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Foto do escritorLais Amaral Jr.

Casa da Pantera – Um bar. Um tempo.



Nessas minhas memórias informais e não autorizadas, falo de amigos, reproduzo “esbarrões” com celebridades (mesmo que essas celebridades nem tenham percebido esses contatos) e discorro sobre instituições que me são caras. Uma instituição a qual não consigo dissimular minha estima desmesurada são os botequins. Os bares. Até já tornei público que os dois estabelecimentos comerciais que mais frequento e curto, são bares e livrarias. Recentemente revisitei dois bares que há tempos não via, o Bracarense, no Leblon e o Bip-Bip, do saudoso e querido Alfredo (grande abraço ao Matias), em Copacabana. Adoro a livraria Folha Seca na Rua do Ouvidor. Infelizmente não tive tempo de ir lá nessa passagem pela Cidade Maravilhosa.


Artista da Baixada Fluminense, ouça aqui na Spotify.



Eu poderia falar de muitos bares que amo e ficaria muito à vontade, mas hoje vou falar de um reduto muito especial no qual eu conheci a realidade do outro lado do balcão. Foi a ‘Casa da Pantera’, dos amigos Luiz Carlos Fávaro e do saudoso Claudio Alexandre Paquelet de Barros, que partiu muito antes do combinado, há pouco mais de um par de anos. Lá pelo meado dos anos 1980 os dois resolveram ser donos de bar. Alugaram uma casa no centro de Nova Iguaçu e a transformaram. Como faltou um pouco de grana convidaram meu pai para a sociedade. Ele topou, mas com a condição de que eu fosse para o front e não ele. Os dois aceitaram e me comunicaram. Até então eu não sabia de nada. A possibilidade de ser dono de bar (delírio de muitos boêmios) mexeu comigo. Embarquei.


Naquela época, Nova Iguaçu reunia tribos de militantes de variados segmentos e manifestações ligadas às artes e à política. Poesia, teatro, música, literatura em geral, jornalismo, cine clubes. Exercitávamos uma espécie de resistência à má fama da Baixada Fluminense, estigmatizada pela violência que na realidade tem muito a ver com o desajuste social do país, o que conhecemos muito bem. Essa turma tinha em comum a simpatia por bares. ‘Casa Velha’, ‘Whiskeria’, ‘Ponto Chic’, ‘Bronca do Sol’, ‘Le Moustache’ e outros cujos nomes a memória dissolveu ou eram apenas sinceros e generosos botecos anônimos. A ‘Casa da Pantera’ (Pantera era o apelido do Cláudio) foi mais um desses portos boêmios.


Samba-Jazz e Chorinho, ouça nesta playlist da Spotify.


Quem por lá passasse esbarraria com essa gente inquieta e criativa a fazer suas resenhas ou performances. Fossem os poetas Dejair Esteves e Moduam Matos, que em dupla sacodiam o cenário da poesia declamada ou fossem outros bardos mais filosóficos como Jorge Cardoso, Eucanaã Ferraz, Victor Loureiro, Jorgina Martins, Maurição, Decy Ribeiro, Sonali Maria e outros. Entre o pessoal da música cito Roberto Lara, Wanderley Marins, Walnio Franco Pacheco, Tuninho Galante, Ely Oliveira. Nas artes plásticas destaques para Filipack, Ailton José, Pedroca. No teatro: Sylvio Monteiro, a hoje global Penhah, Luiz Washington, Celso Mosciaro, Luiz Pedreiro e uma trupe grande que mesclava jornalismo político e cultural, com escorregadelas pela literatura, teatro, fotografia e publicidade: Cristina Siqueira, Luís Ferrão, Adalberto e Albertinho Cantalice, Fátima Alves, Edu Cavalcante, Antônio Carlos Merath Reis, Tigu Guimarães, Jeania Maria, Silvia Regina, Gilda Boia, Suzi Gonçalves. Infelizmente devo ter deixado alguém de fora. E toda essa gente estava lá. Uns mais assíduos, nem sempre nas mesmas mesas, mas compondo o recheio luxuoso desse bar de convívio, conversas, arte e boemia.



A ‘Casa da Pantera’ existiu numa época de intensa efervescência que a cidade viveu. Eu não suportei mais do que dois meses no lado oposto do balcão. Sai da sociedade que continuou sendo tocada por Fávaro e Claudio, com a força do Ratão de garçom e do Alfredo, de minha mãe na cozinha a preparar os sopões de ervilha e de feijão e outros colaboradores. Eu passei a ser um frequentador. Mais um, das tribos. O bar fechou suas portas algum tempo depois. O que era doce se acabou. Eu me mudei para o sul do estado e, felizmente, os notívagos de hoje vagueiam por outros itinerários boêmios.

Café com Música, escute nesta playlist da Spotify.


Algumas décadas depois, quando o bar existia apenas na memória e no imaginário de alguns, me procura em Resende o Fábio Gomes Branco. Ele e uma turma bem legal, estavam produzindo um documentário em DVD sobre a ‘Casa da Pantera’, com apoio da Prefeitura de Nova Iguaçu. Me entrevistaram. Mais tarde Fábio me autografou um DVD. Gostei do produto final. Revi gente linda e viajei a um tempo em que vivíamos abraçados às utopias e caminhávamos por nossos sonhos cotidianos. O que era na verdade, o nosso cotidiano.

“Essa é a história do bar ‘Casa da Pantera’. Um lugar onde se reuniam artistas, produtores culturais e boêmios da Baixada Fluminense no início da década de 80. Figuras inesquecíveis varavam madrugadas no bar, embalados por muita poesia e rodas de violão. Neste clima de boemia, passaram pela ‘Pantera’ ilustres e desconhecidos. Este filme é uma homenagem a uma época, a uma geração iluminada em tempos obscuros, a um espaço cultural e boêmio. Este filme exalta a maravilhosa relação entre a boemia e arte” (Texto da contracapa do DVD ‘Casa da Pantera’/ direção, produção e pesquisa Fábio Branco).



 

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