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Foto do escritorEdson Gargamel

MEMÓRIAS DE UM CHATO ADOLESCENTE QUE ENVELHECEU



fonte: Aercio B. de Oliveira

MEMÓRIAS DE UM CHATO ADOLESCENTE QUE ENVELHECEU

Edson Gargamel


A gente nunca sabe ao certo de que é feita nossa identidade. A carteira com retrato, digital do polegar e assinatura, é fácil saber. Já a identidade, que dá motivo para a gente receber adjetivações, para além de feio, bonito ou simpático, é mais complicado saber. Gosto das especulações que atribuem à memória a formação da nossa identidade. Acredito que alguns fatos que vivi e memorizei determinaram a minha chatice, me fizeram ser estimado, detestado. Fatos que me transformaram num obtuso. Para muitos, um tolo, um rancoroso.


Para tantos outros, um esperto e até experto, dependendo do assunto. Um preguiçoso, um laborioso. Mais uma especulação: penso que os adjetivos também dependem da memória de quem nos adjetiva.


Em 1969 eu estava na sala de uma casa grande, no Jardim Botânico, onde minha mãe trabalhava. Eu tinha 4 anos de idade. Naquele 20 de julho, fixei o olhar nas imagens preto e branco da televisão. Nela passava, ao vivo, Neil Armstrong dando aqueles pequenos quiques no solo da lua e nela fincando a bandeira dos Estados Unidos da América. Naqueles instantes acho que parei de piscar. O tempo passou, não virei astronauta, nem cosmólogo e nem astrólogo. Não esqueço daquela cena – sala, TV e eu sentado sobre um tapete felpudo que devia dar um trabalho danado para minha mãe limpar. Lembro do Armstrong, só não lembro de ter visto minha mãe usar aspirador de pó. Passados alguns anos, depois de morar no Jacarezinho, outro fato ocasional, agora em Jardim Bom Pastor.


Fui ao mercado, que ficava a algumas centenas de metros de casa, para comprar algo que minha mãe pediu. Assim que saí dele, com a pequena compra para se juntar a mistura do almoço, caiu um temporal de verão. Tratei de me proteger numa marquise. Não estava sozinho. Uma das pessoas me chamava atenção. Era a que cantava e tocava violão. Aproximei, puxei conversa. A chuva parou, o sol voltou. Depois daquele breve papo, me transformei. Carlos Monteiro e eu nos tornamos grandes amigos.


Naquele curto tempo ele mostrou coisas que eu não imaginava existir naquele quase fim de mundo. Assim, pensava até o final daquela chuva. Passei a ouvir e gostar de música brasileira, parei de fazer o sinal da cruz antes de dormir, descobri uma grande causa para me envolver, que nunca mais a larguei. Hoje, musicalmente sou mais eclético, meu materialismo, graças a um pouco de sabedoria que o tempo nos dá, ficou mole. Carlos Monteiro virou meu compadre e durante décadas éramos parceiros de copo, de corridas e de risadas. Não demorou muito, aquele encontro que provocou tantas consequências, aprontou outro fato marcante.


Dessa vez eu estava com 15 anos de idade e aconteceu no meu primeiro acampamento, numa praia, na beira da Rio-Santos. Tudo era uma aventura e os amigos mais velhos cuidavam de mim. Não havia estatuto da criança e do adolescente, mas intuitivamente sabiam que tinham responsabilidades, o compromisso de cuidar de alguém recém-chegado a adolescência. Naquela praia, foram dias de novas descobertas. Só que o que ficou na minha memória foi a noite que caminhei entre dois jovens adultos – Jorge Cardozo e Valter Filé -, debaixo de um céu carregado de estrelas brilhantes, com uma lua esplendorosa, que não devia nada ao sol. A nossa visão dependia somente daquela conjunção luminosa. Nada de postes iluminando a orla.


Caminhávamos pela areia úmida, banhada por ondas suaves, a maré era baixa, a temperatura agradável, o ar temperado pela maresia. Os dois falavam sobre literatura, filosofia, política, de coisas que para mim pareciam notações indecifráveis. Falavam entusiasmados de suas descobertas intelectuais, vestidos daquela soberba juvenil. Entre eles, eu ficava em silêncio, encantado só por estar ali, sem nada ou pouco entender, e nada para dizer.


Eu não passava de uma testemunha muda. Imagino que não queriam muito a minha companhia naquele momento, mas adolescente, como dizem, é o chato que ainda não envelheceu. Imagino que outros fatos, memorizados ou não, foram importantes, ainda assim, credito a este episódio essa inveterada curiosidade que não me larga. Uma curiosidade de querer saber só por saber, às vezes, sem sentido, angustiante, que faz eu me sentir um néscio.


Por fim, tenho um ajuntamento de memórias de corpos que viraram defuntos por causas violentas. Dos 8 anos até os 22 anos de idade, posso afirmar, com segurança, que vi cerca de 20. Praça da Concordia, nas Ruas Vieira Fazenda, Marques de Erval e Vila Jardim; nos campos do Abobora e do Sapão; na linha do trem, na estação de Vieira Fazenda. Eram cenários mórbidos complementados por velas, folhas de jornais para cobrir os corpos, choros, mães desesperadas, parentes desolados. Vi corpos desovados em rios e nos campos de futebol - Cairu, Estrela Azul, Anápolis, Grande Rio; nas Ruas Serenidade, Confiança, na Estrada de Belford-Roxo.


Curiosamente, mesmo com toda essa experiência, raramente entro em cemitérios. Procuro ficar distante daquele ambiente. Prefiro levar na memória imagens alegres de quem foi. A minha ausência, enquanto não chega a minha hora, ou presenças episódicas, deve ser motivo para muita gente pensar que sou um sujeito insensível, de coração duro, um cara frio. Um comportamento que pode dar pistas de parte da minha identidade.   


Sei que sou feito de muito mais. Acredito que somos resultado de interações com gente, bichos e coisas. De acasos, surpresas, alegrias, tragédias, frustrações e tantas outros fatos que lembramos e de outros que esquecemos, por querer ou sem querer. Os que acabo de contar, para mim, mais parecem barro nas mãos de um oleiro. Presumo que dão motivos para eu receber adjetivações que ora orgulhariam e ora envergonhariam minha mãe. Não quero defender uma tese sobre o papel da memória. Só queria mesmo partilhar essas coisas comezinhas, antes que se percam comigo na terra ou no fogo.    


 

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A Cedro Rosa Digital, uma plataforma brasileira dedicada à certificação e distribuição de obras musicais, tem inovado ao utilizar os mecanismos dos Artigos 1-A e 3-A da Lei de Incentivo à Cultura para promover pequenos patrocínios em massa. Essa estratégia tem permitido o financiamento de importantes projetos culturais, como:

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Incentivos Fiscais: Uma Ferramenta Global de Fomento à Cultura e Entretenimento


Em todo o mundo, países utilizam leis de incentivos fiscais como uma ferramenta poderosa para fomentar a produção cultural, cinematográfica e televisiva. Essas políticas têm se mostrado eficazes não apenas para apoiar artistas e produtores locais, mas também para atrair grandes produções internacionais, gerando emprego e renda, além de promover o turismo cultural.


Exemplos de países líderes em incentivos fiscais culturais


Estados Unidos: Nos EUA, diversos estados competem para atrair produções oferecendo generosos incentivos fiscais. A Califórnia e a Geórgia são exemplos notáveis, com créditos fiscais que podem chegar a 30% dos custos de produção. Isso tem atraído grandes produções de Hollywood, como séries da Netflix e filmes da Marvel.


Reino Unido: O Reino Unido também é um grande player no campo dos incentivos fiscais. Oferece até 25% de reembolso nos custos de produção, o que tem atraído produções icônicas como a série "Game of Thrones" e filmes da franquia "James Bond".


Canadá: O Canadá é conhecido por suas políticas favoráveis, com créditos fiscais federais e provinciais que podem totalizar até 45% dos custos de produção. Toronto e Vancouver são destinos populares para produções americanas.


França: A França oferece um crédito fiscal de 30% para produções estrangeiras, incentivando a filmagem de produções internacionais no país. Este incentivo tem sido um fator crucial na decisão de filmar grandes produções em cenários icônicos franceses.


Como participar

Participar do financiamento desses projetos é simples e acessível a todos. Empresas e indivíduos podem destinar parte de seus impostos devidos para apoiar a produção cultural através dos mecanismos dos Artigos 1-A e 3-A. Esses artigos permitem que uma parte do Imposto de Renda devido seja direcionada a projetos culturais aprovados, proporcionando uma forma de apoio financeiro sem aumento de custos para os patrocinadores.


Para mais informações sobre como participar e contribuir para o desenvolvimento da cultura brasileira através da Cedro Rosa Digital, visite Cedro Rosa Digital.


A utilização de incentivos fiscais para a cultura é uma prática global que tem mostrado resultados positivos tanto para a economia quanto para a preservação e promoção das artes. A inovação da Cedro Rosa Digital em promover pequenos patrocínios em massa é um exemplo inspirador de como essas políticas podem ser utilizadas de maneira criativa e eficaz.


Referências:

  1. Tax Credits for Filming in California

  2. UK Film Tax Relief

  3. Canadian Film or Video Production Tax Credit

  4. France’s Tax Rebate for International Production


Essa matéria apresenta uma visão abrangente de como os incentivos fiscais têm sido usados globalmente para promover a cultura, com um foco especial na inovação da Cedro Rosa Digital no Brasil.


 

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