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DESEQUILÍBRIO 



O Félix nunca tinha feito um balanço da vida. Por um momento, questionado pelaSarinha, sempre inquieta e impaciente, refletiu sobre isso. Mas com a fleuma de sempre. Era fleumático. Não era dado a grandes emoções. Não gostava de futebol, não era musical, não tinha vivido paixões avassaladoras.


Criança ainda, era das que brincavam pouco, não exercia qualquer liderança sobre as outras e nem chamava a atenção por algum talento especial. Nem bom nem ruim, quase um figurante por onde passava. E daqueles de cenas de multidão.


A Sarinha foi a luz que quase tardiamente deu um pouco de brilho à opacidade do Félix. Ele levou a vida desapaixonadamente. Era querido pelos pais, mas estes já tinham partido, sempre preocupados, claro, com o filho quase invisível . A Sarinha, filha bem mais nova de uma vizinha querida, nem estava nos planos dos velhos para “salvar” o Félix da previsível solidão na velhice, mas quando ela se dispôs a ajudar na casa, apesar das responsabilidades que já tinha com seus próprios pais, a faculdade e uma incipiente e despreocupada carreira de cantora de samba, os pais do Félix vibraram.


A Sarinha era um farol. Um “azougue”, como eles diziam. Estava sempre com algum projeto em mente e parecia fazer o dia durar uma semana. Sempre arrumava tempo pra um projeto novo, sem abrir mão dos anteriores. E era bem sucedida em quase todos. Gostava da ideia de inspirar pessoas a fazerem o máximo. Sempre trabalhou mais por realização pessoal que por dinheiro, mas era de uma felicidade contagiante. 


Desde criança tinha sido assim, colaborativa, presente, interativa , inteligente e disposta. O avesso do Félix. E com trinta anos menos. A mais querida do prédio, desejo declarado de nora para pais de meninos e meninas da sua geração. Aos 25, quando se preparava pra colar grau na faculdade de odontologia, curso que exigia muitas horas de um dia já  normalmente atribulado, a Sarinha resolveu que cuidaria do casal de vizinhos octogenários, vizinhos de porta.


Os filhos viviam longe, à  exceção do Félix, que era o mais novo, meio tímido e discreto, aparentemente meio sem iniciativa também. Percebeu isso quando viu o casal de velhinhos chegando com pesadas bolsas de supermercado pela calçada. O mercado era relativamente longe e a saúde do casal não parecia permitir esse grau de exercício.


Questionados por ela, disseram algo sobre o Félix, que não lhes tinha disponibilizado um aplicativo de transporte. O Félix era tratador de animais no JockeyClub. No final do nível médio, convencido de que não tinha nenhuma vocação especial, decidiu não cursar a universidade. Os pais não se desesperaram, mas acharam que fosse uma opção passageira. 


Com o passar do tempo e sem que ele manifestasse qualquer intenção de se profissionalizar em nenhuma atividade, o pai, veterinário aposentado, conseguiu que um amigo o levasse para conhecer o trabalho com os cavalos de corrida. Imaginava que o contato o inspirasse a cursar veterinária, por exemplo. Seria um orgulho adicional pra o pai, apaixonado pela profissão. Félix foi sem compromisso, não se encantou, mas os cavalos pareceram reagir bem à sua presença. Acabou empregado.


O convívio na casa melhorou muito com a chegada da Sarinha. Ela passava todos os dias de manhã e à noite, nem que fosse por poucos minutos. E entre estágios e disciplinas, criou uma rotina saudável na casa. O Félix percebeu, mas não era de reagir. A Sarinha, no entanto, forçou uma aproximação. Queria entender o nível de alheamentodo filho do casal por quem tinha, ela, muito carinho. Na ocasião, com 55 anos, o Félix parecia tão velho quanto seus pais.


O estudo do personagem não revelou grandes segredos, mas criou uma aura ainda maior de mistério. Uma vida inteira sem projetos, sem ideias, sem paixões? Isso não cabia na cabeça da Sarinha. E o inusitado virou paixão. Talvez de estudos, mas ainda assim paixão. Por absoluta insistência dela, chocaram o prédio e os conhecidos ao aparecerem de mãos dadas numa festa no playground


O tempo passou. Os pais do Félix se foram. Ele tem 70 anos e se aposentou do trabalho no Jockey. Sarinha é uma bem sucedida dentista recém entrada nos  quarenta, vida e carreira pela frente.

Ele passa os dias em casa. Sarinha sugeriu um balanço da vida. Ele está pensando a respeito. Talvez não haja muito a analisar.


Segue sem grandes paixões. Gosta da Sarinha, que o mima com presentes, fins de semana na Serra e carinho. 

Entre as reflexões rasas, pensa que ela talvez merecesse alguém melhor que ele. 

Ela decidiu tirar férias de hospitais e consultório e conseguiu, com amigos, a chance de cantar no exterior. O Félix resolveu, após insistentes pedidos, tirar o passaporte e acompanhá-la num giro pela Europa.


O balanço da vida vai ficar pra quando voltarem da viagem. 

Acha que pode dar um colorido pra uma vida tão cinzenta.


E a Sarinha, dizem amigos de todas as crenças, deve estar pagando alguma penitência de outra vida.


Pelo menos ela se mantém ocupada...

 

Rio de Janeiro, junho de 2024.

 


 

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