Medalhistas maranhenses no pódio, e o autor de ‘Carcará’ é ouro puro
Confesso que a Olimpíada me seduz. Perco (ou não), horas diante da TV. Me encanta o esforço e a dedicação dos atletas. Dos esportes individuais principalmente. Atletismo, natação, ginástica, etc. E nesses jogos acabei acompanhando algumas novidades, como o skate. Vejam só! Um esporte que está há anos luz de minhas minguadas aptidões esportivas e do qual não entendo lhufas. Mas torci e curti a participação da menina Raíssa Leal, nossa medalhista de 13 anos, mais uma das boas contribuições do Maranhão para nossa autoestima e ufanismo.
Aqui um parêntesis para o ouro do surfista Ítalo Ferreira, do Rio Grande do Norte. Parabéns pra ele que foi sensacional, e diferente do Medina, que depois de bela manobra, fez um gesto soberbo, e ficou de mãos vazias. As ondas sumiram e ouviu-se (dizem, não tenho como provar) uma voz trovejante vinda das profundezas do mar: “Quem manda aqui sou eu”. É isso. Ninguém desdenha de Netuno impunimente. E um beijão para a dourada Rebeca Andrade.
Mas voltando ao Maranhão, quem primeiro me falou dele ou o fez chegar aos meus ouvidos, foi o meu grande amigo de infância, um irmão de coração, o Rutinaldo. Ele que veio de lá muito pequeno, vivia a falar com orgulho do rio Mearim e mais tarde, que lá no seu estado Natal se falava o português mais bem falado do país. Depois com o tempo vieram outros maranhenses medalháveis como Aluízio Azevedo, Josué Montelo, José Louzeiro (que até foi meu patrão por um breve tempo), o governador Flávio Dino, Zeca Baleiro, que conheci numa conferência de Cultura em Brasília, Alcione, Pablo Vittar e algum outro que a memória pode ter derrapado. Muitos desses, certamente quase todos, merecem ocupar um lugar no pódio, junto com a Raissa. Uns com ouro, outros com prata ou bronze.
Um que não citei, mas a quem dedico os parágrafos a seguir, é outro maranhense que ocupa lugar mais alto no pódio da nossa Cultura, em especial da nossa MPB: o valente, João do Vale, uma daquelas indomáveis forças da natureza traduzida em poeta, compositor, cantador. Tive a sorte de um ligeiro convívio com esse nobilíssimo maranhense natural de Pedreiras. O autor de ‘Carcará’ morou em Nova Iguaçu por quase três décadas, mais, precisamente em Rosa dos Ventos como afiança a historiadora Marize Conceição em seu livro “Rosa dos Ventos – a estrela miúda de João do Vale”.
Foi na periférica localidade de Rosa dos Ventos que João do Vale recebeu algumas vezes em sua casa, sempre com muita hospitalidade, a nossa trupe de jornalistas quixotescos que enfrentava gigantes e moinhos pelas páginas culturais das revistas ‘Equipe’, ‘Nosso Jeito’ e outras publicações. E no longínquo ano de 1977 João comprovou toda sua imensa generosidade, ao topar fazer um show no teatro do antigo Colégio Afrânio Peixoto, gentilmente cedido pelo proprietário, o professor Ruy Afrânio, para o lançamento do livro de contos ‘Primavera Relativa’ que reuniu textos de sete escritores iniciantes, entre eles eu e os jornalistas Luiz Ferrão e Enock Cavalcanti. João do Vale cantou, dançou, declamou. O máximo. Uma noite histórica. E não nos cobrou nada. Fez para nos apoiar. Grande João do Vale, medalha de ouro no pódio dos nossos corações.
“Deu meia noite, a Lua faz o claro
Eu assubo nos aro, vou brincar no vento leste
A aranha tece puxando o fio da teia
A ciência da abeia, da aranha e a minha
Muita gente desconhece
Muita gente desconhece, o lará viu
Muita gente desconhece” (Na Asa do Vento – João do Vale/Luiz Vieira)
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