INDIVIDUAL E COLETIVO
Aqui da minha posição – sentado em frente ao computador, com um horizonte limitado pelas paredes de casa já há algum tempo (tenho até uma vista boa, dá pra ver o mar ao longe, a cidade...) – enxergo duas grandes dificuldades, entre tantas outras para as quais nem é preciso olhar pra ver. A primeira é a dificuldade de compreensão do outro, a tão falada falta de empatia, cantada em verso e prosa nos últimos tempos. Tempos que, aliás, parecem últimos mesmo, como certamente pareceram os tempos da peste, do nazismo, do fascismo, do stalinismo, da inquisição e tantos outros últimos tempos que passaram. E a digressão é tão grande que quase perco a segunda grande dificuldade. Pois deriva da primeira, vem junto com a dificuldade de compreensão, e é essa vontade incontrolável – e notável em todas as partes envolvidas – de criar sua própria versão dos fatos.
Então, temos o cenário quase perfeito pra um embate sem vencedor ou vencidos. Ninguém quer entender – e reconheço que há coisas efetivamente muito complicadas pra se entender no mundo contemporâneo – e cada um quer criar a história a seu modo. Ou a sua própria narrativa, como se tornou clichê dizer.
Se a gente ficasse só na incompreensão, tava mole. Passei a vida sem entender direito uns conceitos de cálculo diferencial e não morri por isso. Um monte de gente não sabe nem do que eu tô falando. E nem precisa. Ninguém é obrigado a saber cálculo diferencial, a não ser que você curse disciplinas de cálculo na faculdade. Atualmente, há máquinas que resolvem isso pra você num piscar de olhos. Talvez eu tenha sido só um pioneiro ao não aprender direito... O problema seria grave se, além de não pegar o conceito, ou pegar a visão, como se diz hoje, eu também tentasse inventar o meu próprio cálculo, em conflito com o conhecimento já estabelecido. A gente pode até não confiar muito nos engenheiros estruturais de hoje em dia, mas confiaríamos muito menos se eles não aplicassem nada do que aprenderam e simplesmente inventassem um jeito de fazer.
Chegamos à época da ignorância orgulhosa, um tempo em que as pessoas se orgulham de não ter aprendido o que é a regra e se orgulham mais ainda de inventarem suas próprias regras, à revelia de qualquer rudimento de sociabilidade. O Contrato Social, aquele do Rousseau, parece ter virado apoio pra uma mesa bamba.
Há poucos dias uma publicação nos fez lembrar que o Michel Foucault alertou, no final dos anos 70, para o fato de que talvez estivéssemos vivendo o fim da política, com a adoção do eu como parâmetro pra tudo. Começávamos a perder as referências coletivas e iniciávamos a era do eu absoluto, ele só estava avisando. Uma sociedade em que cada um teria o seu próprio rei na barriga. E a esquerda inclusive, num daqueles momentos de busca da crista da onda, pra usar uma expressão que ainda se usava naquela época, entrou de cabeça na história, sem perceber que talvez estivesse atirando no próprio pé.
O resultado é claro como água pura. E está muito além do ilimitado empreendedorismo, que parece querer eliminar as pessoas físicas em benefício das jurídicas, especialmente porque os poderes governamentais constituídos foram aos poucos direcionados para um atendimento diferenciado aos entes comerciais, em progressivo esquecimento do cidadão sem CNPJ.
Ninguém quer aqui minimizar a importância das empresas. Ajudaram a construir a sociedade como a conhecemos (talvez não seja essa a melhor referência, mas enfim...), mas não são substitutas para a cidadania.
Como também talvez não seja o empreendedorismo o maior de nossos problemas. A coisa parece ficar grave mesmo quando entra a tal da narrativa. Com cada um construindo a sua, sem qualquer preocupação com a interação com as demais, tidas como adversárias, a consolidação de uma história coletiva parece ficar quase impossível, ou ao menos sempre em discordância com grande parte. A evolução dos meios de produção e difusão de riquezas e de conhecimento, como um grande tiro pela culatra, parece em nada ter contribuído para que riquezas e conhecimento fossem de fato mais bem distribuídos. Concentra-se muito mais dinheiro e informações, ao menos aquelas que efetivamente importam. As que chegam a todos, indiscriminadamente – e democraticamente, por quê não dizer? – em muitos casos, e apesar do esforço dos jornalistas, nem sempre primam pela origem insuspeita.
Mas nem tudo é pessimismo. Quando o estado liberal nem faz esforço pra parecer isento em sua sanha contra o cidadão e em favor do balcão de negócios, especialmente aqui no sul maravilha do mundo, ao menos escancara suas intenções e possibilita a reação da galera. Epa!! O problema é que a “galera”, encastelada em seus “eus” superlativos, muito mais preocupada com seus empreendimentos do que com eventuais lampejos de ação cidadã e desprovida dos elementos de cultura coletiva - essa coisa subjetiva – substituída pela ação em rede a partir de iniciativas individuais, pode se perder num universo de narrativas conflitantes e não avançar na direção da solução dos problemas.
Sei lá. Não sou um teórico e nem tenho leitura suficiente pra oferecer solução pra tanta inquietação. E nem adianta procurar no Google.
Cá comigo, fico com os versos geniais de Noca da Portela e Délcio Carvalho em “Vendaval da Vida”: Vou sorrindo com o meu interior chorando/amargando o meu viver sofrido/assistindo ao que se vai passando/eu vou resistindo. E no trecho que considero dos mais sensacionais da MPB de todos os tempos: Resistindo/no meu peito o vendaval da vida/aplaudindo a quem já vai subindo/amparando a quem já vem caindo.
Ao fim e ao cabo, numa sociedade com pouca coesão e com Estados liderados por irresponsáveis pregadores do individualismo radical, quem resolver amparar quem vem caindo vai ter sempre muito o que fazer...
As minhas respostas, eu sigo tentando buscar – e normalmente as encontro - quase sempre em possibilidades coletivas. E dentre elas, claro, as rodas de samba! Recomendo muito!
Rio de Janeiro, julho de 2021
O que rola de relevante na internet?
Roda de Samba!
O Melhor da MPB
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