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COMIDAS




Atravessou a rua sem olhar para os lados. A sensação de liberdade era infinita. Algo como comer doce logo após escovar os dentes ou comer camarão até não aguentar mais, o que aquela maldita alergia a impedía de fazer desde criança, quando descobriu, simultaneamente, o gosto sensacional e a hipersensibilidade. A terceira descoberta foi o cheiro de hospital. Foram os primeiros cinco dias de internação. Das diversas internações que a colocaram à beira da morte muitas vezes. 


Nunca mais pôs um camarão na boca e os contatos, mesmo indiretos, foram sempre traumáticos. Fosse uma panela usada ou um peixe que tivesse tido contato com o crustáceo. Certa ocasião, um beijo de fim de noite num desconhecido quase termina em tragédia. Ele não avisou do risole que tinha comido um pouco antes. Nunca mais beijou desconhecidos.


Não bastasse o camarão, sofria com outras alergias e com uma rinite ativada pelo frio.Sofria pouco ao ar livre no Rio, onde frio é coisa rara, mas os ambientes em geral são fortemente refrigerados. Ia diariamente de Bangu ao Alasca só cruzando a porta do colégio, da faculdade, do trabalho. 


Vida dura. Limitações diversas, de natureza variada. E acasos, invariavelmente nefastos, que insistiam em acompanhar seus passos. Um atropelamento aqui, um choque  elétrico ali, uma queda improvável. Muito osso emendado, cicatrizes de formatos e cores a escolher. 

Apesar disso, fez carreira bonita. Ao menos até descobrir a intolerância a lactose. Era incompatível com a condição de sommelier de queijos. Não desistia fácil de seus projetos, ainda que o tamanho das limitações se agravasse a cada dia. O paladar apuradopermitiu uma rápida adaptação ao mercado de pães e farináceos, que só durou até que a intolerância a glúten se manifestasse.


Nem chegou a tentar os vinhos. Sempre teve dificuldade com bebida alcoólica. O café também não era uma possibilidade. A cafeína tinha ação terrível naquele organismo frágil. Os médicos e nutricionistas desde cedo tinham instruído os pais da Lili a não oferecerem café à pequena. 

O conjunto das restrições era grande e a Lili era persistente. Resiliente, como se diz hoje.

Mas houve um momento em que desistiu. Preparou pra si, como último ato, um banquete que incluía camarão, queijo e pães. A vida não tinha sentido sem essas coisas. Escolheu a dedo os melhores vinhos e se trancou em casa. Morreria sozinha e feliz.


Antes, atravessaria a rua pra buscar uns temperos na delicatessen vizinha. Foi sem medo, era quase o último ato...


Acordou com a buzina do carro. O pesadelo tinha durado muito mais que os sonhos que tinha normalmente.


E podia comer à vontade. Jamais teve restrição alimentar na vida. 

De qualquer forma, tinha decidido nunca mais ir dormir com fome. Ao menos não voluntariamente. 


E trocar de nutricionista. A que tinha escolhido na rede social fotografava melhor do que orientava cardápios...

Prometía sonhos horríveis!

 

Rio de Janeiro, junho de 2024.


 

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