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Foto do escritorLéo Viana

ESTRELA


Leo Viana


Eu sou o Sol!!! Adoro isso! É uma das homenagens que mais me emociona. Não fez sucesso na Terra inteira, mas o Brasil cantou muito. É daquele menino, o Benjor, que aliás ainda era Ben naquele tempo. Mas é tudo muito rápido. Passa logo. Vou falar um pouco de mim. Não é excesso de autoestima. É que eu sou o Sol mesmo. Aquele que nasce de manhã mais ou menos na hora em que você acorda nos dias mais sérios. No Brasil eu sei que é assim. Eu sei de tudo. Tudo o que você conhece por história aconteceu sob minha supervisão direta. Mesmo à noite, hehe.


A vista daqui é uma beleza, provavelmente a melhor da região. A região é grande pacas, é verdade, mas ao menos aqui da parte que me cabe, a posição é boa mesmo.

Sou uma estrela de quinta grandeza, vocês devem lembrar. Não tenho grande destaque entre meus pares, mas aqui no meu botequim mando eu. Somos muitos, mas vocês não conhecem. A maior parte do pequeno conhecimento que vocês têm sobre meus pares é baseado em matemática. Pouco é observação. E eles ficam longe pra cacete, não dá pra ver mesmo com detalhes.


Faz um tempão que me confiaram esse pedaço pra olhar. Eu faço o que posso, distribuo luz e calor, ajudo na percepção da passagem do tempo. O tal do tempo, aliás, faz pouquíssima diferença pra mim. Foi uma medida que o pessoal da Terra criou pra dar sentido às coisas, mas não me afeta. Já que eles precisam, eu sigo fazendo a minha parte. Nem me mexo muito, eles é que ficam dando voltas. Me deixam até tonto, porque não é só a Terra, vocês sabem. Ela é mais interativa, de vez em quando manda umas coisas pra fora, já vieram até uns troços na minha direção, mas não aguentam o calor. Preferem o sentido oposto. Mas como eu ia dizendo, não é só a Terra. Os outros oito, incluindo Plutão, que é longe pacas, mal pega uma luzinha e demora horrores pra completar a volta, também ficam rodando. E rodam em torno de si próprios e em volta de mim. Tem o Saturno, exibido, com aqueles anéis; tem Júpiter que é enorme e lento; tem cometa que aparece de vez em quando; tem asteróide, tem luas em volta de alguns. É uma multidão de bolotinhas que, vista daqui, forma um conjuntinho até harmônico, não fosse esse movimento incessante. Eu reclamo, mas gosto.



 

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Agora, quem me dá alegrias mesmo, quase sempre e desde o início, é a Terra. Como eu disse, não sou ligado em tempo, mas, bem no comecinho, foi lá que uma estranha combinação de elementos deu origem à vida. E esse negócio, tal de vida, é muito dinâmico. Em pouco tempo as águas estavam cheias de umas coisinhas que aproveitavam a luz e o calor que eu mandava e aprenderam a desenvolver estruturas mais complexas. Em pouco tempo estavam ciclando nutrientes, umas comendo as outras, foram aumentando de tamanho, ocupando as áreas secas, umas ficaram verdes e se desenvolveram no solo, se especializaram na fotossíntese, que depende muito de mim e é de uma inteligência sensacional, uma das coisas mais complexas. Já tentei entender em detalhes, sei que os pequeninos começaram fazendo isso na água antes, mas prefiro só continuar mandando a luz e eles se viram lá. Com a abundância, uns seres saíram da água pra comer folhas na área seca e ficaram enormes. Muita comida...


Foi uma época de muita diversidade, cada bicho estranho e grande que era uma loucura. Até que deu ruim, uma pedra desgovernada bateu lá e foi um horror (eu não consigo controlar tudo, nem nunca foi minha intenção...). O tempo passou e a natureza foi recompondo as coisas com a minha ajuda. Mandei calor, me afastei também por alguns períodos em que tava meio de saco cheio, sem perspectiva. Eles chamam lá de Era Glacial, mas foi só um tipo de período sabático que eu fiz umas duas ou três vezes.

Mas tudo mudou quando pintou por lá, num desses lances sobre os quais eu não tenho nenhum controle além desse negócio de mandar luz e calor, o tal de homem. De mansinho, os unicelulares que boiavam num caldo grosso, foram ficando cada mais vez mais complexos, saíram da água, cresceram, tiveram o problema do meteoro e tudo. Mas na volta da normalidade, depois da encrenca toda, uns bichos diferentes apareceram, com sangue quente, dando leite e, o mais impressionante, dentre eles um que logo andou em duas patas, submeteu a maioria dos outros e hoje manda quase tanto quando eu nos destinos do planetinha azul. Em simultâneo ocupou grande parte do mundo fora d’água. Só a Antártica não fez sucesso. E desenvolveu culturas diferentes em cada lugar, quase todas influenciadas em maior ou menor grau pela intensidade do calor e da luz que eu mandava. Aí virei estrela, com trocadilho, por favor.


Daqui, lembrando que não tenho muito a noção de tempo, eu vou me emocionando com as homenagens que me fazem. No Egito era muita coisa. Rá era o deus principal deles e me homenageava. Não era pra menos, porque lá eu chego com força o ano todo. Sem grandes tecnologias, a agricultura deles era conduzida por mim e pela água do Nilo, com as chuvas das cabeceiras de tempos em tempos. Se dependessem de chuva lá mesmo, estariam na merda.


Foi muita homenagem mundo afora, em tudo que é mitologia. Tem coisa na América Central, nas aldeias da África, nos Andes, no Himalaia, na Austrália. E eu passo todo dia pra dar uma olhada, dar aquela força e tal. Tenho pena do pessoal do extremo norte, porque lá eu fico seis meses, mas não adianta nada. Um frio do cão. Eles me homenageiam porque conseguem olhar um pra cara do outro durante parte do ano, mas nada que se assemelhe ao que acontece mais pra baixo.


Passadas as grandes mitologias, teve o Luis XIV, que se chamou de Rei Sol. Fiquei lisonjeado no início, mas o cara era muito exibido e, naquela altura dos acontecimentos, não podia fazer e acontecer em meu nome.


 

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Entre muitas homenagens, gosto dos nomes de jornal. São incontáveis The Sun e Le Soleil em diversas partes onde se fala inglês ou francês.

Mas como eu disse no início, pra além da homenagem que o Benjor me fez, eu gosto muito do Brasil. Usam menos a energia luminosa que eu mando do que outros lugares. O pessoal da China, da Espanha, essa turma usa melhor, transforma em energia elétrica. O Brasileiro leva mais na brincadeira, mas é um povo bom. Aliás, bem antes, por ação minha, eles nem se vestiam, que dirá usar energia solar. Secavam a carne e olhe lá. Os portugueses levaram essa mania de roupa, não deu muito certo, mas eles se adaptaram.


Enfim, eu teria muita história pra contar. Tudo o que aconteceu eu vi, ao menos tudo o que vocês acham que viram ou deram um jeito de contar. Sou das únicas testemunhas. Meus pares, as outras estrelas e mesmo planetas e asteroides, veem tudo de muito longe, o guardião mesmo sou eu. Esses jacarés e tartarugas, que são bichos velhos, tavam no episódio do meteoro, são crianças pra mim.

Pra vocês brasileiros, eu vi a chegada dos portugas, vi os índios pelados e felizes antes, vi e ajudei a construir as florestas, acostumei o cerrado e a caatinga com menos água e com fogo de vez em quando.


O que eu não tinha visto ainda, sob minha eterna guarda, é esse mico em que vocês se meteram de 2018 pra cá. Pra mim, eu repito sempre, faz pouca diferença o tempo. Foi um dia desses que Pedrinho tava num cavalo, em São Paulo, na margem daquele córrego gritando independência. Os portugas já tinham começado com a confusão de escravizar negro, escravizar índio e na percepção de tempo de vocês, isso durou um tempão. Pra mim foi rápido. Quando veio a tal da independência, achei que isso ia durar pouco, mas levou um tanto de anos até que se desse fim a esse absurdo. Vieram outros, não redistribuíram a terra e a renda. Tudo isso sob o Sol. Eu vi, mas não havia o que eu pudesse fazer. Tinha visto antes aqueles malucos entrando Brasil adentro em busca de ouro, matando tudo o que havia pelo caminho. Taquei calor na cabeça deles, mas não adiantou muito.


Muito tempo vendo as mesmas coisas, repetições de equívocos. Não falo nada, mas observo. O fato é que, como esse último sete de setembro, eu nunca tinha visto. Esperei pelo pior, uma repetição daquele março de 64, com os imbecis marchando sobre a sempre frágil democracia brazuca. Mas fui pessimista, isso não chegou a ocorrer. Castiguei Brasília e até muita gente inocente com uma secura danada por meses a fio, mas não adiantou. Juntou aquele monte de gente burra atrás do tal do mito, que tomou muito sol na cabeça e não tem os miolos no lugar. E vi pobre enchendo trem, ônibus e metrô no Rio de Janeiro pra bater palma pra maluco dançar em Copacabana, vi caminhoneiro chorando de emoção com o tal falso estado de sítio. Gente fui em quem fez esse mal todo às ideias desse povo? Vi até gente acreditando que o Adnet era o presidente e vice-versa. Eu já vi de um tudo. Vi a Alemanha nazista, a Itália fascista, os governos terríveis do leste, os guerreiros da idade média, os faraós, os romanos, muita gente doida. Mas nunca vi assim. Um movimento pretensamente nacional chamado por um tal Zé Trovão? Um caminhão não tem o charme do cavalo de um Átila, de um Alexandre, de um Aníbal, de um Napoleão. Vocês não imaginam o que é ver isso tudo sem poder intervir.


A minha parte eu fiz, mantive vocês quentinhos e alimentados. Quem decidiu entregar pra essa corja de malucos despreparados e com sérias limitações intelectuais foram vocês mesmos. E olha que eu passo todo dia aí, dei e dou o melhor de mim. Por vezes penso que deveria tem me dedicado mais ao Afeganistão. Nem árvore quase os putos têm, é uma aridez dos infernos e um frio demoníaco no inverno. Vocês, me parece, estão querendo ser como eles, caramba. Pra começar colocam essa besta no poder, cheio de maluquices religiosas e cercado de profetas do mal... Mas sou muito simpático a vocês. Vamos ver. Não sei exatamente o que fazer daqui, mas sei que já tá dando problema aí na tal da agricultura, que era pra comer, mas vocês têm esse olho grande e destroem tudo pra botar planta diferente, tem fixação por carne, queimam coisa pra viajar de um lado pro outro e aumentam o calor que eu já mando na intensidade certa. Tudo bem que vai mais pra Cuiabá e que às vezes eu perco a mão no Rio de Janeiro, em Palmas, Teresina...


Só não me digam que a culpa é do sol. Eu vou dar um jeito. Não vai ter sombra e água fresca pra esse maluco enquanto ele não largar o osso. E vocês, por favor, me ajudem. Vocês dão essa passadinha pela Terra, ficam aí menos de cem anos, na média. Eu tô desde sempre! No dia em que eu resolver sair fora, ou que queimar a energia toda, babau. Mas não tenho saco pra assistir outras vezes e esse espetáculo de horror que vocês deixaram rolar. Vocês evoluíram tanto pra dar nisso? Façam-me o favor... Zé Trovão?? Roberto Jefferson??


Qualquer hora eu sumo, vão reclamar.


Rio de Janeiro, setembro de 2021.


 

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