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BISTURI DAS 11H30

Foto do escritor: Marlos DeganiMarlos Degani


Escrevo numa sexta última de janeiro aniversário do meu amigo e poeta Alcides Eloy autor de um dos poemas mais significativos já lidos pois não tenho quase nenhuma dúvida de que a simplicidade é o auge da sofisticação todos os paradoxos têm por conceituação própria algo de curioso ou interessante ou enigmático ou surpreendente que as teses acadêmicas devem explicar com precisão e não é diferente do que há entre a simplicidade/complexidade o fato de podermos ser tão simples tão econômicos tão necessários tão sarados tão exatos e num dado momento observamos as misturas desses fatores propondo complexidades alheias encaixamentos percepções descobertas pertencimento intelectual a determinado padrão social y otras cositas más e Eloy escreve “Minha caneta/Meu próprio bisturi/E assim/ Me disseco” o monitor aponta 9h23 do dia mesclado de várias cores de uma mesma paleta crua na abóbada de beginhos aqui e acolá cinzas de inúmeras gradações pequenos azuis pálidos raros esverdeados de contornos e dois diamantes violetas separados em oposição corre aquele vento temperado de bodega de armazém marrom vejo a praça com os bêbados quase felizes espalhados sob o vão dos bancos de alvenaria os experientes na parte coberta preparando o baralho para a sueca da manhã quando afastam o suicídio da rotina e a vida correndo naquele ritmo de balcão de botequim olha para um lado troca de cotovelo olha para o outro e assim partiremos as horas em nuvens ligeiras seria bom se o chefe não ignorasse a sexta ao pedir números e planilhas quer saber disso e aquilo um inferno ainda bem que deixo meu arquivinho sempre aberto e posso derramar minhas frustrações aos meus seis fiéis leitores cúmplices dessa jornada de leão diário para matar olho por olho poema por poema por mim colocava a cadeira na beira da praia de Santo Antônio um garrafão de água supergelada uma cuia com mate gelo e limão e beberia tereré durante a manhã inteirinha observando o ineditismo do céu o cirro ali que se desfaz a formação parecida com rosto a ondinha ousada à beira dos pés um suspiro um mirrole uma tragada na bomba da cuia outro suspiro um verso achado na areia e anotado no bloco de notas do telefone cada vez menos telefone musiquita no streaming bum volto à realidade da mesa do escritório do meu chefe gritando o meu nome e o cantinho marca 10h46 e estou com vontade danada de dar uns pitos no estacionamento atravesso a rua e paro no China a fim de pedir um café pago dois e cinquenta pego um varejo a chinesinha pergunta se é “Miriste” né o brasileiro tem de ser estudado mesmo que “Carlton” “Hollywood” e “Minister” tenham mudado de nomes para “Dunhill” “Lucky Strike” e “Rothmans” ainda são insistentemente chamados pelos nomes antigos pois ninguém será capaz de pronunciar uns palavrões desses o negócio é facilitar no caso do brasileiro facilitar até demais porque os alimentos por aqui andam caríssimos e o presidente mais perdido do que cego em tiroteio e as asneiras pululam em nossos ouvidos massacrados nacional e internacionalmente pelas palavras do grande super-herói moderno o mito o Rei de Midas diplomático o laranjão Donald Trump o homem que expulsará onze milhões de imigrantes a fórceps que chama o seu país de América que retomará o Canal do Panamá  a Groelândia e depois vestirá uma capa vermelha e voará explodindo os discordantes a turma LGBTQIAPN+ os latinos os pretos os índios e finalmente terá uma sociedade branca cristã fiel aos dogmas divinos da opressão e supremacia sobre qualquer outro povo desse planeta miserável pelo menos tem o Alcides fazendo aniversário temos de preparar o seu primeiro livro de poemas antes tarde do que nunca urge urgentemente Evoé Alcides Eloy e já são 11h20 no meu cantinho de plástico agora 11h21...


 

Escuta esse repertório! Playlist maravilhosa!





Música! Cedro Rosa.


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