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Foto do escritorLéo Viana

FIXAÇÃO



Já me acusaram de fixação no tema. Houve até quem sugerisse uma distração nova.

Entendo. Mas definitivamente, não é a falta de distrações que me fez insistir no assunto. A título de curiosidade, a biblioteca aqui de casa tem milhares de títulos (que disputam espaço com a gente...), temos assinatura de várias dessas plataformas de streaming, fora uma impressionante coleção de cd’s e mp3, o que garante música e cinema pra ver por três vidas seguidas, mais ou menos. E vivendo no Rio de Janeiro, nunca foi difícil arranjar o que fazer pra ocupar eventuais horas de lazer, convenhamos.


O trabalho me ocupa tempo enorme, muito mais do que eu desejaria, e ainda tem a música, meu xodó, que me exige alguma dedicação. Não sou profissional, mas gosto muito.

De uns tempos pra cá, entretanto, assumo minha talvez excessiva ocupação com o desvendamento do mistério da ignorância coletiva. Verdade também que não estou sozinho nessa inglória busca e que outros investigadores têm notado, como eu, que nem sou um, um progressivo desaparecimento do objeto de estudo, ainda que os bandos restantes se mantenham muito expressivos. Em genética talvez se dissesse que a redução da população faz com que haja maior expressão dos genes que caracterizam a espécie. Mas acho que isso nem é verdade. Devo ter inventado agora, juntando – equivocadamente, claro - os rudimentos de conhecimento de genética que me restaram.


A minha dedicação, no entanto, não tem logrado grande avanço. De tempos em tempos, a intervalos nem sempre regulares, recorro a eventos passados, na ânsia de entender o que pode ter acontecido com essa gente toda, historicamente tão pacata. Talvez me falte – provavelmente é isso mesmo – a capacidade dos pesquisadores de ofício, pra transformar em dados as observações de campo. E, convenhamos, sob essa ignominiosa pandemia, falta campo também. A observação via redes sociais não permite ver aqueles detalhes que ajudam a tomar conclusões. Atrás do perfil só tem gente bem sucedida e empresários sorridentes. E ninguém tá perto. É de Cancun pra lá. Numa rápida olhada em qualquer rede, parece que Fiji tá mais popular que Araruama. Não sei se a 1001 tá fazendo linha pra lá... Vou procurar saber.


Os sucessivos fracassos de investigação não são suficientes para me deter. Minhas premissas são fortes, acredito. Fui criado a frango com quiabo, cuscuz de tapioca com coco, arroz e feijão, fígado na manteiga, angu à baiana, rabada com agrião, pudim de pão, sardinha frita e frango assado de padaria, dentre outras iguarias da baixa gastronomia popular. Elas faziam parte do meu dia a dia e do cotidiano de grande parte das famílias pobres da Baixada Fluminense. Neste ponto, estabeleci um marco territorial, delimitei uma área geográfica de estudo. Será que errei aí? Talvez tenha sido isso...

Era uma abrangência possível. Mas depois descartei.


De qualquer forma, não posso evitar as perguntas: Como terá sido a transformação daquelas senhorinhas evangélicas (o fenômeno pentecostal pode ser novo pra maioria das pessoas, mas quem viveu na Baixada dos anos 80 sabe que isso vem de longe) nessas enlouquecidas adoradoras do mal? Como foi que aquela gente, que reprimiu os meus primeiros palavrões, hoje acha que o enviado de deus (sempre em minúsculas, no caso) é esse boca podre que chegou à presidência? Mais ainda, como foi que aquela legião de pudicas senhoras avessas a ironias e duplos sentidos, cujas faces ruborizavam diante de cenouras ou mandiocas mais robustas na feira da Pavuna, hoje idolatram as expressões chulas transformadas em discurso oficial pela família unida nas rachadinhas?


As mesmas donas que levavam os filhos pra vacinar em todas as campanhas hoje renegam as vacinas, juntamente com alguns de seus filhos e filhas, que sobreviveram graças a essas mesmas vacinas. Não sei dizer aqui com precisão, mas nenhuma das epidemias que grassaram nos anos 70-80 foi tão mortal quanto a pandemia de Covid19. E isso, pra eles todos, não parece fazer a menor diferença.


Acho que há muito o que fazer por aí. Não é trabalho pra um amador preguiçoso como eu, que costuma desistir das investigações bem antes que se consiga chegar a resultados interessantes. A dispersão é tão grande que em geral eu mudo de assunto antes que o assunto se firme como tema principal, mais ou menos como aquele interlocutor que lança uma palavra imprevista... Cavalo!

A última semana, com aquele arremedo de discurso em NY, a pizza na calçada, o orgulho de não ter se vacinado e outros comportamentos que a civilização urbana, como a conhecemos, já tinha normatizado e superado em ocasiões como aquela. Não custa lembrar que falsos discursos e pizza na calçada são práticas que não podem ser consideradas estranhas na vida da maioria das pessoas, mas há circunstâncias, como a Assembleia da ONU, em que elas são comparáveis a defecar na sala, por exemplo. Orgulho em não se vacinar, talvez algum rato de laboratório, em nome da ciência, possa exibir algo parecido. Em humanos ainda não tinha sido observado. E, bem, continuamos com a dúvida.

Esse modo de viver, de pensar a vida e – agora, subitamente - de governar, tinha sido esquecido por grande parte da humanidade. Ao sermos acordados com esse susto, também fomos acordados para o fato de que o inimigo mora ao lado, no 402, na casa da vila, na favela, na cobertura ou na casa do zelador, tá espalhado por aí.


Não é a maioria, podem não ser todos necessariamente caçadores de javali ou adeptos das rachadinhas que apoiam, mas compraram um discurso que foi muito, muito bem embalado, decorado com religião e com fortes doses de um moralismo doentio, que só vale da boca pra fora e para os outros, é claro. E se eu fosse um javali, evitaria passar na frente deles.

Estão acabando. Ambos. O texto aqui e o breve reinado da insanidade, implantado com aquela micareta de 2013, apoiado freneticamente pela grande mídia hoje arrependida e que deu na sequência de eventos que nos trouxe a esta fossa fétida.


Quando eu era criança, vi muitas vezes o desentupimento de fossas. Era comum na Baixada. Só nunca imaginei o Brasil dominado por aquele conteúdo fedorento, como nas séries japonesas de monstro. Aconteceu. E da pior forma, pela via da democracia, atingida por dentro por um tipo de doença.


Os agentes patológicos vão continuar zanzando por aí. Há muitos germes espalhados. Mas que essa contaminação tenha servido como imunizante.

Listinha rápida: Amazônia, indígenas, armas, racismo, machismo, quebra dos projetos culturais, descaso com a educação e as universidades, política internacional, negacionismo científico, inflação.


Doeu mais que vacina.


Rio de Janeiro, setembro de 2021.



 

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