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Foto do escritorLéo Viana

FICÇÃO



A hora do almoço no congresso dos personagens de ficção infantil era sempre o momento mais tenso. A Chapeuzinho Vermelho queria levar sua cesta, no que era advertida pela polícia e pelo Lobo, que conheciam a história e lembraram que ela já teve problemas com isso antes.

Um outro lobo fazia questão de carne de porco no menu, mas foi impedido por um protesto veemente de um trio muito organizado que tinha inclusive trocado os alojamentos de palha e madeira por um de alvenaria, obra de um arquiteto conhecido.


A Branca de Neve se retirou revoltada quando viu que uma das sobremesas era maçã. Uma belíssima maçã francesa, de um vermelho brilhante, foi colocada em cada uma das mesas e isso desagradou muitíssimo à menina, que saiu com seus amigos anões e com aqueles passarinhos que a ajudavam a arrumar a casa.


A Cinderela não ficou muito contente com a insistência da organização em fazer pratos à base de abóbora. Lembrava que, numa emergência, poderia ficar sem a base material para que sua fada madrinha providenciasse o seu transporte.


Ainda no almoço, outras questões levaram a discussões acaloradas. O Pica Pau, ao ser acusado de incentivar a proibida prática de se descer as Cataratas do Niágara num barril, além de todas as outras maldades que fazia com seus coadjuvantes, reagiu dizendo que violenta mesmo era a perseguição generalizada de gatos a ratos em diversos desenhos animados, sem que houvesse uma efetiva intenção de comer os ratos, o que, no seu entender, justificaria a caça. Afinal, a segurança alimentar deve vir em primeiro lugar. Os ratos manifestaram-se imediatamente contra o passarinho insolente. Não a favor dos gatos, claro, mas de seus empregos. Um abaixo assinado encabeçado por Chumbinho, Faro Fino, Juca Bala, Ligeirinho e Jerry, mas também com a participação de ratos que nunca foram perseguidos por gatos, como Mickey e Minnie, recebidos como celebridades no evento. Participaram ainda o Remy e vários de seus parentes ratos de Ratatouille, além de alguns sobreviventes do Flautistade Hamelin, que concordaram em dar o testemunho do que foi aquele massacre.


Na maior parte do tempo, no entanto, o congresso se desenrolava sem maiores percalços, mesmo após uma polêmica palestra da Cuca, numa mesa em que outros personagens brasileiros tiveram participação relevante. A Cuca, buscando protagonismo, atacou a importância da Mula sem Cabeça - que só não perdeu a cabeça naquele momento porque já chegou sem ela -, do Boto, do Saci Pererê e do Curupira. O Lobisomem, cuja história tinha já ultrapassado os limites de vários países, teve de intervir, acalmando os demais e lembrando que a Cuca tinha problemas de autoestima e aceitação.


Alguns dos personagens também iniciaram um motim por não se considerarem personagens infantis e lamentavam a falta de um evento que garantisse a participação de seres fantásticos destinados ao público adulto. O Negrinho do Pastoreio liderou o grupo, com a participação especial da Loura do Banheiro, que nunca chegou a ser personagem de uma obra ficcional editada, mas povoou as memórias de gerações de estudantes no Brasil.


Um dos momentos de maior comoção foi a chegada do Pé Grande, vindo direto de uma Sibéria imaginária. A temperatura baixou um pouco na chegada dele, mas voltou a subir assim que o Mancha Negra chegou. Era esperado por todos, especialmente porque a Madame Min tinha preparado uma surpresa e dito a todos que eles haviam se casado após deixar aquela atividade intensa dos gibis. O Mancha teve um trabalho danado pra desmentir as fakenews da bruxa. Enfim, coisas que acontecem.


O Simpósio dos Fantasmas, que fazia parte da programação paralela, tinha o Fantasminha Camarada, o Gasparzinho e o Penadinho como palestrantes, mas a plateia, em grande parte invisível, não contribuiu muito com a repercussão do evento. Quem olhava, achava vazio.

O Gato de Alice foi apresentado ao Manda Chuva, Batatinha e toda a sua turma, além do Tom, do Bacamarte, do Garfield e de outros felinos que participavam do congresso. A primeira decisão tomada em conjunto foi fazer uma digna recepção para o pioneiro Gato de Botas - criação de Charles Perrault em 1697 - e para seu sucessor histórico, o gato do Shrek. Aprovada a moção, organizaram-se em torno das celebridades. Frajola fez um discurso emocionado. A gata dos Saltimbancos e os Aristogatas apresentaram um número musical aplaudido e miado efusivamente por todos.


Só voltaram a silenciar quando os cachorros chegaram. A chegada do Pateta, que trazia o Pluto pela coleira, causou certo desconforto nos presentes, mas não o suficiente para diminuir o brilho do evento. A Dama e o Vagabundo chegaram com seu icônico prato de espaguete, o Viralatas veio voando, Hong Kong Foo fez umas demonstrações de golpes de Caratê, ScoobyDoo provocou gargalhadas quando tentou se aproximar da sala dos fantasmas; Bandit, o cachorrinho do Johnny Quest, cheirou o calcanhar de todos os participantes do evento e chegou a fazer xixi no pé do Pinóquio, que se encontrava sozinho numa sala destinada ao mentirosos.


Dentre os gorilas, apareceram Maguila, super tranquilo e risonho, e o King Kong, que não estava pra conversa e reclamou imediatamente com a organização porque não lhe foi oferecido um edifício alto, onde pudesse se equilibrar.


Catatau, Zé Colmeia, Urso do Cabelo Duro, Ursinho Pooh, Matraca Trica e outros ursos (incluindo a família da história da CachinhosDourados), fizeram uma grande tempestade de ideias sobre o papel da espécie no imaginário infantil, especialmente considerando que grande parte do mundo não tem ursos, o que exige uma dose extra de abstração.


Outros grandes homenageados foram os leões. Simba e Mufasa chegaram ovacionados por Alex (de Madagascar), Lippy (o amigo da hiena Hardy), pelo Leão Covarde (d’O “Mágico de Oz”) e pelo Leão daMontanha (que nem é um leão, mas um puma. Foi só pelo título). A organização lamentou não ter contactado outros leões famosos, mas o público, todo de ficção mesmo, ficou muito impactado com a homenagem.


O encerramento guardava uma surpresa, após as confraternizações. Foram homenageados os Flintstones, os Jetsons, os Muzzarelas, os Herculóides, os participantes da Corrida Maluca, os personagens dos Apurosde Penélope, incluindo o pior dos vilões (e o mais burro!), o Tião Gavião. Foi ele quem abriu a porta, do alto de seu histórico de golpes fracassados, para a entrada dos militares brasileiros que atuaram no governo passado, todos dizendo que eram honestos e que não tinham envolvimento com os atos de 08 de janeiro, com os desmandos do governo, com os acampamentos na frente dos quartéis.


Os personagens da literatura não acharam leal a concorrência, mas não podiam discordar da participação. Eles eram de verdade, mas a conversa deles era muito menos real que um texto do Bob Esponja ou da Bela Adormecida...

Dick Vigarista e seu cachorro Mutley, claro, juntaram-se a eles para o coquetel final.


Rio de Janeiro, julho de 2023.


 

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