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Foto do escritorJorgito Sapia

ERA UMA UVA: pequenas memórias carnavalescas.




No verão de 2001 o bloco carnavalesco Suvaco de Cristo, escolheu, no salão nobre do clube Monte Líbano, o samba da parceria Barreto, Nanico e Chacal: Uma Odisseia do Suvaco.

O Clube, tem uma vista privilegiada do espelho da Lagoa Rodrigo de Freitas e foi sede dos melhores bailes de carnaval nas décadas de 1960 e 1970.


Outro tempo e outros carnavais. 


No início do século XXI o Suvaco fez lindas e concorridas festas pré-carnavalescas no local.

Em 2001, dois sambas disputaram a final. Um deles fazia o registro e, de certa maneira exaltava, o crescimento do número de foliões do, até então, reduzido número de blocos na cidade. O samba recuperava, no refrão, um bordão popularizado à época pelo funk carioca Furacão 2000: “tá dominado, tá tudo dominado”. 


O que os compositores não sabiam era que a diretoria do bloco estava matutando uma mudança que ajudasse a limitar o crescimento do número de foliões de maneira a tornar o seu desfile mais administrável. Essa mudança irá a acontecer no ano seguinte ao da comemoração dos seus 20 carnavais, quando o bloco radicaliza e transfere o desfile da tarde para as primeiras horas da manhã. 


Em 2001 o samba escolhido, - embora grande para os padrões de bloco de rua -, foi de uma precisão quase cirúrgica. Começa definindo identidade e território.


“Como tudo que se locomove, tudo começou no posto nove...”


Retrato de uma época e identificação de um espaço importante na cidade do Rio de Janeiro. O vocábulo como, apresenta diversas classificações. Como verbo, conjugado na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo, comer tudo o que se locomove pode ser visto como uma clara superação do preconceito, do sexismo, além de sugerir a pluralidade de identidades que começam a ser percebidas, reivindicadas, explicitadas na passagem do século XX ao XXI.


Há outras interpretações possíveis. Por exemplo, um folião da velha guarda, jurava de pés juntos que era uma clara referência ao movimento antropofágico da semana de 1922. Interpretações, na certa, não faltam.


E por falar em interpretações, vale a pena lembrar que o samba também registra o perrengue que o bloco passou por ter uma interpretação e uma leitura do divino, diferente daquela privilegiada pela Cúria Metropolitana. Assim, o bloco:


Teve alguns perrengues com a cúria

Que em sua fúria não queria entender

Ora bolas! Que um Cristo sem suvaco

A Maria não poderia conceber

E a moçada que não sabe o que é deprê

Foi parar lá na décima quinta depê

 

Taí uma pequena mostra dos diversos conflitos entre o sagrado e o profano a embalar as histórias carnavalescas.


A localização espacial, “tudo começou no Posto 9”, nos coloca em contato com diversas memórias da cidade que tiveram origem e que passaram por esse “pedacinho do sudeste” - como cantaram Lefê de Almeida e Mariozinho Lago, num outro samba e num outro bloco.

A referência a zona sul da cidade, ao bairro de Ipanema, ao cruzamento da Av. Vieira Souto com a rua Vinicius de Moraes, ex - Montenegro. Na areia, o epicentro pode ser o da barraca do exilado uruguaio Milton e sua família. 


A barraca é facilmente identificável, pois lá continua fincada a bandeira do país vizinho e, durante muito tempo tremulou a bandeira do PT. Não necessariamente do tempo em que Dom, Dom jogava no Andaraí, mas do tempo no qual, àquela área funcionava como uma espécie de quartel geral do Partido dos Trabalhadores na cidade. Tempo de esperança e de muita festa.


Festas que foram num crescendo acompanhando o processo de liberalização política que coincide com decretação da Anistia em 1979 e que vão ganhando densidade até seu ponto culminante na campanha das Diretas Já em 1984.


Pois é, foi nesse mesmo local ou mais precisamente na varanda do bar Velloso, no cruzamento das ruas Prudente de Moraes e Montenegro, que Tom Jobim e Vinicius De Moraes – segundo a lenda - viram Helô Pinheiro passar “num doce balanço a caminho do mar”. Parece que foi aí mesmo, em frente ao coqueiro verde, que Erasmo esperou uma eternidade, fumou um cigarro e meio e Narinha não veio. Foi Leila Diniz, musa da Banda de Ipanema quem, refletindo uma época que ela própria estava encarregando-se de mudar, aconselhou ao Tremendão a não vacilar e assumir sua identidade fixa, sólida, de homem que tem que ser durão e assim foi se embora a ler seu Pasquim.


Coincidências ou não, o Pasquim é de uma época de sólidas identidades como confirmaria, lá na frente, a galera do Caceta e Planeta: “mãe é mãe, paca é paca”. Como vemos, tudo certo. Tudo em seus devidos lugares, diferente do mundo atual que se caracteriza pela fluidez, pela dança das identidades, hoje móveis e na mais fixas. Naquele momento, a identidade se constituía e afirmava na luta contra a ditadura e na luta para driblar a censura que reapareceu com a decretação do Ato Institucional Número Cinco, em 13 de dezembro de 1968. 


Coincidência ou não, nessa mesma data o Comendador Alfredo Jacinto Mello, abriu as portas do bar Bip Bip, centro de resistência, comemoração e afetos.


Coincidência ou não, quem se encarregava da censura do Pasquim, era o pai da já famosa Garota de Ipanema. Garota que era uma uva antes de se tornar nome de botequim.

 

 

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