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Foto do escritorAna Paula Silva

NORMA BENGELL- Ascensão e queda de uma estrela




Norma Bengell foi diretora, cantora, atriz de cinema internacional em uma época em que não tínhamos redes sociais para divulgar trabalhos.


Aos 23 anos, interpretou BB, uma paródia da atriz francesa Brigite Bardot, ao lado do astro do cinema brasileiro, Oscarito. Foi um sucesso!



No mesmo ano, lançou o LP “Oooooooh Norma”, com canções como “Fever” e outros sucessos. Como se não bastasse o título provocador, a capa do LP mostrava Norma aparentemente nua. A moça era boa de marketing.


Com a carreira em ascensão, a atriz foi considerada por Jesse Valadão, a mulher mais desejada do Brasil”.

Em 1962 protagonizou a primeira cena de nu frontal do cinema brasileiro no longa metragem “Os cafajestes” de Ruy Guerra.



A trajetória comercial de “os cafajestes” incluiu proibições, manifestações de ligas conservadoras, debates na imprensa e até mesmo censura. Somente em 2015 seria incluído na lista de 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos pela Abbracine- (Associação Brasileira de Críticos de Cinema)


O filme “O pagador de Promessas” lançado no mesmo ano que “Os cafajestes” ganhou a Palma de Ouro em Cannes e teve recepção melhor do público, não sendo proibido, como o primeiro. Pelo contrário, o filme foi um grande sucesso.

E este sucesso foi recebido com naturalidade por Norma, que foi consagrada ao estrelato internacional.


Na Itália, Norma trabalhou e fez amizade com grandes nomes como: Federico Fellini, Luchino Visconti, entre outros intelectuais europeus; teve um affair com o astro francês Alain Delon, e conheceu o seu único marido, o ator italiano Gabriele Tinti. No cinema italiano, Bengell atuou ao lado de Catherine Deneuve e Sami Frey em La Constanza Della Ragione (1964) e com Renato Salvatori em Una Bella Grinta (1965) do diretor Giuliano Montaldo. Porém, a atriz é mais lembrada pelos sucessos O Planeta dos Vampiros (Terrore Nello Spazio, 1965) - Ficção científica do diretor Mario Bava, e Os Cruéis (I Crudeli, 1967) - um Spaghetti western de Sergio Corbucci. Norma chegou até a atuar em Hollywood, num breve período, mas confessou não ter se acostumado ao modo de filmar norte-americano.


“Não me ofereceram amor sem prisão”


Norma declarou ter sofrido violência sexual pelo menos duas vezes na vida: a primeira vez aconteceu com o rapaz com quem perdeu a virgindade aos 17 anos. Mais tarde, o o fato teria se repetido com o ator francês Alain Delon, depois de ter terminado o relacionamento – e a quem descrevia como “bonitinho, mas ordinário”. O francês era considerado o homem mais bonito do século 20.


 

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Seu único casamento oficial foi com o ator italiano Gabriele Tinti. O casal chocou a sociedade da época, pois foram morar juntos sem serem de fato casados, coisa que na época era um verdadeiro escândalo e foi nos estúdios da Companhia Cinematográfica Vera Cruz onde oficializaram a união que durou até 1969


Em 1964, aos 30 anos de idade e no auge da beleza, Norma voltou ao Brasil com Tinti para filmar a obra-prima do diretor Walter Hugo Khouri - Noite Vazia, um dos melhores filmes da carreira da atriz, nomeado à Palma de Ouro no Festival de Cannes.


O casamento realizado no estúdio da Vera Cruz teve um cenário montado em 24 horas para oficializar a união com o italiano com a finalidade de realizar uma co-produção Brasil /Itália.



A ditadura


Encenando a peça “Cordélia Brasil”, de Antônio Bivar, em 1968 considerada subversiva, foi seqüestrada no Teatro de Arena e levada ao Rio por homens do exército, sendo interrogada por cinco horas. Norma sofreu outras detenções até que se exilou na França por 4 anos, onde continuou atuando no cinema e também na televisão e no teatro. Lá trabalhou com o diretor Patrice Chéreau - um dos grandes intelectuais do teatro na França - em duas ocasiões: na peça La Dispute, de Marivaux, em 1973, e Les Paraventes, de Jean Genet, em 1983, que marcou sua despedida dos palcos franceses.


Feminista


Após a separação, Norma chocou mais uma vez a sociedade e foi morar sozinha, se mantendo com recursos próprios, e se declarou feminista, passando a lutar em manifestações e sindicatos pelos direitos das mulheres, defendendo o direito feminino de se divorciar, trabalhar, fazer aborto, caso queira, assim como o uso da pílula e do preservativo, o que causou revolta a igreja católica e a sociedade daquela época.


Multitalento


Norma atuava em várias frentes: era produtora, atriz, cantora, diretora. Além de fazer parte da história da cultura do Brasil, tinha sua vida pessoal como alvo da curiosidade dos jornalistas, sendo este o assunto de capas de muitas publicações.


Desafios


A carreira de Norma Bengell como diretora foi conturbada desde o início, em 1987, com o longa metragem “Eternamente Pagu” sobre a poeta e feminista Patrícia Galvão (1910- 1962).

Brigou com uma das roteiristas do filme e também com críticos que deram avaliações negativas.


Dirigiria ainda e produziria o filme de 1996 O guarani, baseado na obra do romancista José de Alencar.

O produtor convidado para trabalhar neste projeto foi Assunção Hernandes, mas não pôde aceitar por estar envolvido em outro trabalho. Sem experiência na função, Norma teve a prestação de contas reprovada.


O TCU determinou a devolução de R$ 3,8 milhões. A Justiça do Rio decretou a indisponibilidade de seus bens e ela foi indiciada pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e apropriação indébita.


Norma contou que, ao final do projeto, havia recebido apenas R$17.000,00.


Norma teria dito a Assunção que caso ele tivesse trabalhado como produtor no filme, a história dela seria outra.


Seu último trabalho na televisão foi como Deise Coturno na série humorística de grande sucesso da Tv Globo Toma Lá, Dá Cá (2008/2009), onde o público mais jovem a conheceu.


No teatro, seu derradeiro papel foi na montagem de Dias Felizes, de Samuel Beckett, dirigida por Emilio di Biasi em 2010.

Duas quedas e uma rachadura na coluna levaram Norma a depender de uma cadeira de rodas.

Sem saúde, sem recursos e sozinha, Norma entrou em depressão passando a fumar cada vez mais.


A despedida


No início de 2013, Norma é diagnosticada com câncer no pulmão, recusa o tratamento e falece em 9 de outubro de 2013.


No velório da artista, poucos e leais amigos: os cineastas Luiz Carlos Barreto, Roberto Farias, Paulo Thiago; a cuidadora Luciene Marques, Ney Latorraca, Carla Camuratti e Silvio Tendler.


De acordo com Luciene, artistas como Faustão, Miguel Falabella e Jô Soares ajudavam com os remédios de Norma, enquanto Milton Nascimento pagava o plano de saúde e arcaria com as últimas despesas do hospital.


O velório e a cremação foram pagos pela RioFilme.


Imagem: https://www.terra.com.br/diversao/gente/amigos-e-familiares-se-despedem-de-norma-bengell-em-velorio,846ffb092b3a1410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html


 

Ana Paula Silva, da Pacotinho Filmes

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