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Foto do escritorLais Amaral Jr.

‘Mar de Fezes’ afoga o governo federal



Ora, ora! Setembro! E a boa nova vai andar nos campos, costuma dar as boas-vindas, o primoroso, Beto Guedes. Agosto se foi. Passou batido. E eu que projetei falar alguma coisa pelo aniversário de morte de Getúlio Vargas nem percebi a pressa desse mês que causa apreensão em tanta gente. Getúlio deu um tiro no peito em 24 de agosto de 1954. Há 68 anos o tal ‘mar de lama’ o levou ao gesto radical, de abandonar a vida para entrar na história.


A expressão foi cunhada pelo próprio Getúlio ao comentar com um militar da aeronáutica responsável pelo inquérito que investigava o atentado da Rua Toneleros: “Tenho a impressão de me encontrar sob um mar de lama”. É o que afirma texto da Fundação Getúlio Vargas sobre o tema. E a expressão ‘mar de lama’ foi a bandeira da oposição para jogar luz sobre os indícios de corrupção do governo federal, o que teria se caracterizado pelas transações ilícitas cometidas por Gregório Fortunato, então o chefe da Guarda Pessoal do Presidente.


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No arquivo pessoal de Gregório Fortunato constavam subornos, empréstimos irregulares contraídos no Banco do Brasil, contatos com criminosos e a compra irregular de uma fazenda do filho de Getúlio Vargas. Na época a Imprensa fez eco ao ‘mar de lama’ para desgastar a figura do presidente. E olha que ainda não havia televisão. Décadas depois, Lula, que nem era mais presidente, foi bombardeado com horas diárias de telejornais, com injúrias que mais tarde foram desmentidas pela Justiça. E Lula entrou pra História, e vivo, como o melhor presidente do Brasil (com 87% de aprovação no fim dos mandatos).


Revolvendo a memória recente poderíamos identificar, sem forçar muito a barra, o Queiroz como o Gregório Fortunato do Bolsonaro. Seria demais? Logo no alvorecer do atual governo ele foi flagrado emitindo um cheque de 38 mil reais à primeira dama. Ali já não estaria sendo criado o ‘mar de lama’ ou atualizando, o ‘mar de fezes’ bolsonarista? Ainda mais quando é evidente que as ‘transações ilícitas’ já ocorriam desde os tempos que o atual inquilino do Alvorada nem era Presidente. Foram as “rachadinhas”, aproximação com milicianos e outras coisas fedorentas.


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Os ingredientes que constituíram o ‘mar de lama’ de Getúlio, estão todos aí, e em escala avantajada. E a mídia corporativa, morninha. Subornos não seriam também frutos de orçamentos secretos calando e enriquecendo parlamentares e parentes? E os empréstimos irregulares? Quem sabe um ‘pente fino’ no BNDES não revele irregularidades em favor de empresários que pedem a volta da ditadura? Os contatos com criminosos chegariam fácil no Adriano da Nóbrega protegido pelo clã Bolsonaro. Ele é aquele miliciano foragido e assassinado, que além do envolvimento com várias ações irregulares, tinha supostas ligações com o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco. E a compra irregular de uma fazenda não seria pinto comparada à avalanche imobiliária protagonizada pelo clã Bolsonaro?


Sobre esse escândalo recente, destaco dois pontos: Primeiro, o belo trabalho de jornalismo investigativo, da dupla Juliana Dal Piva e Thiago Herdy, que assinam a matéria publicada do Portal UOL. A denúncia paquidérmica, de que o clã Bolsonaro adquiriu de 1990 para cá, 107 imóveis e que 51 deles, com dinheiro vivo. O que parece não ter chamado atenção das autoridades. O segundo ponto foi o silêncio cúmplice da grande mídia corporativa. O exemplo mais flagrante foi o caso do Jornal Nacional. Mesmo a matéria já tendo sido dada no G1, que é o Portal de notícias das Organizações Globo e mais tarde no Jornal da Globo, o JN só repercutiu a notícia no dia seguinte, mas de um jeito extremamente protocolar, frio, assexuado.


E o caso do JN é emblemático, por ser o líder de audiência que liderou aquela campanha sórdida contra Lula, iniciada a partir de um apartamento triplex, que o ex-presidente sequer comprara. Atrás da bancada de Bonner e Renata, a arte de um grande cano de esgoto jorrando dinheiro, era o carimbo da campanha do antipetismo e a expressão ilustrada da suposta ladroagem comandada por Lula. E isso por dias seguidos. Foram horas no telejornal. Um massacre. Agora, o silêncio criminoso. Enquanto no exterior, a grande mídia ecoa. Entre eles, o The Guardian, o principal do Reino Unido, que destacou o escândalo de corrupção imobiliária, como indício claro de lavagem de dinheiro. O ‘mar de lama’ de Getúlio é uma poça se comparado ao atual ‘mar de fezes’ que afoga o governo Bolsonaro. Que setembro traga boas novas, antevendo um outubro redentor. Vamos com fé.


“Quando entrar setembro

E a boa nova andar nos campos

Quero ver brotar o perdão

Onde a gente plantou

Juntos outra vez

Já sonhamos juntos

Semeando as canções no vento

Quero ver crescer nossa voz

No que falta sonhar” (Sol de Primavera – Beto Guedes/Ronaldo Bastos)


 

Música e Sociedade.


Evandro Lima e dois parceiros: Lais Amaral Jr e Sergio Fonseca, na Spotify.


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