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Foto do escritorLais Amaral Jr.

Dia desses almocei com um personagem da nossa MPB




A história começa em São Paulo, na metade de 1960, início dos anos de chumbo e, olhando pelo lado bom, naquela década que mexeria com o mundo e com as nossas vidas. Um jovem estudante de arquitetura que iniciava um caminho paralelo como compositor, ficara sabendo que um dos artistas que mais admirava, estaria ensaiando para um show num teatro próximo. E lá foi ele, do alto dos seus vinte e pouquíssimos anos, tentar se aproximar daquele monumento, que além de cantor, músico e compositor, era também um prestigiado cineasta.


Siga la pelota: o jovem entrou, sorrateiro no recinto para ver o ensaio e, meio escondido ouviu seu ídolo cobrar do contrarregra um banco mais alto. Ao ouvir do homem que não havia outro banco, percebeu a oportunidade. Correu para fora do teatro e num bar próximo conseguiu por empréstimo um banco mais alto. Voltou ao teatro, se aproximou e entregou o banco à estrela do show que, surpreso, agradeceu e como gratidão deu-lhe um ingresso para o espetáculo. Nosso jovem adorou a gentileza e desassombrado, indagou ao grande artista se ele poderia ouvir duas composições suas para uma avaliação e lhe passou uma fita cassete. O grande artista pegou a fita e disse que ouviria, sim.


A ampulheta dá uma acelerada e passam quase quatro décadas. Estamos no ano 2000. O produtor e diretor artístico (entre outras qualidades), Adônis Karan dirigiu um espetáculo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro para comemorar os cinquenta anos de atividades daquele grande artista, que era ninguém mais que, Sérgio Ricardo. O espetáculo seria a apresentação de um cordel sinfônico que Sérgio fizera em parceria com Carlos Drummond de Andrade. E com a participação de muita gente conhecida como Alceu Valença, Zélia Duncan, Elba Ramalho, Telma Tavares, Marina Lutfi (filha de Sérgio, cujo nome de batismo era João Lutfi) e Chico Buarque. E esse time, acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal.


Sem dúvida um evento artístico daqueles de encher as medidas. Para ficar na história e, à altura do mestre. Na segunda parte do espetáculo, todos os convidados homenageariam Sérgio Ricardo cantando suas composições. E lá foram eles se apresentando um a um naquele palco maravilhoso até que chegou a vez de Chico Buarque para interpretar ‘Zelão’, um dos clássicos do homenageado. Antes de cantar Chico resolveu contar como conhecera Sérgio Ricardo e descreveu a história que contei nos dois parágrafos iniciais.


O jovem da nossa história, o estudante de arquitetura que conseguiu um banco adequado para Sérgio Ricardo, era o Chico. E uma das duas canções na fita cassete, que Sérgio acabou ouvindo, era nada mais, nada mesmo que ‘Pedro Pedreiro’. Claro que Sérgio Ricardo procurou Chico a quem passou a apoiar no que fosse possível e se tornaram grandes amigos. O jovem acabou por abandonar o curso de arquitetura e se dedicou à vida artística. Para o bem de todos.


Sérgio Ricardo nos deixou há pouco mais de dois anos, mas sua imensa obra, sejam canções, sejam musicais, peças teatrais e filmes estão aí para testemunhar seu indiscutível talento, nem sempre reconhecido e colocado no patamar que merece.


Esse caso me foi contado pelo amigo Adônis Karan, testemunha e protagonista ativo de uma época em que a nossa música viu ser escrita uma das páginas mais fortes e ricas de sua história. Almoçamos há cerca de quinze dias, em Resende. Karan tem amigos em Penedo e passou por aqui um par de dias. Nos encontramos para colocar a conversa em dia e para ele mais uma vez revelar seu desejo de viver aqui, aos pés da Mantiqueira.


Grande Karan, abraço meu amigo. E Viva Sérgio Ricardo. E Viva Chico Buarque de Holanda.


“Como bate batucada

Beto bate bola

Beto é o bom da molecada

E vai fazendo escola (...)

E foi pra Copa buscar a glória

E fez feliz a nação,

no maior lance da história (...)

Homem não chora

por fim da glória

Dá seu recado enquanto durar sua história” (Beto Bom de Bola – Sérgio Ricardo)


 

Cultura


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Samba.





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