Martha Carvalho: mulher interiorana, antiga, cerimoniosa, cosmopolita. Universal

A escritora, cronista e poeta, Martha Carvalho Rocha lançou na quarta-feira da semana passada, dia 12/02, no Museu de Arte Moderna de Resende, em noite muito concorrida, seu livro de crônicas Esperança Malograda, que inclui sua autobiografia Ao capricho do acaso.
Martha se define como uma pessoa simples, Interiorana, antiga e cerimoniosa. Um ser cotidiano, que teria nascido para ser envolvido com as questões comezinhas do dia-a-dia, típicas de uma pessoa que foi criada e viveu boa parte da vida num pequeno distrito rural de uma cidade do interior do Estado do Rio.
Mas a menina do interior foi crescendo, ampliando as passadas pela vida, morando em grandes e imensas cidades, no país e no exterior. Interiorana e do mundo. Ser escritora, e destacada, não dependeu dela, costuma afirmar. Foi o destino, diriam alguns, ou sabe-se lá, se teria sido o hereditário pendor pelas artes que foi se aprimorando através de gerações até chegar nela de forma completa. Ou, como ela mesma crê, foi tudo urdido pelo acaso.
O fato é que os livros foram nascendo: Venha Ver-me a Qualquer Tempo, Canga e Candeia, Cantochão, Sinfonia do Capim, Exercício Findo, Clausura e a literatura foi fluindo, voando e, como um imã, atraindo seus pares e admiradores. E o ciclo de amizades, uma constelação de escritores, editores, jornalistas, críticos, também foi crescendo: Clarisse Lispector, Álvaro Pacheco, Adélia Prado, Rachel Jardim, Lia Luft, Carlos Drummond, Josué Montello, Leonardo Fróes, Fernando Sabino, Carlos Menezes, Ivan Junqueira, Artur da Távola, Affonso Romano de Santana, Carlos Nejar. Caramba! Que time de amigos fez a menina interiorana.
Hoje, Martha, já com certa idade, reside, praticamente só, longe de tudo, num recando ermo do distrito de Engenheiro Passos, Resende, no Sul Fluminense. Sua terra, seu chão. É de lá que nos manda mais um apanhado de preciosas crônicas tecidas em parceria com a vida.

CRIATIVOS - Martha, seu pai, mesmo que por hobby, cantava, era músico e declamador de poemas. Você é poeta, escritora, escreveu e atuou no teatro, tem filhos e netos artistas. A sensibilidade para as artes é um dom hereditário?
MARTHA CARVALHO - Penso que sim, que pode ser hereditário ou, resultado de um berço cultural d’antanho. Avô poeta – tia avó pianista e, outros tantos mais. Meu pai era o showman do hotel fazenda, nos tempos idos, de “ouvido”, tocava piano, acordeom, declamava, fez teatro em Resende, cujo teatro pertencia a irmã da mãe dele, construído no fundo de sua casa e, sendo ela a atriz principal. Eu, aos oito anos tocava acordeom, mais tarde, piano e violão. Tudo sem semifusas e colcheias. Minha mãe, mulher “lida” tinha uma biblioteca ocupando os dois lados de um corredor comprido. Trabalhava muito e, à noite, o seu livrinho de cabeceira. Escreveu apenas um livro ‘Biografia da Solidão’ nunca editou. Filho ator, filha com centro cultural, neto músico, neta artesã – enfim, todos, sensíveis, ligados à música, literatura e arte.
CRIATIVOS - Você disse, que ser escritora não estava na alça de mira, mas uma força te acometeu. Você pode falar um pouco sobre isso?
MARTHA CARVALHO – Com marido militar e morando na Georgia, nos anos 70, encantada com histórias excêntricas acontecidas por lá, escrevia para uma amiga que morava em São Paulo. Ela juntou todas as cartas, mandou para uma escritora no Rio de Janeiro, que levou para uma editora, a Editex Rio, que me editou. Este foi o meu primeiro livro, com o título de Venha Ver-me à Qualquer Tempo. E aí, não parei mais... Tudo obra do acaso! Seriam muitas histórias a serem contadas, muitas... Isto, óbvio, quando estava de volta ao Rio de Janeiro. Passei então a conhecer muitos escritores como as queridas Clarice Lispector, Adélia Prado, Lia Luft, Nélida Pignon, Antônio Torres, Cony, Drummond e Ziraldo – isto está melhor explicado no meu livro lançado agora.
CRIATIVOS - Você é uma pessoa extremamente sensível, de vida multifacetada, rica em experiências, várias vidas numa vida. Você consegue perceber o tão falado, sentido da vida? Há sentido na existência?
MARTHA CARVALHO – Ah... O sentido da existência... Sim. Porque tive, tenho, quatro filhos queridos, cinco netos, e agora dois bisnetos. Amei e fui amada, ajudei e fui ajudada. Agora aos 84 anos, penso na mulher que fui... Ah...
CRIATIVOS - Dos seus vários livros, você tem um preferido? E qual você indicaria para iniciar alguém no saudável hábito de ler?
MARTHA CARVALHO - Meu livro preferido é Clausura. Não, não aconselharia nenhum livro. Eu comecei pelos clássicos. Tive em Resende uma livraria por quatro anos e, com muitas histórias para um dia serem contadas.
Esperança Malograda – 202 páginas - Pode ser encontrado na Livraria Gregas & Troianas, localizada à Rua Pandiá Calógeras, 17, Jardim Jalisco, Resende-RJ. Tel: (24) 2109-0246.
Disponível para downloads oficiais na Cedro Rosa.
Cedro Rosa Digital, a casa da musica independente certificada.
Inscreva-se gratis.
Downloads e trilhas sonoras oficiais.
Escute essa playlist de Samba pra Churrasco, da Spotify / Cedro Rosa!
Como funciona o sistema de registro e certificação musical da Cedro Rosa?
Comments