Eduardo Arbex, jornalista e artista dividido entre teatro, música, literatura e outras coisas

Eduardo Wilson Arbex, é ator, escritor, músico, compositor, diretor de teatro e também fotógrafo profissional e jornalista, com passagem por jornais e revistas. Assinou colunas de opinião falando de discos e espetáculos. Foi presidente da Fundação Casa da Cultura Macedo Mirada e dirigiu a Biblioteca Municipal de Resende. Seu primeiro livro foi Percepções. O segundo, A Barca dos Sonhos, está no prelo, a partir da conquista de edital de cultura da Prefeitura de Juiz de Fora (MG).
Em fase de conclusão, o terceiro livro, Pegadas na Arte, que certamente deve trazer muita coisa do universo teatral, que ele viveu intensamente, como ator, diretor, produtor e compositor de trilhas sonoras. Sua trajetória no teatro iniciada na década de 1970 em Juiz de Fora (MG) e a partir dos anos 1980, em Resende (RJ) foi bastante movimentada até os anos 1990, ainda entrando com trabalhos marcantes até praticamente os dias hoje. Atuou em dezenas de peças consagradas de autores nacionais como Millôr Fernandes, Maria Clara Machado e Jorge Amado, textos consagrados internacionalmente de Jean Genet, Pirandello e Woody Allen até autores locais como Celina Whately, Karla Carvalho, Lu Gastão. Colecionou premiações. Atualmente desenvolve um projeto sócio/cultural com a Associação Linhas de Minas, na cidadezinha de São José dos Lopes, que é distrito rural de Lima Duarte (MG), onde mora atualmente.
CRIATIVOS – Eduardo Arbex, sua vivência no teatro foi bastante intensa. Principalmente como ator. Você destacaria uma ou algumas peças que, de alguma forma, tenham marcado sua vida?
EDUARDO ARBEX - O teatro entrou na minha vida quase que por acaso. Sempre gostei e era um espectador assíduo das montagens teatrais. Mas, por alguma razão não me via atuando. Eu preferia cantar. Em 1973, em Juiz de Fora, procurei o Coral da UFJF que ensaiava no Fórum da Cultura. Ao chegar no local constatei que não era dia de ensaio e percebi numa outra sala, a porta entreaberta e entrei para pedir informações.Para minha surpresa, era ensaio de um grupo de teatro (da Casa D’Itália) que era dirigido por Natálio Luz que eu conhecia por ser, além de excelente ator e diretor, radialista com uma voz de um timbre maravilhoso. Natálio convidou-me para fazer uma leitura da peça que seu grupo ensaiava, pois, um dos atores não tinha comparecido.A partir daí, minha ligação com a arte teatral se tornou sólida e perene. Minha estreia como ator aconteceu dessa maneira inesperada. Me apaixonei. Natálio foi o meu primeiro mestre da Arte Teatral. “A Menina e o Vento”, de Maria Clara Machado, foi o trampolim para novos desafios. Ao fim da temporada, Natálio comunicou ao grupo a necessidade de se dedicar a outros projetos.
O Grupo Divulgação me deu régua e compasso e pude desenvolver minhas aptidões no Grupo de Teatro Boca de Cena, de Resende, para onde me mudei em 1981. Ali, junto com outras pessoas idealistas e sonhadoras começamos uma história que durou 25 anos, de 1983 a 2008. Essa história está muito bem contada no livro recém lançado por Virginia Calaes – “Boca de Cena, a trajetória bem sucedida de um grupo de teatro do interior”. Ali, com meu amigo e excelente diretor José Leon, montamos peças fantásticas que, com certeza, enriqueceram a vida cultural de Resende.
CRIATIVOS – Quais das peças que esteve envolvido, atuando, dirigindo, etc., você voltaria a fazer hoje, pensando no contexto atual? E qual premiação, mais te tocou?
EDUARDO ARBEX - Dentre as inúmeras peças que apresentamos nesse período, algumas foram especiais. Nossa montagem de “Aurora da minha vida” de Naum Alves de Souza foi um marco. Além de lotarmos todas as sessões na temporada, ganhamos vários festivais e viajamos para várias cidades sempre sendo recebidos com grande entusiasmo pelas plateias e em todas as apresentações a peça era ovacionada em cena aberta, em vários momentos. Além de receber a presença do autor, que encantado com o trabalho do grupo, cedeu os direitos autorais com a mensagem: “invistam no Boca de Cena”. Nossas peças tinham a preocupação de valorizar os autores nacionais – Millôr Fernandes, Maria Clara Machado, Lauro Cesar Muniz, José Vicente, entre outros. Com o Boca de Cena, dirigi textos de autores consagrados e autores resendenses como “Liturgia íntima”, de Martha Carvalho Rocha.Mas, a grande montagem, para mim, foi a peça de Alberto de Abreu, “Bella Ciao”, que permaneceu meses em cartaz, viajou para inúmeras cidades e foi muito aplaudida em todas as apresentações. Essa foi, acredito, minha melhor atuação nos palcos. O personagem Giovanni Barachetta foi um marco na minha carreira. O personagem era retratado desde sua vida na Itália, a imigração para o Brasil, e a trajetória de sua atuação política no país no começo do século 20. Pensando nesses trabalhos realizados, vejo que “Bella Ciao” caberia no momento de hoje, quando estamos assistindo a ascensão da direita no mundo todo e é uma lição de história que conta a luta dos trabalhadores por seus direitos, dentro de um cenário autoritário e ditatorial. Essa peça eu montaria outra vez! E, sem dúvida, “Aurora da minha vida” está entre minhas preferências e, se eu tivesse um elenco numeroso, com certeza, seriam remontadas. Como ator tive o reconhecimento de prêmios em festivais – melhor ator no Festival de Niterói - e, em 2005. Com “Te amo nessa escuridão”, de Lu Gastão (também resendense) e direção da carioca Helena Varvaki, o Boca de Cena conquistou o prêmio Miriam Muniz, da Funarte.
CRIATIVOS – Como nosso espaço é destinado, prioritariamente, a conversas com escritores, vamos direto ao assunto: o que motivou ou impulsionou você a escrever “Percepções” e o que o livro aborda?
EDUARDO ARBEX - Minha formação incluiu o curso de Comunicação Social na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), onde me especializei em jornalismo impresso. Tive a oportunidade de fazer parte de equipes de jornais e revistas em Juiz de Fora e em Resende, onde assinava algumas colunas e, eventualmente, textos jornalísticos. Paralelamente ia escrevendo textos e guardando-os. Em 2013 voltei para Juiz de Fora – cuidados com a mãe enferma – e, diariamente escrevia crônicas, artigos, contos, poesias que, na verdade, não tinha planos de publicá-los. Era à minha maneira de amenizar aqueles tempos difíceis.Mas, chegou um momento em que senti necessidade de compartilhar esses textos guardados e planejei mostrá-los. Até que, em 2024, surgiu a oportunidade, junto à Editora Viseu, de, finalmente, publicá-los. Fiz uma seleção dos textos, apresentei-os ao amigo e escritor Luiz Fernando Medeiros que, depois de algumas sugestões, me incentivou a lançar o livro. São as crônicas, contos e poesias, acrescentados do testemunho do que foi cuidar de minha mãe que sofria com a doença de Alzheimer. Essa minha primeira experiência na literatura me fez acreditar que eu poderia me dedicar ao ofício.
CRIATIVOS – “A Barca de Sonhos” está no prelo e pronto para sair do forno. Fale desse seu segundo livro.
EDUARDO ARBEX - Em 2014 participei do Edital da Lei Murilo Mendes, da Prefeitura de Juiz de Fora, com o Projeto de fotografias que fiz durante a viagem “Barca da Cultura”, de Paschoal Carlos Magno, em que eu participava como ator do Grupo Divulgação, de Juiz de Fora. Eram fotografias dos locais onde a Barca se apresentava, das apresentações dos grupos participantes, porém, basicamente registros de pessoas e locais por onde a trupe passava. Esses registros ficaram em meu arquivo de negativos durante 50 anos (a “Barca” aconteceu em 1974) e, com incentivo de minha mulher, Leticia, e de alguns amigos, resolvi participar do Edital e, afortunadamente o projeto foi aprovado com a nota máxima, estando desde já em processo de edição, tratamento das fotografias, entrevistas com alguns participantes – a cargo da jornalista Márcia Carneiro – e diagramação das páginas. Provavelmente será publicado nos próximos meses, com o título A Barca de Sonhos.
CRIATIVOS – O seu terceiro livro “Pegadas na Arte”, sugere algo biográfico, já que você tem sua vida praticamente voltada a caminhar com as artes, salvo engano e pressa na especulação. O que será esse livro?
EDUARDO ARBEX - Essas experiências recentes me reacenderam a chama da escrita e comecei fazer um retrospecto de minhas atividades nas artes e percebi que tinha algumas histórias para contar. De alguma maneira eu transitei por, praticamente, todas as manifestações culturais. No teatro, atuando e dirigindo peças. Compondo trilhas sonoras para peças infantis, criando trilhas sonoras para montagens teatrais, fazendo roteiros para espetáculos de dança, elaborando iluminação para as apresentações e fotografando obras de vários artistas.
Em minhas andanças pela música, compus algumas canções, acompanhei cantoras, participei de grupos musicais (Banda Zoom, espetáculos musicais com o maestro Cláudio Menandro), toquei com saxofonista (Antônio Rodrigues), trompetista (Maestro Aniceto), me apresentando em bares e shows no formato voz e violão. Nas Artes plásticas tive a oportunidade de fotografar obras de artistas (Arlindo Daibert, Dnar Rocha, D’Anestis, Lauro Jardim entre outros) para catálogos e registros. E, agora, enfim, a experiência com a literatura.De alguma maneira me vi participando dessas manifestações e comecei e rememorá-las, percebendo que tenho muitas histórias para contar dessas minhas vivências. E, sim, é um relato autobiográfico em que o título “Pegadas na Arte” me pareceu adequado, pois, são, na verdade, rastros de minha passagem por essas manifestações. Está em processo de escrita e, tão logo o livro A Barca de Sonhos esteja impresso, vou me dedicar integralmente para terminá-lo e publicá-lo em 2026.CRIATIVOS – Você é meio mineiro, meio resendense, viveu grande parte de sua vida no Sul fluminense. Agora está de volta à Minas Gerais. Nos apresente São José dos Lopes, sua nova morada e fale do projeto que desenvolve com a Associação Linhas de Minas.
EDUARDO ARBEX Na verdade, sou resendense e passei parte de minha vida em Resende – até os 10 anos e depois de 1981 a 2012 – e em Juiz de Fora – de 1961 a 1981 e depois de 2013 a 2016 - onde comecei minha vida profissional. Por circunstâncias da vida, me vi em 2016 vivendo na comunidade de São José dos Lopes. Letícia trabalhava em um hotel aos pés da Serra do Ibitipoca e os Lopes (como chamamos a vila) nos pareceu uma boa solução para as idas e vindas de Juiz de Fora. Resultado: nos apaixonamos pela comunidade – pouco mais de 400 moradores – e nos mudamos definitivamente para esse lugar adorável e com pessoas acolhedoras.
Leticia começou a desenvolver um projeto de Artesanato com as mulheres do lugar – bordados, cestaria, peças decorativas – instalando, num amplo casarão que estava fechado, o Linhas de Minas, que hoje vende para todo Brasil e até para o exterior. Desse movimento acabou surgindo – por vícios do ofício – as atividades culturais que começamos a desenvolver ali. O espaço onde abrigava o Linhas de Minas chamamos de Casa do Sol e lá fizemos shows com os talentos locais, exposições de fotografia e comecei a desenvolver um trabalho com jovens e adultos, que resultaram em montagens teatrais.
Com o auxílio luxuoso do artista pernambucano Joelson Gomes, montamos Romeu e Julieta, de Ariano Suassuna – versão em cordel da obra de Shakespeare, apresentada nas ruas e que foi um fenômeno com mais de 30 participantes. Apresentada em várias cidades como Ouro Preto, Andrelândia e Conceição do Ibitipoca, emocionava os espectadores. Como primeiro resultado desse trabalho, criamos o Coral das mulheres cantoras dos Lopes, com 15 participantes, que acabou sendo uma experiência riquíssima onde pude trabalhar com música novamente.Vieram depois outras montagens, como “Pluft, o Fantasminha”, de Maria Clara Machado, um sucesso na comunidade, com atores locais, num trabalho surpreendente pela qualidade na atuação. Depois escrevi um roteiro da “História de São José”, padroeiro local, e, novamente, um resultado gratificante, com jovens e senhoras da vila. Atualmente desenvolvo um trabalho de leitura de poemas e pequenos esquetes com jovens e adultos. Com certeza, essa forte experiência nessa comunidade nos rincões das Minas Gerais, será, no futuro - quem sabe? - um novo livro.
Escuta essa Roda de Samba!
Música independente com alcance global!
A Cedro Rosa Digital certifica e distribui artistas de cinco continentes, garantindo diversidade e reconhecimento. Quer fazer parte dessa rede?
Comments