Em Telas
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Não lereis livros senão em telas. E o papel vos será desconhecido. Melhor para as árvores (que de todo modo não mais existirão).
Não ouvireis os risos das crianças. Pois que elas terão se tornado quietas, lotadas de informações, miniprojetos de adultos, cruéis na sua desforra pela falta de atenção.
Não voareis livres na contemplação de uma obra de arte que vos tire o chão e acelere o sangue. Seja a pura escultura, a enigmática instalação, mais fina poesia ou os versos simples de uma canção.
Não serão censurados os fazeres da arte nem haverá entraves ao consumo de quaisquer bens culturais. Apenas não restará quem os queira nesse maravilhoso mundo novo, onde qualquer um saboreia tudo, absolutamente tudo o que lhe apraz. Mas o espírito ausente nada quer é nada faz.
Não restareis subjugados ao cruel Big Brother feito antecipou George Orwell. Porém sereis escravos do próprio desatino, emparedados em redes tecnológicas ou enredados em paredes de lógica.
Impossibilitados de sentir, vereis vossas catedrais góticas, vossas empresas, vosso mercado, tudo o que construís, ruir.
E não restará nada onde por o pé. Ou almofada para descansar a cabeça.
Disponível para downloads e trilhas sonoras diversas, desde uso pessoal a longa-metragens.
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