Chega
Depois que vi o Meme transformando aquele cara que parece uma lesma num super-herói, minhas restrições a esta cultura se multiplicaram em ordem exponencial. Como disse Edgar Duvivier em resposta a um conhecido de quem divergiu, e falou a respeito de Musk: “Os americanos estão acostumados a verem gente lamber as botas deles. Mas botar aquela merda de herói beira o desespero”.
Morri de rir da expressão “beira o desespero” porque achei não só generoso, como a cara do Edgar. É muito pior que desespero. É a sublimação do amor e até da sexualidade no dinheiro. Esta cultura sempre foi chamada de materialista, e materialista vai ficando mais e mais a passos gigantes. Pois antes, o materialismo podia estar inscrito nessa sede pragmática de estar sempre querendo encontrar o melhor objeto para nos servir nisso ou naquilo. E desse mercado gigante para esses objetos, os Estados Unidos desenvolveu mais e mais as suas proezas industriais. Mas agora, essa busca pelo objeto, que já tinha virado, nas palavras de Camille Paglia, o paganismo de transformá-los em entidades a ser adoradas, tomou segundo lugar ao puro e simples deslumbramento com os dólares, a um quase que fetiche pela posse do dinheiro. Já nem sei mais se a adoração por esse dinheiro vem da sede do poder e suborno que os ricos ganham cada vez mais, ou se é esta que resulta da adoração ao ‘vil metal’.
Afinal, a lenda do Rei Midas, como qualquer outra lenda grega, não é atoa. Diz em outras palavras, o que falei: O tesão pela riqueza, ou pelo que o dinheiro proporciona, se passou pro próprio dinheiro, assim como Midas, que com o seu amor ao ouro, desvalorizou tudo que poderia conseguir ate por meio do próprio ouro e não pôde mais comer.
Esta lenda também tenta ensinar, com uma frase cujo significado é tão obvio que nem precisaria ser dita, os que tem esse tesão distorcido que se foca na gratificação imediata de ganhar dinheiro `a custa da exaustão do planeta: “Não se come dinheiro”.
Volto a insistir que, ao invés do desespero que Edgar falou, eleger aquele imbecil como super-herói vem da projeção dos piores aspectos, na linguagem Junguiana, da ‘sombra’, disso que a própria pessoa esconde de si mesma. Projeções do desejo de potência sexual, da excitação com a sordidez no mal uso dinheiro, e da fraqueza, essa característica que distancia qualquer pessoa do seu compromisso de ser humano. Ainda pior, do gosto em sentir-se humilhado, que é mais comum do que se imagina. A fraqueza insinua que é melhor, mais fácil, e mais preguiçoso ficar do lado dos ricos, e paparicá-los. Aliás, eles adoram isso, sempre foram acostumados `a bajulação e na sua cegueira acham que esse comportamento pusilânime lhes presta homenagem, “pobres” coitados. E o motivo dos que gostam de se sentir humilhados é no fundo saberem que não prestam.
Graças a Deus, eu tive minha boa dose de Scott Fitzgerald, que tanto amou a Beleza e tanto soube reconhecer a mancha do compromisso desta (na criação artificial) com o dinheiro. Tanto Fitzgerald se condenou e tanto encheu a cara, que falou, em texto autobiográfico: “Only drunk, Anthony could believe that Beauty was some sort of truth.” (Só bêbado, Anthony podia acreditar que a Beleza é um tipo de verdade). Fora da bebedeira, pobre Anthony era um esteta super-requintado, mas não podia se absolver de andar entre os ricos para apreciar o belo, e a dimensão ritualística das boas maneiras, do requinte.
O lindo livro em que Fitzgerald vinga-se de todos esses ricos é o Great Gatsby, quando o autor realmente expressa a crueldade deles. Ao opor a capacidade de Jay Gatsby ter feito tudo que fez (mesmo o que parece ter sido desonesto) por amor à Daisy, enquanto ela se casou com um milionário por conveniência e veio a ter um caso com Gatsby ao mesmo tempo em que o marido a traia com outra. Mas quando Gastby foi assassinado devido a um engano, ela e o tal marido deram o fora, e, como diz o escritor “foram ser ricos junto com outros ricos em outros lugares e deixar que outros limpem a bagunça que fizeram”. Foram ser ricos na puta que os pariu, para usar uma linguagem `a altura de sua venalidade.
Num de seus contos, Fitzgerald também denuncia os ricos como “spoiled by life” (mimados pela vida). Na época em que li isso, eu até então não generalizava ninguém, mas vim a me dar conta de que o escritor tristemente tinha razão. Devido ao meu individualismo exacerbado e quase delinquente na sua dimensão não social, ainda pensei que nem todos eram assim, afinal. Certo que Proust era rico e se revelou a pessoa mais profunda, disciplinada, corajosa e tenaz que se pode imaginar. Foi cronicamente doente, e de “mimado” não tinha nada. Mas Proust é tão único quanto humilde e inteligente. Afora isso, até uma certa época, ainda se considerava a promoção da cultura e da arte como atributo positivo dos que são ricos.
A aristocracia as promovia, e embora nos comentários proustianos esta não tivesse capacidade de apreciar nada com profundidade, se mantinha aquela aparência. A riqueza então ainda permitia o que chamei de dimensão ritualística, o prestar homenagem `a excelência do que é invisível, materialmente desnecessário, e além da sobrevivência. Chaplin, como Carlitos, é magnifico sendo um vagabundo que na própria pobreza mantem o requinte, como na refeição que oferece `a prostituta por quem se apaixonou, dentro de um barraco caindo aos pedaços e no meio da neve, na “Corrida do Ouro”. Mas o vagabundo não trabalha; prefere a pobreza a ter que “se vender” `a sobrevivência, posição tão digna quanto idealizada.
Pois enquanto a pessoa só pode fazer tudo para conseguir pagar as contas que a permitem satisfazer suas necessidades físicas, ela leva uma vida atropelada e sem tempo para honrar o invisível, o que alimenta a sua alma. Este alimento está por exemplo na honra que os ingleses sentem em serem súditos de uma rainha ou de um rei. Ou no gosto com que se toma chá numa xicara adequada ao invés de num copo de papel descartável. A bebida é a mesma, mas os pragmáticos americanos, que segundo Oscar Wilde, o qual ficou nos melhores hotéis quando veio aos Estados Unidos, eles só lhe serviram chá em canecas, e Wilde só teve ocasião de bebê-lo numa xicara digna no China Town em São Francisco. Isso deve ter contribuído para o poeta dizer que os Estados Unidos representam a única cultura que passou do barbarismo `a decadência sem o intermédio da civilização.
Graças a isso, os números gordos das fortunas são escrachados nas revistas absurdas que enumeram os mais ricos dizendo o quanto eles “valem” em dólares- fato grotesco e óbvio do mercenarismo para com o valor da vida, da crença prostituta de que tudo tem preço. A sordidez da covardia e a baixeza da vulgaridade tomam conta do mundo. E foda-se pra maioria, que prefere o fácil ao difícil!
Como disse Edgar, “Antes, a riqueza vinha com requinte. Hoje vem com baixaria.”
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