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Foto do escritorLais Amaral Jr.

Juarez anula testamento em noite de Mocotó




Terça-feira à noite eu fui degustar um mocotó invocado,

preparado pelo Juarez Antônio, da encadernação, que é um

tradicional seresteiro da cidade. A função foi na casa do próprio, no

bairro Alvorada. Também estavam lá, para atestar os dotes culinários

do Juarez: o seu irmão Lico, o Zé Maria, que atacou no violão ‘Chico

Mineiro’, ‘Galopeeeeeira’ e outras. O Cérgio (com ‘C’) da Adega 79 foi

o último a chegar, mas, levou uma garrafa da São Bento, aquela

branquinha boa de Areias. O mocotó estava divino. Fui três vezes à

fonte. A iguaria preparada com canelas de bovino ganhou graça e

sabor, como diria Sandra Moreira, depois de dois dias de disciplinado

cozimento em panela de pedra e num fogareiro muito estranho e

original, feito de concreto armado.


- Gastei só dois reais de carvão - informava o anfitrião.

Em dado momento, ainda antes do Cérgio chegar, Juarez foi até

ao fundo do quintal, com pá e enxada para exumar uma garrafa de

pinga com sumo de maracujá, enterrada há três meses. Provamos.

Estava suave, com os caroços acomodados no fundo. Quando Cérgio

chegou, o trabalho já estava feito e a iguaria alcoólica exibida sobre a

mesa. Ele ficou sério. Cérgio era o único herdeiro da garrafa.


É que quando o Juarez andou meio desanimado com a própria

saúde resolveu enterrar a pinga e disse só paro o Cérgio, onde

encontrá-la em caso de seu passamento: “Entre o pé de acerola e o

muro”. Mas isso foi antes. Agora o Juarez está animadão, vendendo

saúde e achou melhor anular o testamento. O mocotó foi pra

comemorar a vida. Azar do boi...


Vertendo água pela flauta


Mais uma de nossas lendas urbanas. Limito-me a identificar o

protagonista pela inicial ‘W’. Ele, com toda certeza, negará com

veemência ter sido o personagem central da ocorrência.

A noite ainda não era alta e a conversa já era animada num

conhecido boteco da cidade. A cerveja descia resoluta estimulada por

aquela sede de anteontem dos notívagos e começava a provocar a

força da irrevogável Lei da Gravidade. Como toda ação implica numa

reação e tudo que entra tende a sair, o pequeno banheiro foi ficando

pequeno para a frequência e a intervalos de tempo cada vez menores.

Foi numa dessas que nosso herói, não suportando esperar o fim da

fila, optou por saciar sua necessidade fisiológica atrás de uma

providencial árvore, nas proximidades. Deu-se o esquisito fato que

resumo em uma frase: ‘W’ fez xixi nas calças.

Descrevo o acidente. O ato de urinar alivia o organismo do

excesso de líquido, mas não do efeito provocado por determinados

líquidos. Pois então, em vez de sacar o seu órgão natural e próprio

para o ato de verter água, nosso amigo, num prodígio de confusão

manipulativa, confundiu o dito-cujo com a ponta do seu cinto que saíra

da presilha. Relaxado e admirando as estrelas, deixou-se aliviar.

Quando o leve estado de entorpecimento permitiu-lhe sentir a

quentura que descia perna abaixo, já era tarde. A turma já ria às

bandeiras despregadas e ‘W’ já estava inscrito nos anais do

anedotário municipal.


Restou-lhe como epílogo, o comentário inusitado, com o olhar

perplexo voltado para o cinto: “também, com o pênis parecendo uma

flauta, tinha que dar nisso!”.


* Publicada no livro Fala, Botequuim

 

Escute Evandro Lima




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