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Foto do escritorEleonora Duvivier

De Pássaro a Espírito



Estava no quintal com os dois cachorros, Nala e Bowie, para que eles fizessem seu pipi e coco enquanto eu fumava um charutinho. Bowie sabe que foi feito para ser mimado. Pertence `a raça Cavalier King Charles, que ganhou esse nome porque um dos reis Charles da Inglaterra não ia para lugar nenhum sem a companhia desses cachorros. Bowie é super mimoso ao mesmo tempo que se pensa caçador. Quando caminho com ele pela vizinhança, tenta abocanhar tudo que é menor que ele, de formigas e borboletas a esquilos. Nesses momentos, eu o freio com a coleira. Mas como o quintal é fechado, ele e Nala podiam ficar soltos.

“Quando vão fazer o que tem que fazer?” perguntava-me enquanto fumava.


Num dado momento em que Bowie fuçava à volta de uma arvore, um passarinho se ergue dali num voo rasteiro de filhote que o levou até o canteiro do outro lado, onde ele se escondeu sob um emaranhado de arbustos perto da cerca. Bowie é superveloz, tem coluna flexível e pula como um coelho. Rapidamente alcançou o ponto em que estava o passarinho e eu o vi enfiar o focinho nos arbustos. Sentada no chão, Nala só fazia assistir. Numa fração de segundos, me encontrei com o coração na mão, no local onde Bowie xereteava o verde que cobria o passarinho.


Imaginava ter que libertar o filhote dos dentes caninos ou vê-lo sangrando na terra. Já me via correndo para a emergência veterinária, segurando nas mãos a agonia da inocência e até vendo o bichinho se extinguir antes de alcançar socorro. Naquele instante, vivi séculos de sofrimento e no momento definitivo tive que respirar fundo antes de agarrar Bowie pelas costas e suspendê-lo. O pássaro, que era um Robin, tinha ainda as asas semiabertas, os olhos assustados, e na entrega do desespero, se encontrava deitado de lado entre a cerca e os arbustos. Uma de suas asas estava mais aberta que a outra e me fez temer que Bowie a tivesse quebrado, mas não vendo resquícios de sangue e nem ouvindo pios de dor, libertei a mão direita para envolver o pequeno pássaro e o levantei dali, segurando Bowie com a outra mão e o mantendo restrito sob meu braço.


Entre meu cão num lado e o passarinho assustado no outro, determinação aqui e pensamento de fuga para ali, ferocidade sob a mão esquerda e medo sobre a direita, eu me rasgava em duas para que os dois animais permanecessem afastados. Foi então que vi outros Robins pousando na cerca e acompanhando o que se passava como se fossem a família do passarinho. Um deles olhou para mim fixamente, sua cabecinha cor de terracota realçando os dois pontinhos de luz em seus olhos, cujo brilho cintilante expressava a profundeza de seu ser e a altura do céu sobre si, lançando-se retilíneo, determinado, e intenso em meu coração. Eram os olhos que misturavam a ansiedade da espera e a benção da esperança que só uma mãe pode ter. Sob um halo do sol poente, a gratidão dourada da mãe do passarinho se refletia na languidez da despedida daquela tarde, iluminando e celebrando o resgate de seu filhote. Vi tudo muito rápido tendo que continuar contendo Bowie que se esperneava no canteiro e me esticar um pouco mais para colocar o pássaro salvo na cerca.


No simbolismo psicológico, pássaros representam espírito. No contexto biológico, eles são vistos ou como presas ou como predadores, e no utilitarismo da sobrevivência, ou são animais comestíveis ou dispensáveis. Mas o que senti ao salvar aquele Robin entre seres e elementos da natureza conspirando a seu favor foi, mais do que alívio, liberação.


Predador ou presa, animal ou símbolo, o pássaro que salvei também me salvou.


 

Arte, Cultura, Economia Criativa


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