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Foto do escritorJosé Luiz Alquéres

Duas guerras abomináveis


José Luiz Alqueres

Há mais de 2000 anos as terras onde hoje se localizam os países que recebem a designação genérica de países do Leste Europeu são palco de lutas territoriais sangrentas. Os romanos tentaram ampliar seu império conquistando-as, mas nunca tiveram segurança para além do limite definido pelos rios Reno e Danubio, o primeiro correndo para o norte o segundo para o Mar Negro ao sul.


Na Idade Média emergem os principes de Novgorod, de antecedentes nórdicos, que se compões com os tártaros da Golden Horn a leste (aos quais pagarão tributo) e com isso enfrentam e derrotam os cavaleiros teutônicos a oeste. com isso, Alexandre Nevski se torna o Grande Príncipe de Kiev de 1252 a 1263, santo da Igreja Ortodoxa, herói da Rússia. Ou seja era uma independencia meio relativa esta da Ucrânia (de Kiev, então), pois pagava tributo par os mongóis ( hoje russos) que o nomearam grande principe de kiev, em cujo papel arrecadava dos locais tributos para enviar ao canato mongol.. A moral da história é quase 1000 anos depois querer distinguir quem é quem etnicamente naquelas paragens é meio impossível. As diferenças são politicas e culturais, não étnicas.

Em tempos do Iluminismo, o grande filósofo alemão Immanuel Kant nasceu e passou toda sua vida em Koenigsberg, então limite da Prússia Oriental, hoje Kaliningrado, cidade russa, desde o fim da 2a. Guerra Mundial.


Estes dois exemplos mostram o quanto podem ser fluidos os limites territoriais dos países desta região. Naturalmente seus povos têm muita coisa em comum e não necessitam se guerrear, salvo por disposição de governantes e elites incompetentes e retrógradas.

Os estados pequenos - do ponto de vista territorial - desta região fazem um verdadeiro cordão de isolamento entre A Rússia, no passado - de onde vinham os mongóis e outros povos bárbaros invasores, e depois os Romanoffs expansionistas-, e a Europa, inicialmente romanizada e depois cristianizada.


Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, BieloRussia , Ucrânia, Eslováquia, Romênia, Bulgária e outros menos conhecido no Ocidente como como Geórgia, Chechênia, Ossétia do Sul, Moldavia e ainda outros que desapareceram como Bessarabia. Estados espremidos entre grandes potências, por elas conquistados no passado, emergindo de tempos em tempos, por efeito de tratados. Muitos com lingua própria, tradições, história e um sentimento de identidade nacional.

Poderiam viver em paz, como parece que estão conseguindo após indizíveis sofrimentos causados às suas populações civis, bascos e catalães na Espanha ou escoceses e Irlandeses no Reino Unido? Parece que sim.


Estamos no século XXI e embora alguns aspectos do mundo atual nos façam imaginar que continuamos tão primários como éramos há milhares de anos, as novas gerações têm demonstrado menos apego a estes valores digamos - patrióticos- e mais a valores humanísticos.


Não é o caso que se vê na Ucrânia e na Rússia. Na Russia um Presidente um nacionalista radical , autoritário , centralizador e obstinado, comanda uma invasao da Ucrania, pais que ensaia os primeiros passos de uma vida democratuca após 250 anos de dependencia da Russia e de uma historia milenar de vida política dela dependente. Triste e injustificável, além de desnecessário, o uso de armas e o morticínio de civis e militares que essa guerra causa. Segundo a ONU, nos primeiros 12 dias de confrontos já morreram 350 civis.


A outra guerra que me refiro é aqui mesmo no Brasil . Não que queiramos retomar a colônia de Sacramento e o Uruguai que perdemos numa guerra e concedemos a Independência há quase 200 anos. Refiro-me à guerra contra a violência e contra o crime organizado, milícias, facções. Assassinatos que fizeram mais de 40.000 vítimas fatais no Brasil no ano passado.


Essa guerra lignorada para quem não a sofre na pele e que ocorre a maior parte nos subúrbios das grandes cidades, provoca 120 mortes por dia, em média. 4 vezes mais que as mortes na guerra da Ucrânia, que domina as manchetes.


Deveríamos ter, pelo menos, o mesmo empenho em acabar com a nossa, algo bem mais fácil de terminar do que a com guerra européia. A nossa é fruto da desorganização do nosso Estado,miséria, da falta de oportunidades, das infâncias destruídas em ambientes violentos, sem famílias e sem parâmetros educacionais e culturais mais elevados. Não nos movem ranços milenares senão um egoísmo secular.


Um país que faz 200 anos de independência poderia estar melhor. Bem melhor. Perdemos 70 anos até acabar com a escravidâo extinta em Portugal pelo Marquês de Pombal. . A república há 130 nao equacionou um problema de meios de vida para a parcela mais pobre. Por que ? O que falta ?


No meu entendimento é construir políticas públicas de resultados no curto prazo, que resolvam coisas como habitação digna, sistema escolar inclusivo e eficaz , sistema de saúde. focado na melhoria de indicadores de saude pública. Nada disso, nestes 130 anos , tem sido prioridade, fora em discursos e declarações. Mas isso só mudará se pessoas , além de competentes, boas, imbuídas de compaixão, estiverem à frente destas políticas.


Vamos nos solidarizar com os ucranianos. Se possível acolhê-los esperando que, como tantos imigrantes, nos tragam lições de tolerância e amor à nossa terra e a seus semelhantes, como vemos hoje nos descendentes de portugueses, italianos, espanhóis, sirio-libaneses, judeus, japoneses, alemães, poloneses, ucranianos e tantos outros que se integram na formação da nossa nacionalidade.


Há poucas semanas um pobre congolês foi assassinado num quiosque da praia de São Conrado. Crime vergonhoso. Cruel. A sangue frio. A cidade vai ganhar um monumento e dentro de 1 mes ninguém mais saberá porque . Ficará por aí esquecido. Temos que enfrentar as causas dessas coisas abomináveis.

Paulo H. Born, co-autor do artigo

José Luiz Alquéres e Paulo H. Born


 

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