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IMPRESSÕES


Leo Viana


Há dois anos, por uma dessas sortes que às vezes nos permitem estar no lugar certo e na hora correspondente, eu e meu cavaquinho fomos convidados a nos juntar ao um grupo que ia à China tocar samba enredo num festival internacional de música. O festival se dizia de juventude, eu já tinha mais de 50 anos na ocasião, mas vale o espírito. Eu era o decano do grupo do Brasil, mas no festival tinha gente mais antiga. Poucos, é verdade, mas havia. Após as peripécias possíveis nas 24 horas de vôo que fizemos pra chegar, passando por São Paulo e Adis Abeba (ou Addis Ababa, que é como tem escrito em toda parte por lá), uma daquelas capitais que você decora na oitava série, mas que nunca imagina que encontraria pessoalmente, desembarcamos no universo paralelo que é o país do Mao Tse Tung, dos pandas, do kung fu e de grande parte das mercadorias consumidas pela humanidade, de chaveiro a Iphone, passando por roupas e tudo o mais que você imaginar. Um produto muito em evidência nesses dias é a vacina...


Daqui pra diante, dou uma humilde e sincera guaribada num texto que escrevi no início de agosto de 2019, quando voltamos.


Dizer que conheço a China seria muita pretensão. Mas estive lá. Quantitativamente, em população ou área, estivemos longe de chegar a 1%, ou de 0,5% talvez, de abrangência na curta temporada. Fomos com um objetivo específico de mostrar a cultura do carnaval das escolas de samba. Fizemos, como diriam os Cassetas, "com fortes restrições orçamentárias", mas fizemos. E o povo aplaudiu. Músicos e produção competentes (a modéstia aqui passou longe...) e uma bela passista são garantia de aplauso!

Mas vim escrever, como sempre faço depois de ir a um lugar novo, pra deixar impressões pessoais e intransferíveis.


O pedacinho de China que eu vi é uma obra em construção. Pelos espaços visíveis entre os grandes condomínios e centros comerciais, aparecem, muitas vezes, antigos conjuntos habitacionais baixos, sujos e feios, em grande parte já desabitados, sendo demolidos pra dar lugar a novos. Se parecem muito mais com a Vila Aliança, a Vila Kennedy e a Cidade de Deus do que com a grande Barra da Tijuca que se revela em primeiro plano.

Os grandes - imensos mesmo - núcleos residenciais são geralmente cercados ou entremeados por grandes àreas verdes. As ruas são muito arborizadas e há muitos parques. Nas proximidades dos núcleos residenciais há pouquíssima gente andando pelas ruas.


Em Chengdu estão sendo construídas, além de mais megacondomínios (há sempre grandes guindastes de obra no horizonte), concomitantemente, mais umas 3 linhas de metrô. Já há várias em funcionamento.


Sob o ponto vista estritamente urbanístico, e considerando o imenso tamanho, Chengdu é mais bem organizada que QUALQUER cidade do Brasil.


Há ambulantes nos pontos turísticos. No caso de Chengdu e Pengzhou, vendiam principalmente souvenires de pandas e frutas locais. Me arrependo de não ter provado uma que parece uma laranjinha acesa.


A grande Tianfu Square, a praça central de Chengdu, onde fica a maior estátua de Mao Tse Tung em toda a China, é cercada por grandes museus, de arquitetura contemporânea e imponente. Há um shopping embaixo da praça, também teatros e shoppings por perto. Fomos ao Museu da Ciência e Tecnologia. Gratuito. Imponente. Destaque para o programa espacial chinês e para os robôs. Muita coisa sobre saúde e prevenção de grandes desastres. Um robô que montava um cubo mágico, bagunçado aleatoriamente por qualquer pessoa, em segundos. Voltado pra crianças e adolescentes o museu, mas impressionante pra adultos brasileiros.


As viagens entre os núcleos residenciais e comerciais passavam sempre por grandes áreas de baixa densidade populacional. Elas eram as vezes ocupadas por pequenas lavouras de milho, girassol, soja, feijões (o que deu pra reconhecer em trânsito…) ou pareciam ser preparadas pra futura ocupação urbana.


Tocamos numa cidade que parecia mais um parque temático de inspiração ocidental, com cafés, restaurante com vinhos franceses, lojinhas de comidas e souvenires, hotéis, serviços. Até uma igreja católica faz parte do cenário! Pela localização, longe das cidades e do parque dos pandas, parecia muito voltada para os chineses, como aliás, quase tudo lá.


E aí minhas humildes opiniões:

1) a prioridade da China é o mercado interno. São quase 2 bilhões de cabeças. Imagine essa quantidade de gente reclamando das coisas?


2) Não sou maoísta, longe disso, mas considerando o peso chinês no mercado do mundo de hoje (compram tudo que o mundo oferecer em commodities e vendem tudo que o mundo precisar em produtos manufaturados), não posso, nem em sonho, dizer que o modelo chinês está errado. Pelo menos no pedaço de China que eu vi, frisando sempre;


3) A juventude de Chengdu e Pengzhou consome como a juventude do ocidente, incluindo aí Mcdonald's, Burger King, Pizza Hut e Starbucks, onipresentes lá. Muita marca chinesa de roupa que não vem pro ocidente. E muita marca ocidental bombando lá. E tem C&A, HM, Walmart. Carro chinês é raro;


4) Tenho pouca dúvida sobre a iminência de um futuro domínio chinês do mundo. Mas acho que todo domínio é ruim.


5) Foi sensacional passar dez dias viajando com uma turma gente boa naquele pedacinho de China!!


6) Mesmo sendo pouca China, tinha que ser textão. Tudo lá é enorme. Visitei, entre outras curiosidades, o maior edifício em área construída do mundo, o Chengdu Global Center. Fui também ao sensacional parque dos pandas, provavelmente um dos únicos zoológicos do mundo dedicado a um animal só. Mas ele merece. E o trabalho de pesquisa desenvolvido lá certamente contribuiu para que os pandas gigantes saíssem da lista de animais ameaçados de extinção.


Não faço ideia, dois anos depois de ter estado lá, como Chengdu se comportou com a pandemia de coronavírus. Mas trata-se de uma grande cidade, com cerca de 11-12 milhões de habitantes (verdade que eu nunca tinha ouvido falar nela antes de ver o meu bilhete de passagem...).




A impressão que fica é a de que, do mesmo jeito que a Ásia consegue, com suas especificidades, manter o ocidente afastado, apesar de ser a meca do enriquecimento rápido já há algum tempo, inclusive mantendo o desconhecimento de grande parte do mundo sobre Chengdu, como se aquilo fosse uma vilinha escondida no final de uma estrada vicinal do Centro Oeste do Brasil, vamos continuar sem saber grande parte do que acontece lá.


Mas cada dia mais vivemos à sombra das indústrias e do desenvolvimento dos asiáticos, especialmente quando nossos governos abrem mão de projetos próprios de desenvolvimento científico e tecnológico ou investem no setor primário mais do que nos demais, fazendo com que a cada dia mais nos aproximemos dos ciclos dos Brasis-Colônia-Império-República Velha, somando soja, milho, carne e minério de ferro aos antigos cana de açúcar, algodão e café e nos distanciemos da velocidade com que os orientais, e grande parte do mundo todo, investe em grandes projetos ambientais ou que exijam forte qualificação de mão de obra.


E só lembrei de tudo isso porque hoje chegou um celular novo aqui. Direto da China.


Eu assumo. Sou fã deles.

Rio, julho de 2021.


 

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