O melhor lugar do mundo é aqui, e agora!
- Lais Amaral Jr.
- há 6 dias
- 3 min de leitura

Depois de uma semana cansativa e um prato pesado de mocotó acompanhado de biricuticos, por pura rotina, me larguei no sofá e liguei a televisão. Dei uma zapeada procurando futebol e deparei com desenhos animados dos meus tempos de guri. Parei para conferir. Àquela altura eu já tombava com uma irresistível lombeira, quando fui sacudido pelo poderoso brado daquele conhecido personagem da Idade da Pedra: Yabba Dabba Doo!!
Algumas linhas antes, ainda anterior ao almoço, eu lera uma matéria sobre a descoberta de pinturas rupestres num sítio do Parque Nacional do Itatiaia. As primeiras encontradas em nosso Estado. Meu inconsciente é sensível demais a influências externas, e acredito que por estar naquela transição, nem acordado/nem dormindo, acabei indo parar em Bedrock.
Um parêntesis: o Parque Nacional do Itatiaia, uma referência entre as Unidades de Conservação, foi o primeiro Parque do país, fundado em 1937 pelo então presidente Getúlio Vargas, creio, para retribuir o apoio da região. Cinco anos antes, ele deixara o Palácio do Catete para se refugiar numa casa em meio à mata, na Mantiqueira. Começara a Revolução Constitucionalista de 1932 e temendo um bombardeio dos Paulistas ao Palácio do Catete, Getúlio mudou-se temporariamente para essa área, que mais tarde integraria o Parque. Se Allende se inspirasse nele, não no suicídio, claro, mas abandonando La Moneda, a história do continente poderia ser outra hoje.
Mas voltando à Bedrock. Fixei olhos na TV, nos personagens, Pato Donald Flintstones e Barney Musk. Havia alguma confusão. Possivelmente coisa da minha mente, semiadormecida pós almoço. Diferente do que conheci, este Flintstone era meio alourado. O Barney, parecia mais fiel aquele de outros tempos, com seus olhinhos miúdos e espantados. Barney falava alguma coisa sobre as taxações feitas pelo amigo, às cidades vizinhas de Bedrock:
“Donald, meu amigo, acho que essa sua atitude vai acabar colocando todos contra Bedrock. As pessoas podem não compreender, por exemplo, porque taxar uma pequena comunidade que tem a economia baseada na pesca e venda de mariscos, ou taxar uma ilha que é habitada por pinguins, e mesmo, chefe, acho que pegou mal não taxar a Rúbia. O que vão pensar, Donald? Eu também estou confuso”
E Flintstones responde com um jeitão meio condescendente, meio arrogante: “Meu caro e assustado Barney, não se preocupe. Estou fazendo isso para chamar atenção de todos para mim. Para notarem como sou o mais poderoso e corajoso dos presidentes. Depois, quando pedirem pinico, arregrarem, eu negociarei com eles e logo, todos vão beijar a minha mão. Sobre a Rúbia, meu pobre e inocente Barney Musk, é que o Rei de lá anda de namorico com a Rainha do Oriente. Só você não notou que eu quero é separá-los. Os orientais, são nossos principais inimigos”.
E Barney, ainda incrédulo sobre o sucesso das medidas do chefe, resmunga: “É... não sei não Donald, daqui a pouco até os moradores de Bedrock vão se voltar contra você. Tem gente que não vai mais poder comer mariscos, além de que, os nossos bonés e tacos de baseball, nossas bolas de basquete, são Made in Oriente. Se o senhor brigar com eles, como nossa gente vai se divertir? Do jeito que você está agindo, nós vamos acabar voltando à Idade da Pedra, chefe”.
Passada a sesta, despertei daquele sonho estranho (com a devida vênia de Chico Alves e Moacyr Luz) que misturou Pato Donald com personagens de Anna Barbera. Peguei o controle e mudei de canal e apareceu a cara de um conhecido e poderoso reverendo, um pastor eletrônico falando em Deus e pedindo ajuda dos fiéis para as grandes obras do Templo. Indignado com a cara de pau do sujeito, zapeei e achei o futebol. Ôba! Tudo Bet. Bet-leva, Bet-toma, Bet-leza, Bet-ferra. Tudo é Bet. Relaxei satisfeito, amparado na reflexão: ‘como deveria ser ruim a vida na Idade da Pedra, sem as nossas modernidades’. É isso.
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