e humor.
Essas iniciativas são mais do que um impulso cultural; elas representam um passo crucial para a transformação da cultura e da tecnologia como instrumentos de inclusão e desenvolvimento. Quando a comunidade participa ativamente como produtora, a cidade passa a respirar essa energia criativa.
Essa visão é a aposta para o futuro: um polo onde arte, ciência e tecnologia se encontrem para moldar um cenário cultural que seja, ao mesmo tempo, independente e globalmente conectado.
Tendo participado dos primórdios do Boca de Cena nos anos 1980, e tendo vivido a delicia de contracenar com Celina e Vivi, é com um misto de prazer e orgulho que vejo surgir este registro de nossa história. Dia 18 estaremos lá!
Beijo carinhoso,
Marcus Vinicius