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COPO(EMA)

Foto do escritor: Marlos DeganiMarlos Degani


A mente neurastênica me ensinou a ser sempre rápido ligeiro a jato supersonicamente superficial  a arremessar os olhos fugidios sobre as coisas a não saber nomes da maioria dos vizinhos a não reparar na reforma da casa do outro lado a antecipar o futuro que nunca chegava e a voar voos cintilantes sobre canções em inglês não entendidas da Mundial AM 860 Khz no radinho de madeira do quarto escuro calorento ensinou também onde fica o botão do foda-se feito se fosse recurso natural quando está feito está feito vambora atrás vem gente andar por cima enxergar restrito à primeira camada ignorar as dores e os conflitos alheios até os dos próximos enxergar um mundo de dentro do umbigo ver os objetivos supérfluos da marca de roupa que não tinha do tênis impossível dos discos que eu não podia comprar das namoradas que eu não podia namorar da casa modesta do banho frio da geladeira vazia dos cenários criados para escapar da realidade dos arquétipos financeiros da pose da mentira da manipulação da empáfia da ignorância y otras cositas más hoje na vinda ao trabalho e na rua onde moro há 50 anos entre idas e vindas de casamentos observei pela primeiríssima vez uma casa vizinha distante 100 metros tem as mesmas pedras de ornamentação que têm na minha exatamente as cores espessuras modos de fixação tudo igualzinho e pensei na longínqua época em que foram feitas ou o primeiro dono da minha casa conversou com o dono dessa e aproveitaram a promoção de pedras na cidade ou contrataram o mesmo profissional que comprou as pedras idênticas para as duas obras e fiquei quase estatelado olhando este muro e imaginando como deve ter sido as conversas as combinações naquela rua ainda sem asfalto numa Nova Iguaçu provinciana como é até hoje disfarçadamente de dois lados sem grandes edifícios das charretes creiam se puderem ainda passam ali e venho observando esta desaceleração constante desde que resolvi definitivamente escrever poemas pois foi a poesia que teve o poder de frear o corpo acelerando a alma não há como escrever nada decente com pressa e sem observação e por isso tenho muitos problemas com os meus poemas do passado recentes ou não parecem escritos por outra pessoa agonia dos diabos e é curioso nas raras oportunidades em que compus um poema razoável ele é atemporal não sinto a necessidade de mexer e penso que se este sentimento de mudança vem é porque o poema não era bom o suficiente para manter-se daquela forma resolvida até o fim dos tempos mas sempre falta um detalhe um verso a ser reescrito um pensamento absolutamente mais simples do que o anteriormente grafado uma solução menos gordurosa uma imagem menos alegórica e a serviço da fatura a busca obsessiva pelo estritamente necessário pelo cirurgicamente indispensável e chegar ao formato do objeto poemático que refletirá a sua ourivesaria única a sua digital e torná-lo a água que matará toda a sua sede do agora quiçá a do leitor apenas naquele único copo(ema) cito outra vez o meu mestre Ivan Junqueira que conseguiu dominar o ego o umbigo e as perfumarias da vida para exercer o seu ofício sem a pressa das armas de fogo e com a precisão das lâminas lapidadas a partir do damasco da disciplina e ele disse “O que publiquei como poeta foi sempre pouco. Faltaram-me fôlego e talento para mais...” pouco justamente porque refletido apurado vigiado e certamente não faltarão aqueles falastrões e suas idiossincrasias usuais vale a emoção o colostro do poema-momento e mexer nessa “santidade” é crime inafiançável deixa pra lá eles que se entendam com suas neurastenias pois já tenho em excesso e quer saber estou pensando seriamente em me mudar para os USA e morar numa sociedade macha num país macho que pretende machamente invadir territórios vizinhos e ser liderado pelo Ruivão macho modelo de presidente supermacho de tão ignorante correndo atrás do próprio rabo e precisa de legiões de garis a fim de limpar o rastro de bosta no rastro de seu caminho de macho.


 

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Foto de Cristina Borges / Bahia


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