Entrevista com poeta ingênuo, que acreditavana poesia vencendo as armas
Em dezembro de 2023, quebrei minha rotina de crônicas por aqui, e publiquei uma rápida entrevista com Aliel Paione, um romancista francês. Tuninho Galante deve ter apreciado e me encomendou entrevistas com escritores a cada quinze dias. E começamos com alguém da casa.
Luís Pimentel iniciou a série em janeiro que chegou a vinte e cinco entrevistas, agorinha, no dia 25 de dezembro com Giovana Damaceno. No período que envolve Natal, Ano Novo, férias, recesso e outras coisas mais, que afastam muitos leitores, decidi comemorar a série, publicando uma velha entrevista com um cara que aniversariou, dia 3 de janeiro.
A entrevista foi publicada num livreto de poesia intitulado O Beijo da Mulher Piranha, em 1983, século passado. Foi uma edição do autor, com poemas influenciados pela atmosfera reinante, atiçada pela poesia pornô e outros quejandos.
A entrevista abre o pequeníssimo volume, tendo como epígrafe, versos do samba ‘Sei lá Mangueira’, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho. A ilustração da capa é de Coutinho, da contracapa de Wanderley Marins, com diagramação, produção gráfica e impressão de Jocenir Ribeiro. O título foi uma brincadeira, uma paródia (só no título) com o livro do argentino Manuel Puig, ‘O Beijo da Mulher Aranha (Ed.Codecri), que depois virou filme de sucesso do também argentino, Hector Babenco, com Sônia Braga, Raul Julia, Willian Hurt, Fernanda Torres, José Lewgoy e grande elenco como se diz. Vamos lá:
PERGUNTADOR – O que você pretende com esse livreto?
LAÍS AMARAL Jr. – Logicamente chegar aos píncaros da glória, tomar o lugar do Drummond, ser chamado para a Academia e recusar.
PERGUNTADOR – E você acha válido lançar um livro desses, numa época como esta que estamos vivendo? Com uma crise dessas aí?
LAIS AMARAL Jr. - Pra te confessar, tive frações de segundo com a dúvida se publicava ou não esses biscoitos. Num país onde a condição de uma vida digna de seres humanos (seres vivos) é quase impossível, eu por aí a tentar humor?! Mas é o meu negócio, então, tinha que fazer. E também não podemos cair no esquema deles, de fazer o que eles nos escolhem pra fazer. Uma maneira de estar sempre fazendo o que eles não querem, tanto melhor. É como controlar a natalidade num país como o Brasil, onde não temos nem a metade da população que precisamos. Só mesmo pra encher o rabo das multinacionais da farmácia (30 milhões de consumidores de pílulas) ou pra manter firme a velha política de matar o guerrilheiro ainda no ventre da mãe. Um lado político, outro econômico. Tem que se fazer de tudo. Por isso está aí o Beijo. Porque existe mais de uma ditadura pra ser derrubada.
PERGUNTADOR – Mas não é um livro que foge à realidade da região onde você vive, a Baixada Fluminense?
LAIS AMARAL Jr. – Não estamos aqui numa ilha, isolada de tudo e de todos. As dores que sentimos aqui, são semelhantes às de todas as Baixadas que emprenham esse país. Claro que, com algumas peculiaridades. Não podemos negar, porém, que estamos sujeitos a todas influências sócio estéticas que estão sujeitos os grandes centros. Agora, se você se refere ao sexo, ao humor, quero lhe dizer que é uma avaliação apressada. Existe sempre uma questão de estilo, e isso tem que ser levado em consideração. Cada um olha de uma maneira. Não somos pastel. E além do mais, esse livreto é mais uma proposta minha de como devo me comunicar, que um apanhado de poemas. Você aqui não vai encontrar palavras de dicionário, mas encontra palavras que disse o Honório. E pentelho é mais eficaz que pelos que cobrem o púbis, não é mesmo? No fundo, é mais um saudável exercício de nadar contra a corrente, coisa que não devemos deixar nunca de tentar, mesmo que os mais velhos torçam a cara. O conceito de moral que nos degola é mais um legado dos vários Estados autoritários a que estivemos sujeitos, desde que nos conhecemos, por isso, não só temos o dever de nos opormos ao regime, o sistema, mas também contra os seus filhotes, que não tem nada que ver com o mundo que desejamos, onde as pessoas possam se expressar livremente (e comer também) e decidir por seus destinos. A Baixada, caro perguntador, é uma das regiões onde a repressão sexual é mais contundente, por razões óbvias. Por isso, um poema erótico, aqui, é mais importante em termos de exercício de liberdade, de familiarização, desintoxicação, do que na Zona Sul do Rio, aonde ela é bem menor, quase não visível, e o poema acaba por perder boa parte da sua força de transformação social.
PERGUNTADOR – Em termos de objeto, o que é o livreto?
LAIS AMARAL Jr. – É bem formal. Está dividido em duas partes. A primeira parte retrata, de uma certa maneira, o que foi o meu exercitar poesia. Influências de letras de música, muita rima, um gosto pelo Cordel, adquirido talvez pelo contato frequente com os do Norte, que aqui existem aos milhares. Tem uma homenagem (Rabo de Galo), coisas que bebo, que já bebi. Tem poemas em que procuro usar a linguagem, como são, nas coisas que estão sendo retratadas (Tiro-de-Pé, Brasil Pé Inchado) e por aí afora. Tem o Intervalo para ir ao Banheiro, que vocês vão ler, lá mesmo e, a segunda parte: ‘Páginas Amar Elas’, onde procurei resgatar as musas, mas querendo dar um toque de ir contra a ditadura da beleza como fundamental. No fundo, nada de pioneirismos, apenas sacanagem.
Pra ilustrar, um poema do livreto,
com mais de 40 anos, mas que bem
poderia ter sido escrito ontem: ‘Irreversível’
“Antes, deceparam as árvores
e foi um lamentoso grito
das aves e das águas. Dos bichos.
Agora, o que se ouve
é um lancinante gemido,
dos homens”.
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