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Foto do escritorLuiz Inglês

Nem tudo são flores (mas quando são, podem ter espinhos)



Pois é, a vida no campo é incomparável. Posso passar horas tecendo elogios e dissertando sobre as vantagens deste novo modo de viver (para nós urbanoides). Digo novo, porque está acontecendo neste exato instante, uma busca nunca vista, por propriedades rurais. Vejo aqui no meu canto, muitos rostos novos. E reitero a novidade, na medida que para as pessoas a quem me refiro, a vida rural de fato é uma novidade. É uma escolha.


Infância, juventude e maturidade, construídas cercadas por prédios. “Até a onde a vista alcança” na verdade significa até a próxima esquina. Água pura? Só comprada na garrafinha. Ar puro? ... vou ficar devendo. A lua é só percebida quando procurada no app, ou por coincidência, quando estamos numa nesga entre um prédio e outro.


Pessoas que, como eu, fartas desta opressão, vieram em busca de uma qualidade de vida não mais possível nos grandes centros, onde há uma impessoalidade determinante. Uma cidade pequena normalmente está associada a uma maior integração entre seus moradores.


Praticamente todos se conhecem, todos se cumprimentam (lembram o que é isso? dizer bom dia ou boa tarde...). Num dia comum chego cedo à cidade e encontro uma vereadora na rua, paro e bato um papo. Vou ao Forum tratar de um assunto referente ao meu título de eleitor, faço uma fezinha na Loteria (a única da cidade), vou ao mercado, à farmácia, tenho uma reunião com o agrimensor a respeito de um georreferenciamento que preciso, cruzo com o Prefeito na praça e pergunto rápido sobre um assunto em pauta, cumprimento um amigo (grande advogado) que passa a cavalo cujos cascos ecoam no paralelepípedo e vou tomar um sorvete (é... aqui tem uma sorveteria!) onde encontro um casal amigo. E tudo isso fiz a pé e levei apenas uma manhã!


Mas voltando ao foco, parece que depois da pandemia houve uma reorganização de prioridades, mudanças de conceitos e descoberta de necessidades até então desconhecidas ou apenas adormecidas. O confinamento advindo com o medo de se contaminar com o covid-19, o distanciamento dos amigos, a higienização geral de tudo que se trazia para dentro de casa (aliás, nunca pensei que minhas mãos fossem ter maior contato com álcool que meu fígado...), a inquietação com as notícias diárias alarmantes por conta do volume crescente das mortes no nosso país, tudo isto contribuiu para que as pessoas passassem a sonhar com um espaço aberto na natureza, sem este pânico, sem máscara e sem tanto estresse.


E aí, nesta hora lembravam de mim. Um monte pessoas amigas me chamavam de sortudo: “Você é que é feliz, não tem que ficar usando máscara o dia inteiro, não está confinado em um apartamento, respira ar puro, bebe água direto da fonte, tem horta com alimentos saudáveis ... ”

Apesar dos conceitos e predicados elogiosos, confesso que ficava bastante irritado com as lamúrias que ouvi em diversas ocasiões. Por que? Porque não caí de paraquedas aqui na roça. Não mesmo! Minha vinda para o campo foi fruto de uma decisão pensada e repensada. Me afastei de muita coisa. Optei em ficar ausente do meu círculo social. Não fui mais à praia. Aos domingos não caminhei mais no calçadão. Hum... que saudade de uma pizza, de um “chopps” (estou em São Paulo, não esqueçam...rsrsrs). Cinema ou teatro? Nem pensar. Exposições, vernissages, livrarias e outros encontros culturais ficaram – como todo o resto – restrito aos poucos momentos que desço para o Rio ou estico em São Paulo.


E nos momentos pré-pandemia, tenho certeza que ninguém lembrava de mim, pois a vida corria solta. Tudo era possível. Tudo era lindo e maravilhoso como cantava a Gal. Mas com a chegada do coronavírus e as restrições impostas no cotidiano de todos, começaram a dar valor a uma vida mais natural, longe dos grandes centros, da poluição, das aglomerações e sobretudo – independente da doença que tirou tantas vidas do nosso povo – de um cotidiano mais autêntico e mais ligado no que é verdadeiramente essencial.


Acredito que depois de um tempo, ao chegar, digamos, depois de meio-século de existência, devíamos todos, nos retirar para recantos do nosso país que necessitam de nosso expertise. Deixe a cidade para os mais jovens. Nós também quando começamos, ocupamos espaços deixados pelos mais velhos. Só que agora é intencional: abra espaço e se retire para ajudar pequenas povoações que estão carentes de know how contemporâneo.


Quem mais conhece e sabe como se faz (qualquer coisa) senão nós? E com o advento da Inteligência Artificial também iremos, aos poucos, ficar para trás. Então venham e ajudem comunidades que precisam de dentistas, advogados, médicos, professores, engenheiros, músicos ... Seus conhecimentos numa cidade grande, é apenas mais ou mais uma, brigando por espaço. Num município menor, você pode ser a diferença.


Vou contar uma história rapidinho para ilustrar, com a realidade, a síntese do que é morar na roça. A cidade que escolhi viver, fica na Serra da Bocaina e tem pouco mais de 9 mil habitantes. Moro num pequeno vale em plena Mata-Atlântica a dez quilômetros da cidade. De minha casa à praça do coreto levo 20 minutos por conta que parte do percurso é feito em estrada de terra. Para resumir, devo dizer que numa eleição passada concorriam 2 candidatos, uma mulher, ex-prefeita inclusive, e um novo candidato. Resultado da eleição? 2.527 votos para ela e 2.527 votos para ele. Alguém já ouviu falar em eleição que acaba empatada? Pois é, aqui, um voto faz a diferença!


A bem da verdade, com o tempo, a vida que abri mão dos grandes centros, aos poucos foi retornando ao meu convívio, com idas ocasionais ao asfalto da cidade.


A idade me obriga visitas à consultórios e clínicas para exames num ritmo semestral. Aproveito então e junto o prazer ao lazer, bebericando num barzinho acolhedor com amigos, almoçando ou jantando com amigas queridas e participando de momentos da vida cultural para não me tornar totalmente alheio ao que se passa no planeta. Volto ao meu recanto com livros novos, tendo visto peças premiadas, e se o tempo ajudar me banhando no mar saudando Iemanjá. Não é necessário ser ortodoxo e ter ideias fixas.


Mas dizer que caí de paraquedas, para estar aqui, isso nunca!


Obs: para os curiosos que ficaram sem saber, a ex-prefeita foi eleita pois a legislação diz que, num empate, o candidato mais velho é vencedor.


Luiz Inglês

24/11/2023

 

A cultura e a economia criativa têm se mostrado pilares fundamentais para impulsionar o desenvolvimento de pequenas cidades no Brasil e no mundo.


Esses setores não apenas fomentam a expressão cultural local, mas também geram oportunidades econômicas significativas. Empresas como a Cedro Rosa Digital têm desempenhado um papel crucial nesse cenário ao certificar e distribuir obras musicais independentes globalmente.



Por meio da certificação e distribuição dessas obras e gravações, a Cedro Rosa Digital não apenas amplia a visibilidade dos artistas independentes, mas também assegura uma fonte de receita estável para eles. Ao disponibilizar essas criações no mercado mundial, a empresa oferece uma plataforma vital para que músicos independentes possam alcançar novos públicos e receber compensações justas pelo uso comercial de suas músicas.




A contribuição da Cedro Rosa Digital para a música independente vai além da simples distribuição, pois oferece uma estrutura que protege os direitos autorais dos artistas. Isso não só incentiva a produção contínua de novas obras, mas também promove um ambiente mais justo e sustentável para a indústria musical independente.




Em resumo, iniciativas como a Cedro Rosa Digital desempenham um papel crucial no desenvolvimento das pequenas cidades, ao empoderar artistas locais, gerar receita e garantir que a expressão cultural dessas comunidades alcance um público global, fortalecendo, assim, a economia criativa como um todo.


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