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Dois Irmãos



 

 Estou longe de estar me referindo `a linda música de Chico Buarque ou às grandiosas montanhas que lhe deram título. Mas já que mencionei meu sobrinho Edgar no último artigo que escrevi, quero falar também do seu irmão mais velho, Arthur, e da linda amizade entre os dois.


Eles são dois irmãos, dois príncipes, e dois lindos rapazes, Edgar sendo o típico moreno ‘Latin Lover’, enquanto Arthur que é louro se parece com James Dean. De temperamento e tipos completamente diferentes, os dois se dão super bem e praticamente se complementam. Edgar é introvertido, calmo, e senhor de si. Nunca perde a cabeça quando discute, porque nunca perde a objetividade, qualidade essencial para o estudo da filosofia que ele tanto gosta.


Arthur, por outro lado, vive em constante ebulição, como se a sua alma não coubesse dentro de seu corpo, tal qual a sua mãe Adriana, que é minha sobrinha. Tanto ele quanto ela fazem com que eu me sinta mais ‘normal’ nesta terra onde tudo é regimentado, cerebral, e onde as pessoas confundem entusiasmo ao falar com vontade de brigar.


Os dois irmãos primeiramente se mudaram para São Francisco com seu devotado pai Marcelo, porque Arthur ganhou bolsa de estudos para a faculdade de Berkeley. Assim sendo, Marcelo decidiu que Edgar poderia acabar o colegial também em São Francisco, e Adriana teve, como eles, a grande coragem de se desenraizar do Brasil em prol do desenvolvimento educacional de seus filhos.

 

A primeira vez em que conversei com Edgar, numa das visitas que fiz ao Brasil, quando sua família ainda morava lá, ele só tinha quinze anos. Trocou ideias comigo na cozinha de sua casa `as duas e meia da manhã, olhos nos olhos, como se estivesse se comunicando com alguém da sua idade. Eu, que já morava nos Estados Unidos havia mais de dez anos, um lugar em cuja cultura os jovens, principalmente os adolescentes, não falam com adultos, como com seus próprios pais ou os pais de seus amigos, mal podia acreditar que um garoto ainda criança pudesse conversar com uma pessoa tão mais velha do que ele quanto eu, e com tanta tranquilidade e seriedade ao dizer coisas que eram relevantes e reflexivas.


A ideia de que ele devia ser um espírito muito antigo, que já tinha vivido várias vidas, me veio logo `a cabeça.  Mas mesmo assim, ao lembrar-me da moçada americana, me perguntei o que eu estava fazendo aqui, pois mesmo que meus dois filhos sejam muito mais próximos de mim do que os amigos deles de seus próprios pais, a gente sempre teme que a influencia da cultura acabe por nos tornar a típica família americana que só se visita durante a obrigação convencional dos encontros que celebram Thanksgiving ou Natal, quando então se vê diante das casas quase sempre vazias, um amontoado desses vans gigantes que os americanos adoram, trazendo genros, filhos, noras, netos, cachorros, e seja lá mais o que for que depois daquele dia desaparece como se tivesse evaporado no ar.


Durantes essas celebrações, como no filme Perfume de Mulher, com Al Pacino, a formalidade é gélida e as conversas que as famílias trocam entre si são em geral impessoais e vazias. Por isso, no filme que mencionei, Al Pacino, como o rebelde coronel Slade, acaba com a hipocrisia que reinava no almoço na casa de seu irmão, começando por desmascarar uns e outros e chegando quase `a agressividade física. Ganhou o Oscar com esse papel.


Correspondendo `a minha admiração por Edgar na primeira conversa que tive com ele, então adolescente, foi a vez em que vi Arthur tocar violão clássico. Isso aconteceu na época do primeiro Thanksgiving que passamos com eles e seus pais, comemorando a ocasião de modo bem diferente das famílias americanas. Eles já moravam no Norte da California, e nós estávamos prestes a nos mudar para o sul desse mesmo estado. Ficamos em hotéis diferentes aqui em San Diego e fomos comer em restaurante, mas nada de peru recheado e torta de abóbora, como se faz neste país.


Na última noite, Arthur traz pro quarto em que eu repartia com minha família, o violão que eu nem sabia que ele tocava. Logo que começou a dedilhar as cordas de seu instrumento, eu nem estava prestando muita atenção, quando, pouco a pouco fui me enfronhando naquelas notas e escalas ágeis que ele fazia, como se ele fosse o encantador e eu a serpente que ele encantava. O garoto deu um show com várias peças de Villa Lobos. Logo pensei que ele, bonito como é, com seus olhos verdes de uma doçura quase melancólica, seu cabelo dourado, e tocando tão bem, poderia ser um super sucesso dedicando-se somente `a sua música.


Mas eu não disse nada porque venho de família de artistas e sei como é duro ganhar a vida com arte. Isso é um chamado que a própria pessoa tem que sentir e seguir se for exclusivo de verdade. Arthur também é naturalmente literato, pois adora Guimarāes Rosa e outros escritores dos quais muita gente culta não saca nada. E ele é engraçadíssimo no que chamei de sua constante ebulição. Nada lhe escapa, e na torrente de críticas que faz `a cultura americana e comentários irônicos a seus próprios pais, um dia se saiu com essa: Os americanos não são nada ‘suaves’ (pra quem não sabe, como eu não sabia até então, ‘suave’ é uma gíria paulista que nem precisa ser explicada). Morri de rir. O garoto é um show na sua própria maneira de ser.


Pra terminar, volto a um passado distante, quando os visitei em São Paulo com minha filha cujo apelido é Tweety, no apartamento onde moravam. Tweety já tinha uns cinco ou seis anos, e Edgar tinha dois. Enquanto Arthur brincava, corria, e se comunicava conosco, Edgar se apaixonou por Tweety e não queria sair de perto dela. Num dado momento, segurou-lhe as mãozinhas com uma expressão de total reverencia, encostando seu rosto nelas.


Não lembro qual de nós tirou a foto dos dois de perfil, mas minha mãe, que ainda vivia, ficou encantada, perplexa, até, com a intensidade do garotinho. “Isso é uma foto de concurso!” não parava de dizer, e eu concordava. Adriana depois me contou que quando foi botá-lo para dormir, ele lhe disse com a maior decisão: “Vou me casar com uma mulher chamada Tweety!”

 

Até hoje brincamos com isso, quando nossas famílias se encontram. E nenhum desses dois jovens fica envergonhado, como ficariam se fossem americanos... Aleluia!


 

Cultura, a Arte e a Economia Criativa


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Fernanda Morais e Beto Rocha, artistas Cedro Rosa


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