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Foto do escritorLéo Viana

CERTEZAS…



Acordou cedo, sobressaltado e disposto a tomar uma decisão e uma cerveja. Logo cedo mesmo. Já havia tempo que precisava disso. Um tempo de muitas certezas e igual - ou maior – quantidade de desacertos. Refletiu um pouco, lavou o rosto, bebeu uma lata solitária de cerveja barata esquecida numa porta de geladeira, escovou os dentes e decidiu que o melhor que faria seria abdicar das certezas.


A formação, numa escola confessional conservadora, não tinha deixado margem pra dúvida. A religião não deixa margens pra dúvidas. Aos 30 anos, era um liberal econômico, católico e conservador nos costumes, cheio de certezas e dogmas. Mas veio a quebra das grandes companhias aéreas, símbolos de poder, status e riqueza. Deixaram de existir a Pan Am, a Varig, a Transbrasil, a Vasp. A solidez aparente desmanchou no ar sem trocadilho com aviação ou qualquer outra piada besta. Mais ou menos na mesma época, Mappin e Mesbla foram para o mundo dos mortos, provavelmente algum tipo de inferno do varejo, onde milhares de lojas parecidas disputam almas penadas consumidoras.


Com um pouco mais de atenção, viu saírem de circulação as Casas Sendas, as Casas da Banha, os supermercados Paes Mendonça e outros colossos. O mesmo destino que tiveram a Ultralar, as casas Garson, a Sears, a Brastel, a Bemoreira e a Ducal, essas duas últimas gigantes das roupas masculinas. Ao menos no Rio.

Eram aparentemente imortais, não davam sinais de que desapareceriam algum dia.


A lista dos gigantes falecidos incluía ainda bancos, as mais sólidas instituições do capitalismo, de repente tornadas voláteis pelo neoliberalismo de resultados imediatos. Assim, desapareceram não só bancos públicos, graças ao desprendimento do estado neoliberal, pra quem tudo deve ser privatizado, mesmo deixando órfãos os grandes programas sociais e pequenos negócios que eles deveriam financiar a juros baixos, mas também gigantes privados do porte do Nacional (aquele do guarda chuva…) e do Econômico (aquele da Bahia), inviabilizado apesar dos bilhões que movimentavam e que receberam de mão beijada do mesmo estado privatista para tentar sair do buraco em que voluntariamente haviam se enfiado.


Não há mais certezas mesmo. Não se consegue ver certeza no horizonte nem com óculos das Óticas Brasil, aquela da corujinha, que foi a maior rede de óticas do país e que teve também o triste destino do desaparecimento.


A economia não permitia certezas. Talvez a natureza fosse mais assertiva. Faz frio no inverno e calor no verão, há flores na primavera, os ipês amarelos dão aquele show… mas de onde veio esse calor infernal no meio do ano aqui abaixo do Equador, onde é inverno pelo calendário oficial? E essas chuvas enlouquecidas? O inverno não era seco? Até os ipês andam antecipando a floração, numa pressa quase inexplicável. Aquecimento global, transtorno climático, coisa de que não se falava há pouco tempo e agora é assunto recorrente e visível a olho nu, sensível a pele nua ou vestida. Há quem garanta que isso não existe. Coisa de quem tem muitas certezas. Mas nem a natureza garante mais nada.


Politicamente, o capitalismo não parecia ter paralelo possível. A ruina do projeto comunista do leste não colocou nada no lugar, mas o velho capitalismo de moldes americanos precisa a cada dia incorporar elementos de socialização de recursos, sob pena de não conseguir manter a estabilidade do sistema, frente à desocupação cada vez maior, à transferência (para leste!!!) dos grandes sistemas produtores de bens de consumo, à demanda menor por mentes e corpos, em decorrência direta da inteligência artificial e das tecnologias de produção, atendimento e outras antigas atividades humanas. O mesmo capitalismo que tentou a todo custo - e conseguiu - acabar com o estado de bem estar da Europa ocidental, agora toma injeções de socialismo pra poder se manter de pé. E os africanos atravessam o Mediterrâneo com fome e sede de água, de comida e de uma pretensa liberdade. A mesma que os europeus lhes roubaram nos diversos e dramáticos períodos coloniais pelos quais passaram.


Nem quis pensar nas mudanças de costumes. Os liberais econômicos se tornaram conservadores, talibãs do cristianismo em resposta aos fundamentalistas do Islã, tão equivocados quanto.

As certezas acabaram. Bastou meia hora de reflexão.

Voltou a dormir.

E o sono, agora, pareceu mais profundo e tranquilo!!


Ao meio dia estava bem melhor.

Ou não.


Não tem mais certeza de nada!



Rio de Janeiro, setembro de 2023.

 

Economia Criativa e Cultura


Quem foi que inventou o Brasil, Franklin Martins explica.


A Economia Criativa é uma força que muitas vezes passa despercebida, mas que está presente em nossas vidas diárias, influenciando nossas escolhas. Seja ao apreciar música, consumir notícias em jornais ou revistas, ler essa publicação aqui e agora, degustar petiscos e pratos típicos, ouvir rádio, assistir à televisão ou explorar a internet, estamos, de fato, participando dela, mesmo que nem todos tenham conhecimento disso. Este setor desempenha um papel vital na economia, contribuindo com cerca de 3% do PIB tanto no Brasil quanto em países líderes globais.


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