BALANÇANDO
Lembrava vagamente das aventuras do dia anterior. Uma mistura estimulante de samba, deslocamentos pela cidade, lugares diferentes, motel suspeito, boa companhia, boa comida, sustos e carinhos.
Tanta coisa que, ao abrir os olhos, estranhou que estivesse em casa, sozinha. O gato arranhava a porta por fora, com a habitual ansiedade. Uma conferida no relógio e a constatação de que o sábado já ia alto, quase entrando pela tarde. A quantidade de coisas acontecidas desde a saída do escritório no final da tarde de sexta parecia maior que tudo o que já se passara desde o início da pandemia, daquela vida terrível de home office e reuniões pelo Zoom.
O retorno ao escritório tinha sido meio melancólico. A pandemia fez estragos na equipe, perderam dois queridos para o vírus e uns três para a economia, que os obrigou aos famigerados cortes de custos, implacáveis e cruéis. Máscara, álcool em gel, distanciamento, duas doses de vacina, enfim, o pacote completo e o retorno sofrido, sem as brincadeiras de antes, sem os sorrisos abertos, sem as piadas de sempre. Mas aí veio dezembro.
Partido Alto! Ouça.
E quando chega dezembro, começa uma estranha onda de reaproximações. As pessoas começam a organizar festinhas, querem fazer sorteio de amigo oculto, bolão da mega da virada, convidam pro réveillon em Búzios na casa que alugaram com amigos. Mas pra Lise, nossa heroína, o clima não tava pra esse tipo de confraternização. Ninguém tinha sofrido mais do que ela as perdas no escritório. Os dois antigos sócios que o vírus levou tinham sido os responsáveis pela entrada dela na equipe, ainda como estagiária. Dentre os três desligados, dois eram amigos muito próximos. Aquele não parecia ser nem mais o seu lugar, o porto seguro de alegrias profissionais anteriores.
Tinha ido por acaso parar no direito internacional. Quando entrou na universidade, no curso de matemática, sonhava mesmo era com teoremas e axiomas. Concluiu o curso, deu aulas, fez mestrado e publicou trabalhos importantes, mas cursou a faculdade de direito por influência de um namorado. O amor faz coisas. E cega. A ponto de não perceber, a tempo, que o tal namorado era corrupto e reacionário num nível além do admissível, inclusive com suspeitas de remessas ilegais de dinheiro para o exterior, agenciamento de tráfico de pessoas, contrabando. Parece que trabalha no governo, hoje em dia. Sua vingança pessoal foi se especializar em direito internacional. Decidida e boa aluna, queria resolver as coisas do jeito certo.
Entre um estágio e outro, aulas de matemática e códigos de processo, foi parar no melhor escritório de direito internacional do Rio. Hoje, alguns anos depois, praticamente já abandonou a matemática profissionalmente e vivia, antes do vírus, numa corrida louca entre aeroportos e taxis, trocando de idioma algumas vezes a cada mês, mas feliz e realizada.
Sempre que estava no Rio dava aulas voluntárias de matemática aos jovens de uma comunidade próxima de casa, pra não perder o conhecimento adquirido a duras penas. E mantinha, por Pitágoras, uma admiração maior do que pela maioria dos grandes juristas.
Pois foi com os meninos do pré-Enem comunitário que aprendeu a mexer no aplicativo de paquera. Nunca tinha usado, mas quando falou da importância da matemática para o desenvolvimento de softwares, programação e essas coisas de informática, a meninada riu e sugeriu pra ela. Inicialmente achou uma besteira e nem chegou a usar. Mas vieram a pandemia, o isolamento e a tentação.
Resistiu bravamente por muito tempo. Nos perfis nunca há indicações claras de caráter e personalidade. O risco seria muito alto, acreditava. Passou sozinha pelo pior da pandemia. Mas também vieram o retorno ao escritório e o mês de dezembro, o segundo desde que o mundo parou.
Cansou de resistir. Mandou a melhor foto, caprichou no perfil e passou a escolher os pretendentes. Entre exibicionistas musculosos, yuppies que parecem vir de Wall Street e nerds amarelados, aquele festival de clichês, encontrou o cara com camiseta da Mangueira. Perfil despretensioso, nem feio nem bonito, sem muitos autoelogios, brinco na orelha. Arriscou.
Percorreram a Mangueira, o Salgueiro e a Portela na mesma noite!! O cara era ligado em 220v! Sambou de se acabar, passaram duas horas num motel em Madureira, mas antes de amanhecer estava num taxi rumo a um último galeto e ao seu apartamento, com direito a despedida fofa na portaria e juras de reencontro. Sentia que estava precisando de uma noite daquelas e fazia muito tempo. Descobriu até que ele também tem OAB. E é percussionista.
Não sabe se vai rolar mesmo. Não tem certeza. Um relacionamento, a essa altura, não é o que ela mais quer...
Mas aquele brinquinho da campanha do Lula de 2002 tá fazendo ela balançar.
Rio de Janeiro, dezembro de 2021.
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