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Foto do escritorLucia Capanema

Crônica de um diálogo (im)provável no Brasil do século XXI



Duas mulheres se olham entre a sala e a copa de casa:

-Filha, não está na hora de você pensar em namorar sério?

-Pra que?

- Ô, Lu, pra casar, ter filhos, ser feliz.

- Como assim, mãe? Ser feliz vai depender de casar e ter filhos?

-Claro, minha filha! Cadê aquele rapaz que anda te ligando?

-Tá por aí...

- Por aí como? Você vai deixar escapar um “partidão” desses? Você está jogando sua felicidade fora!

- “Partidão”... que isso?


- Ora, um “partidão”... Um rapaz que já tem emprego, terminando a faculdade, família boa...

- (entre risos...) Então eu também sou uma “partidona”?

-Ah, minha filha... é diferente... Ele ainda não te propôs namoro sério, deixou escapar alguma coisa sobre vontade de casar, ter filhos?

- Ele disse que está apaixonado, que me ama...

- Que maravilha, Lu! E o que você respondeu? 

- Nada, ué. Parecia que ele tava ali me oferecendo a última bolacha do pacote, que eu devia curtir muito... tipo agradecer! 


- Ai, minha Nossa Senhora! Não existe presente maior para uma mulher do que um homem apaixonado!

- Porque, mãe?

- Porque aí ela vai ter um lugar no mundo, vai ser reconhecida por um homem que vai levar ela pro altar, vai garantir pra ela um lugar na sociedade.

- Socorro, mamãe. Falando assim pra gente, o Arthur vai ficar com o ego super inflado enquanto eu e a Clarinha vamos ficar com a autoestima lá embaixo! É essa a ideia de vocês? Domesticar a gente como a vovó fez com você? E deixar os meninos achando que são o máximo só porque são homens? 


- Filha, solteirona e encalhada não tem autoestima que segure... 

- Puxa, mãe! Eu pensei que você tinha ficado feliz igual eu quando eu passei no concurso do tribunal...

- Olha, vou te falar de coração: não há felicidade maior que subir no altar, ter filhos, ser mãe.

- Altar de novo? A senhora tá dizendo que precisa casar de véu e grinalda, igreja, essas coisas?

- Claro! Pois eu e seu pai não estamos juntando as economias há anos pra festa? Uma grande celebração, filha, no dia que toda a cidade vai ver você sendo escolhida por um homem que vai fazer de você uma mulher de respeito. E, lógico, depois mais ainda quando você tiver filhos.

- Mas eu só vou ter respeito na cidade se eu for casada e mãe? 

- As coisas são mais ou menos assim, filha... essas mulheres que não têm filhos valem muito menos! 


- Mas, mãe, então a gente fica igual vaca e égua, que valem pelas crias que dão? Eu vou valer menos sem homem e sem filhos?

- Ai, filha, tenha dó, para de comparar. Arruma logo um rapaz que possa ser seu esteio, sua segurança... que te dê um sobrenome, um lugar na sociedade. Você tem sorte. No tempo da minha avó, os pais escolhiam o noivo e a noiva, eles nem precisavam se conhecer... já no meu tempo, os pais tinham que aprovar de qualquer maneira. 


- Se for por aí, no tempo da bisa as mulheres eram praticamente vendidas como troco de um negócio maior. Não tinha dote pra fechar o negócio? Daí as famílias garantiam seu patrimônio com um matrimônio... Engraçado essa coisa do “m” e do “p”, né?  Tava todo mundo de olho no “p”, mas a garantia vinha do “m”. Num negócio que a mulher entrava sonhando com o amor e ficava o resto da vida escravizada. Era o tal do ‘amor romântico”... Bem pensado, né?

- Minha filha, não reclama nem fica complicando. Precisa ser mais romântica, sim!

- Ah... mãe! Ser romântica pra ser esposa fiel e dedicada, obediente ao marido... Enquanto ele é livre pra fazer o que bem entender! Esse tempo passou, falei? 


- Passou nada, Lu. Só na sua cabecinha rebelde feminista... todas minhas amigas estão aí, casadinhas à moda antiga; as filhas delas também, a maioria doida pra casar.

- E quem vai entrar com o dote? (solta uma gargalhada) Ou elas mesmas é que vão pagar o velho dote em suaves prestações pela vida toda... igual às mães delas, tudo pagando pra ter homem em casa???  É isso que eu não quero, mamãe. Eu nem sei se quero namorar, casar, ser mãe. Do jeito que você fala é bizarro... não quero esse amor romântico, ‘onde’ a mulher banca o cara pra acreditar que é amada. Pra mim, talvez um encontro que cresce com o tempo, pros dois ou as duas ao mesmo tempo, sei lá... 


Luana segue no trabalho em grupo pelo chat enquanto Rosângela vai se arrumar para ir ao shopping com a Janice e a Márcia. Afinal, ninguém é de ferro... Um presentinho pra si mesma de vez em quando não custa nada.


E, pra falar a verdade, tem hora que nem o Rivotril segura, tem que comprar uma coisinha pra alegrar a vida... 

 


 

Cedro Rosa: Inovação na Arte e Cultura através da Certificação Internacional



A Cedro Rosa Digital se destaca como um polo de inovação no campo da arte, cultura e economia criativa, especialmente na certificação e distribuição de obras e gravações musicais.


Por meio de sua plataforma digital, que vai incorporar inteligência artificial e blockchain, a Cedro Rosa garante que compositores, produtores e bandas de diferentes partes do mundo recebam royalties de maneira justa e eficaz, abrangendo o mercado internacional.


Essa tecnologia de ponta não só protege os direitos autorais como também facilita a sincronização de músicas em projetos audiovisuais, permitindo que a criação independente floresça globalmente.



No campo da música, a Cedro Rosa tem produzido e distribuído uma série de discos, filmes e séries que destacam a riqueza da cultura brasileira. Entre os projetos, incluem-se o filme "Partideiros" e a minissérie "História da Música Brasileira na Era das Gravações", que preservam e celebram a herança musical do Brasil.


Além disso, o portal CRIATIVOS! (www.criativos.blog.br) se consolida há quatro anos como uma plataforma essencial para o pensamento crítico e criativo, reunindo artigos de alguns dos principais nomes da cultura independente brasileira, como intelectuais, cineastas e jornalistas. Com atualizações diárias, o portal fortalece a conexão entre arte, cultura e economia criativa no Brasil e no mundo.


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