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CARNAVAL

Léo Viana, para CRIATIVOS!



Léo Viana

Ela vinha descendo Santa Teresa a pé.


Segunda de carnaval, ônibus raríssimos, ruas tomadas de gente entre a ressaca e a euforia.

Se sentia mais feliz que nunca naqueles quatro dias mágicos, esperados com ansiedade crescente à medida que se aproximavam.


Tinha seus rituais: vários blocos pré-carnavalescos com os amigos do escritório, mas sem bebida. O calor do final/início do ano quase exigia cervejas. Mas não se dava a esse desfrute com a turma do trabalho. Mantinha uma postura que nem sabe se era mesmo necessária. Mas mantinha.


No carnaval o ritual era diferente. Se perdia propositalmente dos colegas de todo dia e se encontrava com a “galera do carnaval”. Eram amigos de época. Praticamente não se encontravam durante o restante do ano, salvo um ou outro esbarrão aleatório pelo Centro da Cidade. Muitas vezes evitava deliberadamente os encontros. Medo de quebrar o encanto da folia. O arlequim da avenida, num terno apertado, suando, na Rio Branco poderia não ter a mesma simpatia e graça. A tirolesa engraçadíssima, candidata a melhor amiga na concentração do Simpatia, de tailleur entrando no BNDES poderia não corresponder às mesmas expectativas. A melindrosa saindo daquele call center de uniforme...


Não que tivesse qualquer preconceito ou restrição às atividades ou cotidiano dos outros. Ela mesmo era operadora de câmbio numa corretora no Centro. Trabalhinho sem graça. Mas era uma mania. E todo mundo tem as suas.



 

Playlist - Cantando e Sambando com Distanciamento Social Carnaval 2021 - Spotify

 


Encontravam-se no Bloco das Carmelitas na sexta-feira em Santa Teresa no meio da tarde. A folia se prolongava até a meia noite, mais ou menos. Afinal, no sábado era preciso chegar cedo ao Bola Preta. E o carnaval de rua, que já definhara no passado, tinha se tornado grande e forte como nunca. O encontro no Cordão da Bola Preta já tinha sido fácil, quando o bloco saía da Cinelândia, descia a Araújo Porto Alegre até a Rua México, entrava atrás do Museu de Belas Artes, ia até o Buraco do Lume, descia a Nilo Peçanha, cruzava a Rio Branco de volta e entrava na Carioca pra dispersar na Praça Tiradentes. Mas agora era enorme, mudara o trajeto e fechava todo o Centro. Conseguiam se encontrar. Davam sempre um jeito.


Livre das amarras do trabalho, enchia a cara com todas as bebidas alcóolicas que passassem na altura da boca e alguma água de procedência duvidosa, ao som da maravilhosa banda do Bola e de suas marchinhas e sambas.

Há alguns carnavais incorporara o Cordão do Boitatá ao seu domingo de carnaval. Aquele paraíso de gente fantasiada, uma multidão de crianças e adultos ao som da melhor música que se faz no Brasil, enfim, com chuva ou sol, era na Praça XV que o domingo se realizava. Sempre com a turma, sempre com aqueles amigos de poucos dias e muita intensidade.


Era com eles que partia quase ao fim do dia para Ipanema, a tempo de ouvir o grito “Alô Burguesia de Ipanema!!!” que marca o início do desfile do Simpatia, depois de encarar o metrô lotado.


Era extremamente feliz nesses dias. Não ligava nada pra quem chamava o carnaval de “alegria forçada” ou “ilusão passageira”. Era o alívio ideal para uma vida sem muitas novidades. Não casara, não tivera filhos, não vivera nenhuma grande paixão. E tinha suas manias. Mas seu hino era “Ela Desatinou”, aquela canção do Chico Buarque em que a moça continua sambando mesmo quando chega a quarta-feira de cinzas, sem dar bola pro fim do carnaval. Idealizava, mas nunca fizera igual. Na quarta normalmente ia trabalhar à tarde, ainda com alguma ressaca e a indefectível purpurina, que só sairia completamente lá pelo fim da quaresma. Mas ia. Festa de novo, só dali a um ano.


 

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Mas era segunda de carnaval e ela descia de Santa Teresa a pé. Passara grande parte da segunda se recuperando do porre pós Simpatia é Quase Amor, com direito a banho de mar noturno no posto 9. Ipanema inspira loucuras.


Enquanto descia, lembrava que não tinha marcado com o pessoal. Ou ao menos não lembrava. Mas seus points eram os mesmos. Encontravam-se no automático. O calor forte das 19h não era empecilho. Sabia que ia encontrar a Cinelândia meio cheia, tomada por vendedores ambulantes e nostálgicos acompanhando shows de antigas estrelas do carnaval no palco montado em frente à Câmara Municipal. À medida que caminhasse pela Rio Branco até a entrada da Almirante Barroso, onde se concentrava agora o Cacique pra subir a Chile, sentiria o adensamento da multidão e a mudança do público, agora mais jovem, disposto a encarar aquela turba. Mas vinha descendo calmamente, enquanto sentia suas projeções se concretizarem.

E foi no início do trecho final da caminhada que trocou olhares com o marujo com nariz de palhaço.



 

Música mais ouvida no site da Cedro Rosa, na semana anterior a 7 de Fevereiro.

Choro Fácil, de Jorge Simas. Discos Cedro Rosa,

repertório disponível para trilhas sonoras diversas.

 

Ainda não tinha encontrado com os amigos. E como tinha suas manias, não deu muita bola pro folião de olhos claros e pele queimada de sol.

O segundo olhar foi ainda mais marcante.

Se sabia bonita, mas tinha suas manias e se tornara – voluntariamente - desinteressante. Muitas vezes questionada sobre a ausência de namorados ou mesmo ficantes eventuais, desconversava.


O marujo não sabia de nada disso e insistia, a ponto de a desconcertar. A movimentação no meio da multidão é difícil, de modo que o passo não avançava muito e permitia a aproximação.

Não deu pra evitar o “oi”, dito ao pé do ouvido em voz forte, quase gritado, entre um compasso e outro do “Na onda do Cacique eu vooou...”

( continua...)


 

Sambas pra Cantar e Dançar


 

Há tempos não sentia um arrepio como o que se sucedeu àquele “oi”. Respondeu rápido e buscou, por cima da multidão, sobre o canteiro central da Almirante Barroso, encontrar os amigos. Não os encontrou. Atrás dela, o marujo.


Um turbilhão de coisas passou pela cabeça confusa - tinha suas manias - antes que decidisse dar trela ao desconhecido.

Abriu seu melhor sorriso (e ele era lindo!), respondeu ao “oi” e baixou a guarda. Em poucos minutos tomavam uma cerveja entre risos e sambadinhas acompanhando a bateria do Cacique. Legal, o marujo. Não era afobado, não avançava o sinal, vinha tratando respeitosamente a foliã que tinha permitido a aproximação, apesar da desconfiança inicial.


Uma mão no ombro, que nem era aconselhável com todo aquele calor, se sucedeu às mãos dadas ao longo da Avenida Chile.


De memória passou em revista o estado das roupas, inclusive íntimas. Talvez fosse o dia, depois de tanto tempo de abstinência. Nem lembrava mais quando havia se despido na frente de alguém. Mas era muito exigente consigo e sabia que não decepcionaria. Mantinha o corpo em forma com caminhadas diárias e dieta balanceada. Entre as manias, a praia. Arriscava a pele para manter um bonito bronzeado sem exageros. Fazia-se antipática e desinteressante para os outros, mas a figura era mantida em alto padrão, ao menos de acordo com o padrão imposto pela mídia. Tinha suas manias.


 

Playlist Roda de Samba das Mulheres / Spotify.

 

Cruzaram com mais dois ou três pequenos blocos antes de chegarem ao motel na Rua do Lavradio. Àquela altura, hormônios à flor das peles de ambos, nem lembrava dos amigos com que passara tantos carnavais e que possivelmente a estariam procurando em meio ao Cacique de Ramos. Rápida passada pela portaria do motel, elevador, quarto!


Corpos quase misturados, suados, purpurina, restos de confete no cabelo. A ânsia louca não foi maior que a necessidade de um banho. Ela foi primeiro.

Voltou e se pôs sensualmente a aguardar seu educadíssimo marujo, que sem saber ia praticamente reiniciar a vida sexual daquela foliã anônima.

Foi quando ele tirou a camisa para entrar no chuveiro que ela viu a tatuagem no peito. Um número 17. E no braço, o busto do então presidente do Brasil naquele carnaval de 2020.


Emudeceu, esperou ele entrar no banho, vestiu a roupa e saiu.


Ela tinha suas manias.


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Bom fim de semana e até sexta!


 

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Para Dançar!


Playlist - Roda de Samba - Spotify


Playlist - Excelente Interpretes para lindos sambas - Spotify


Playlist - Mário Lago e suas músicas maravilhosas - Spotify


 

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CRIATIVOS! é um diário digital voltado à Arte, Cultura e Economia Criativa e conta com a colaboração de centenas de artistas, criadores, jornalistas e pensadores da realidade brasileira.

Editado pela Cedro Rosa.


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