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Bar doce lar. Lembranças da minha turma




Algumas crônicas que coloco aqui na revista digital Criativos, eu republico no meu Facebook onde costumo receber curtidas simpáticas. De gente amiga e sincera do meu atual universo de amizade no Sul Fluminense ou daqueles com quem vivi e não me encontro há anos - o que me debulha de saudades. E lá vão Ritinha e contemporâneos dos meus tempos de Vila Nova, o bairro da minha infância, ou Jorge Cardoso, Wálnio Pacheco, Marlos Degani, Mário Du Linho que representam um grande e diversificado time de jovens adultos que fomos. Gente de vida dupla. São poetas, músicos, atores. Artistas em áreas diversas, mas que, como qualquer super-herói, vivem profissionalmente sob identidades secretas no mundo dito, normal.

Pensando nesses últimos, faço uma viagem no tempo. Ao passado. Já falei mais de uma vez (e não me importo em repetir) que os estabelecimentos comerciais que mais me seduzem, são as livrarias e os botequins. Acho que os dois têm um encantamento em comum. Encontramos uma oferta variada e diversa em ambos os endereços. Há nesses ambientes motivos para rir, para refletir sobre a vida, nos indignarmos e, até acreditar que estamos aprendendo mais um pouco sobre tudo. E nos sentimos confortáveis, de estar entre os nossos. Que sejam copos ou livros, somos todos do mesmo time.


Eu fui numa época o responsável pelo 'fechamento' da edição diária de um jornal em Nova Iguaçu. Chegava na redação em torno das cinco da tarde e indagava. "Como estamos hoje?". Hábito grosseiro, admito. A demonstração de polidez civilizada seria um cumprimento. No mínimo um: "Boa tarde pessoal". Culpa da expectativa diária em relação ao andamento da edição. A resposta mágica era: "Hoje estamos adiantados". O que me enchia de alegria. Sinal que em cinco ou seis horas estaria livre para a noite. Para ir a algum bar. Quando a resposta era: "Hoje a coisa tá feia" ou algo similar, geralmente acompanhado de expressões desanimadoras, eu broxava. Era a certeza que o expediente daquele dia se encerraria lá pelas duas ou mais da manhã. Como estava em Nova Iguaçu e não em Nova Yorque, a possibilidade de achar um bar aberto nas proximidades de casa e, num dia de semana, era zero.


Não entendam mal. Eu gostava da labuta no jornalismo. É que o trabalho num diário incrustrado na Baixada Fluminense era pesado. Principalmente se tratando de um jornal popular, que disputava a venda nas bancas que, como de praxe, tinha nas manchetes de polícia, seu carro-chefe. Eu chegava e na minha mesa, já me aguardavam as fotos para a primeira página, a capa. Eu dividia a tarefa da escolha com o setorista de polícia e por vezes com o diagramador. Numa segunda-feira jazia na minha mesa as fotos de três rapazes, mortos, segundo as autoridades, por overdose de cocaína. Entre eles um conhecido meu. Sentado, meio derramado numa privada pública. Do braço esquerdo pendia a seringa presa à veia. Barra pesada, pessoal.


Não dava para sair do “fechamento” de uma edição pesada e ir pra casa dormir. Difícil. Era preciso evitar uma descompressão. E isso geralmente passava por um bar. Às vezes dava para marcar com alguma companhia feminina. E em alguns casos encontrava na própria rotina madrugada a dentro. Aconteciam experiências frustrantes também, como da vez que, na ausência de um bar aberto, fui parar numa casa noturna que anunciava um strip-tease. Na quase-penumbra, um casal, e o cavalheiro me olhando de forma intimidatória. E eu sequer olhara para sua companheira que, logo descobri, ser a estrela da noite. Ela subiu ao palco e foi tirando a roupa. Algo dantesco. Deu vontade de gritar: “Vista a roupa, mulher!”.


Mas geralmente as noites eram agradáveis, muitas delas no ‘Le Moustache’, um bar clássico, cujo proprietário, Jorge ‘Bigode’ abria espaço para poetas despejarem suas criações pela noite. Várias vezes me apresentei, sentado num tamborete, daqueles bem altos (eu invariavelmente também estava bem alto). E assim a noite seguia mais leve, mais humanizada.


Em criança eu tinha um sonho delirante, tipo meu pai me esquecer numa delicatessen que ele costumava ir, na Travessa Rosinda Martins. Me imaginava sozinho naquele paraíso de guloseimas até que a loja fosse aberta na manhã seguinte. Certa noite, no Le Moustache, meu sonho de criança aconteceu, meio às avessas. Eu me esqueci no bar. Acordei no escritório do estabelecimento, lá pelas nove da manhã, sem saber onde estava. Não lembrava de nada. Jorge me alojara no escritório. Deixou as portas encostadas. Sai meio sem graça olhando para os lados.


O Sol quente. Foi o dia em que o bar foi, literalmente, minha casa. Abraço ao Bigode e aos meus heróis contemporâneos.

“Toda hora alguém me chama pra beber Toda hora alguém me chama pra zoar Por que ninguém chama pra benzer? Por que ninguém me chama pra rezar?

Amigo eu nunca fiz bebendo leite Amigo eu não criei bebendo chá Eu sou da madrugada, me respeite Que eu sei a hora de ir trabalhar” (Toda Hora – Moacyr Luz/ Toninho Gerais)


 

Música de Bar e Boteco.*



 

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