top of page

Minhas Avós


Mary Frisbee Machado

Elegância é algo que se nasce com, ou pelo menos, assim eu pensava quando era criança e via minhas avós, Mary e Lucia. Hoje sei que é algo também possível de ser aprendido. Minha infância me permitiu crescer em um mundo à parte. Tanto pela criação tradicional da origem peculiar da minha família, como posteriormente pelas aventuras de mudança de profissão do meu pai.


Minhas avós eram princesas, não oficialmente, mas foram criadas como tal. As duas, de formas diferentes, marcaram minha maneira de ver a vida e, principalmente, porque me ensinaram a me portar em qualquer situação. Aprendi com minhas avós como apreciar elegância, requinte e suavidade que agrega para ser minha melhor versão. Nos dias de hoje, nada mais importante do que saber quais são as regras aceitas e como se sair melhor em qualquer situação, seja no convívio social, não importando com qual classe social se entra em contato, ou no que tange a performance profissional. Destacar-se em um mundo onde todos se igualam na mesmice é algo que pode trazer benefícios, como ser único e contribuir para uma verdadeira diversidade cultural. Bons modos, mesmo com na modernidade e com as mudanças que o mundo traz, é algo que nunca sai de moda, na minha opinião.


Lúcia Valladares Padua

Nasci no Rio de Janeiro, garota da Gávea, bairro tradicional da Zona Sul carioca. Os meus pais se conheceram por causa do meu avô materno, Alberto. Ele era filho de Astrogildo Machado, renomado cientista que trabalhava com Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, no que hoje é a Fiocruz.


Meu avô Alberto, mais conhecido como Tola, era médico e diretor do laboratório da família de vacinas de gado, Manguinhos. Mas, sua verdadeira paixão era caçar. E meu pai, hoje ambientalista, era um apaixonado por caça em sua juventude. Ele foi apresentado ao meu avô por seu amigo Francisco Soares Brandão, dono do FSB Comunicação e sua família. O que faz da história do meu Pai ser ainda mais fascinante para muitos, foi sua mudança radical que vou contar agora. Foram nas visitas à casa do meu avô, para falar de caça em sua enorme sala de troféus e sempre ao som de boa música clássica, que ele conheceu minha mãe, que tinha apenas 16 anos. E assim, a jornada deles começou e perdura até hoje (52 anos de casados e mais 4 de namoro).


Parece que todos se conheciam na cidade. Os eventos eram marcados pelas mesmas presenças em uma época que o Rio permitia segurança, hospitalidade e claro, esbanjando beleza natural por toda a parte. Mesmo quando não se tinha tanta intimidade, havia um clima de fraternidade. Encontros, amizades, eventos sociais requerem um determinado comportamento e uma educação refinada, o que era trazido como parte do dia a dia, algo que pode ser natural ou aprendido.


E foi nesse ambiente muito peculiar e diferente que eu fui criada.


Minha avó materna, Mary, era filha única de um casal de inglês com brasileira. Meu bisavô (Pai da minha avó materna) era português e veio para o Brasil como representante do rei de Portugal. Minha avó Mary nasceu em Lisboa, mas foi naturalizada inglesa desde seu nascimento e se portava como uma verdadeira princesa, forma com que criada. Temos que levar em consideração que era outra época, mas ela nunca foi a escola – tinha tutores para diferentes áreas do conhecimento, como história e geografia, línguas, piano, ballet e equitação. Quando adulta e já casada, abria sua casa cinematográfica na rua Adolfo Lutz como Audrey Hepburn em um filme dos anos 60. Sua casa sempre foi impecável, lindíssima com detalhes e requinte. Receber e ser caprichosa em tudo que fazia eram sua arte. Os almoços e jantares eram todos servidos por mordomos e à francesa. Todos os dias, pão com manteiga em pequenas bolinhas estavam sempre ao lado esquerdo do prato principal em pratinhos apropriados.


Vovó Mary até o final da vida se manteve elegante, maquiada, bem cuidada e graciosa. Quando veio morar em nossa família em Brasília, ela era elogiada por onde passava. Seu inglês britânico e sua paixão por bridge fazia dela uma pessoa sempre admirada. Mas, seu gosto pelo detalhe e organização a tornava única.


Já minha avó Lucia teve uma outra história, não menos impressionante. Ela sempre viveu uma vida requintada, mas de forma diferente. Agora, com quase 101 anos, marcou toda a sua família e amigos por sua generosidade inigualável com seu coração de ouro. Era amante da feirinha da praça do Jockey, ou viajar para sua casa de campo em Itaipava e comer bem e com glamour. Possuía uma curiosidade inata, o que a fazia saber um pouco de tudo. Além disso, sempre teve uma elegância de alma. Ela é a melhor chef sem nunca ter pegado uma panela e a melhor paisagista sem ter tocado na terra para plantar. Com isso, fomos agraciados com os banquetes mais fartos e os jardins mais belos. Foi a mais agregadora, juntando a família de uma forma especial. Os almoços tradicionais de Natal com a família toda ao redor da mesa duravam a tarde toda em meio a papos deliciosos e até cantorias. Manteve assim, tradição típica das famílias mineiras, mas, no nosso caso, no Rio, em sua casa na Rua Embaixador Carlos Taylor, na Gávea.


Vovó Lucia é filha de Benedito Valadares, que foi interventor e governador de Minas Gerais por 12 anos. Nesse período, morou no Palácio da Liberdade em Belo Horizonte, o que justifica sua exigência por detalhes de beleza e elegância.


Por muitos anos frequentavam a fazenda da família em Pará de Minas, as festas e bailes que reuniam os amigos do seu pai. Posteriormente, eram assíduos das festas do Teatro Municipal no Rio de Janeiro, do qual meu avô, seu marido, foi diretor por 10 anos.


Meu avô João, com quem ela se casou em 1943 era sobrinho do Negrão de Lima, que foi governador do Rio. Era primo de D. Sarah Kubitschek e um dos melhores amigos de Juscelino. Portanto, os padrinhos de casamento deles foram JK e Getúlio, na época presidente.


Meu avô era um contador de histórias nato. Muito carismático, engraçado e charmoso. Por onde passava deixava sua marca com suas anedotas. Elegantemente vestido, muitas vezes de terno branco, bengala e chapéu Panamá ia para a cidade (centro) depois de aposentado, trabalhar na Santa Casa ou ao Country Club encontrar os amigos, mesmo aos 90 anos. Amava marrom glacê, whisky (às vezes com água de coco) e jabuticaba. Meus avós foram pessoas incríveis, com muitas histórias únicas, como minha avó ter sido pedida em namoro por Tancredo Neves e meu avô ter dançado com Carmem Miranda na Califórnia.





Minhas manhãs, quando criança, eram ir à praia com minha mãe ou, em dias de chuva, para a casa do meu padrinho Arnaldo Ferreira Leal e sua mulher, Beatriz. Dono de um dos casarões mais bonitos do Rio, tinha um pequeno zoológico privativo. Nós crianças, amávamos esses momentos de brincadeira em uma casa que hoje é tombada como patrimônio histórico em Laranjeiras. A deslumbrante propriedade de 1892 foi residência do Conde Modesto Leal. Foi ali que também aprendi como elegância tem a ver com discrição, com naturalidade e bom gosto nos detalhes. Lembro-me bem das visitas ao querido casal que sempre nos recebia na biblioteca com decoração aconchegante e chique, dentro de uma casa com corredores enormes, pé direito alto e abóbodas deslumbrantes no teto. Aos sábados, o casal recebia naturalistas e essa interação com meu padrinho e com seus convidados influenciaram a mudança de vida que meu pai viria a fazer posteriormente.


E assim eu fui criada, como algo saído de um livro romanceado de séculos atrás. Quase que uma versão moderna de Downton Abbey. Minha vida mudou, e ainda bem que mudou, quando meu pai resolveu trocar de profissão. Ele havia cursado direito, relações públicas e administração e trabalhava de forma bem-sucedida na área. Minha mãe, formada na PUC em comunicação visual, era designer e decoradora de interiores. Viviam uma vida calma, boa e animada numa sua casa charmosa no Cosme Velho, onde recebiam amigos e familiares em celebrações diversas. Até que um dia meu pai falou para ela que se continuasse naquela vida iria enfartar aos 40 de tão infeliz profissionalmente que estava. Ele havia decidido mudar de profissão e queria estudar biologia, algo que ninguém entendeu na época. Sua mudança de vida impactaria a todos nós, mas depois de altos e baixos, perceberíamos que foi de forma positiva. Foram momentos difíceis em que minha mãe conta chorar de exaustão com trabalho e filhos pequenos para que meu pai seguisse seu sonho. Assim que se formou biólogo, meu pai conseguiu bolsa para fazer mestrado e doutorado na Universidade da Florida. Passamos três anos e meio lá e voltamos ao Brasil para morar no Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio, uma cidade bem pequena no interior de SP, para a coleta de dados para sua tese, que era com um macaquinho muito ameaçado, o mico-leão preto.


Nesse momento, minha mãe se envolveu com a comunidade e desenvolveu um projeto que a fez mudar de profissão também - se tornou educadora ambiental. Depois de anos no Parque, voltamos aos Estados Unidos para então meu pai seguir com seu doutorado e minha mãe com mestrado. Em 1992, fomos morar em Piracicaba, que foi quando eles fundaram o IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, instituição que hoje trabalha no Brasil todo e já recebeu prêmios mundo afora pelos seus projetos, formando mestres e doutores que contribuem não só para a proteção da biodiversidade do Brasil, como para melhorias sociais e econômicas, buscando meios de fazer esse mundo melhor.


O contraste entre as inúmeras mudanças me trouxe realidades bem diferentes. De uma infância como saída de um livro de histórias encantadas no Rio de Janeiro, para morar no exterior com bolsa de estudante e vendo meus pais se viravam como podiam, ou morar no interior do Brasil em uma das regiões mais pobres do interior paulista, me tirou da bolha em que minha família vivia.


Mas, todas essas experiências me fizeram ter hoje conhecimento, resiliência e uma visão mais ampla do que é a vida. E no final, aprendi que ter elegância e requinte é ter calma e respeitar a todos que encontramos, por mais diferentes que sejam. Só assim, poderei agir com delicadeza e naturalidade diante do que cada situação pedir. Tratar a todos bem e como iguais, porque de fato não há diferença é chave para a noção agora tão falada como inclusão. Indelicado, para mim, é achar que classe social ou ter ou não dinheiro faz de alguém melhor ou pior que o outro. Todos devem ser cuidados e tratados com a mesma cordialidade, e principalmente, respeito. Essa foi uma das mais importantes lições que aprendi de ambas as minhas avós.


 

Cedro Rosa Digital: Elevando a Música Independente no Mundo com Certificação, Licenciamento e Distribuição de Obras





Num panorama musical em constante evolução, a Cedro Rosa Digital emergiu como uma força propulsora no universo da música independente. Com um compromisso inabalável de certificar, licenciar e distribuir obras e gravações, a empresa posicionou-se como um catalisador essencial para artistas independentes em escala global.

Fundada por Tuninho Galante, um incansável defensor da música de autor, respeitado na indústria, a  Cedro Rosa Digital não só abraça a diversidade artística, mas também adota uma abordagem inovadora para promover talentos emergentes.

A empresa destaca-se não apenas pela sua atuação como distribuidora, mas também por seu papel crucial na certificação e licenciamento de obras. Ao oferecer suporte a artistas independentes para proteger suas criações e garantir sua justa compensação, a Cedro Rosa Digital se estabeleceu como um baluarte da integridade artística e remuneração equitativa.

Além disso, a abordagem holística da empresa, combinada com tecnologia de ponta, proporciona aos artistas uma plataforma robusta para lançar suas obras, conectando-os a uma audiência global cada vez mais exigente e ávida por novos sons autênticos.

Com uma trajetória de sucesso marcada pela paixão pela música e pelo apoio aos artistas independentes, a  Cedro Rosa Digital continua a moldar o cenário musical contemporâneo, iluminando novos caminhos para a expressão artística genuína e sustentável em todo o mundo.

0 comentário

Comentarios


+ Confira também

destaques

Essa Semana

bottom of page