"O Fragmento de Sérgio"
Sérgio Ricardo Batista vivia dividido. Era Sérginho para a mãe, mesmo depois dos 40, um diminutivo que parecia prendê-lo eternamente à infância. O pai, num misto de ironia e afeto, também cedia ao Sérginho, embora tentasse impor autoridade ao filho já adulto. Para os amigos da faculdade, ele era Sérjão, um apelido que lhe conferia ares de líder nos tempos do centro acadêmico, quando se opunha ao regime autoritário — um gesto que, ele sabia, também era sua forma de rebelar-se contra o pai. No trabalho, Sérginho ressurgia, como se não pudesse escapar do peso de uma adolescência prolongada.
Essa fragmentação o inquietava, mas foi assistindo a Fragmentado que Sérgio sentiu o peso dessa condição. A história de Kevin, um homem com 23 personalidades, o fez pensar nas tantas máscaras que ele mesmo vestia. Aquilo parecia uma caricatura de sua própria vida. Pouco tempo depois, assistiu a Identidade, estrelado por John Cusack, e mais uma vez sentiu o desconforto de se ver refletido em um personagem.
O filme, que mergulha na mente de alguém com transtorno dissociativo de identidade, acendeu uma luz incômoda: Sérgio se via fragmentado, dividido em versões que não se conectavam, cada uma vivendo em universos próprios e afastados.
Buscou a psicanálise, tentando organizar os cacos. Descobriu que o pai, tão central em sua revolta, era também o espelho de sua insegurança. Quando a análise não bastou, recorreu a remédios tarja-preta, uma tentativa de silenciar as vozes internas que lhe diziam que o mundo era grande demais para ele.
Mas Sérgio sabia que aquela não era sua primeira fuga. Adolescentes, ele e os amigos dividiam catuaba em brincadeiras escolares, e ele fumava as sobras das pontas de cigarro de maconha. Depois vieram os psicodélicos, dissolvidos em garrafas d'água, com promessas de um escape colorido que nunca durava.
Agora, já adulto, uma namorada mais jovem que ele entrou em cena. Como na música de Chico Buarque, aquela menina usava cabelos cor de abóbora, enquanto os cabelos de Sérgio começavam a ficar cinza, salpicados pelos fios brancos que teimavam em aparecer. A juventude dela realçava suas fragilidades. Ele queria ser inteiro, mas ainda era pedaços — Sérginho, Sérjão, Sérgio — tentando entender onde começava e onde terminava.
Chegando ao final do ano, Sérgio encarava as obrigações da temporada. Uma delas era voltar à casa onde nasceu, um espaço que já não habitava havia alguns anos, desde que o trabalho começou a lhe dar o suficiente para pagar o aluguel de um kitnet. No Natal, reuniria-se com os pais, tias solteironas e os primos, todos muito bem-sucedidos.
Um era diplomata; outro, advogado de um renomado escritório especializado em litígios tributários; e a prima, médica, a quem Sérgio recorria para conseguir as receitas dos seus remédios tarja-preta.
Quanto ao ano novo, Sérgio ainda não sabia o que faria. Mas, no fundo, desejava que a virada para 2025 trouxesse algo mais. Ele esperava, secretamente, pelo surgimento de um novo Sérgio.
Não mais o Sérgio Ricardo Batista, o Sérginho ou o Sérjão. Quem sabe, talvez, o Sérgio versão 2025.
Marcio Ferreira é jornalista, Doutorando em Sociologia, Mestre em Sociologia Política e torce que os "serginhos" tenham um 2025 melhor que este ano
Certifica Som: Tecnologia para Transformar a Música Global
"A tecnologia deve estar a serviço do desenvolvimento e da geração de emprego, renda e inclusão, não o contrário", declara Antonio Galante
A Cedro Rosa Digital, plataforma pioneira na certificação e distribuição musical, está desenvolvendo um ambicioso projeto chamado Certifica Som. A iniciativa, em parceria com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), conta com apoio de instituições como EMBRAPII e SEBRAE, e reúne um time de doutores, pesquisadores e desenvolvedores de alto nível. O objetivo é claro: utilizar tecnologias como inteligência artificial e blockchain para certificar milhões de obras e gravações, beneficiando milhares de artistas em todo o mundo.
"A tecnologia deve estar a serviço do desenvolvimento e da geração de emprego, renda e inclusão, não o contrário", afirma Antonio Galante, produtor cultural e compositor conhecido no meio musical como Tuninho Galante.
Com décadas de experiência na defesa dos direitos autorais, Galante destaca um dado alarmante: entre 10% e 15% dos direitos autorais globais deixam de ser pagos devido à falta de certificação adequada das obras e gravações.
Esse problema, chamado por especialistas de "gap de certificação", gera prejuízos bilionários para a indústria musical e seus criadores. Estima-se que, apenas em 2023, mais de US$ 2 bilhões tenham ficado retidos em sociedades de arrecadação ou distribuídos incorretamente, afetando principalmente artistas independentes e pequenos produtores.
O Certifica Som busca preencher essa lacuna ao criar um sistema que documenta de forma precisa a autoria, os intérpretes e a ficha técnica das músicas. Através da tecnologia blockchain, o projeto garante um registro imutável e rastreável, essencial para a distribuição justa de royalties. Além disso, a inteligência artificial facilita a análise de grandes volumes de dados, acelerando o processo de certificação.
Crescimento Global e Inclusão
A Cedro Rosa Digital já representa artistas de cinco continentes, com um repertório que reflete a diversidade cultural do mundo. "Nosso objetivo é criar um ambiente onde todos, desde grandes produtores até músicos independentes, tenham oportunidades iguais de monetizar seus trabalhos", explica Galante.
Com sua expansão acelerada, a plataforma também fortalece o soft power brasileiro, destacando a riqueza cultural do país no cenário global. “Estamos transformando a maneira como a música é certificada e consumida, garantindo que mais pessoas possam viver de sua arte e que os direitos autorais sejam respeitados em escala internacional”, conclui o fundador.
O projeto Certifica Som é mais do que uma solução tecnológica; é um passo decisivo para democratizar o acesso a direitos autorais e tornar o mercado musical mais inclusivo e sustentável. Com iniciativas como essa, a Cedro Rosa Digital se consolida como líder em inovação no setor e defensora incansável dos criadores de música em todo o mundo.
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