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Foto do escritorCarlos Alberto Afonso TOCA

O nome TOCA (DO VINICIUS) onde ? quando ? como ? por quê ?

CRIATIVOS de 31 de Maio de 2021.

“ Entre Imissões e Omissões vamos cumprindo nossas Missões “ – 31 de Maio de 2021 – Vovô Carlos Alberto Afonso.



1993 AGOSTO TOCA DO VINICIUS NA VIª BIENAL DO LIVRO / Crédito: Aline Mara Afonso


Minhas andanças por Ouro Preto durante, principalmente os anos 70 e 80, me colocaram em contato com todas as suas conhecidas riquezas e, além disso – muito além – me apresentaram algumas das mais bem providas pessoas dentre aquelas que resistem às ações de qualquer quantidade de tempo, permanecendo em meu coração, em minha cabeça e, até mesmo, em minha produção. E o nome TOCA DO VINICIUS é um exemplo desta última qualidade de prodígios, pois esta expressão, como aí está, não nasceu no Rio de Janeiro. Aqui, em nossa amantíssima Cidade, nasceu o REFERENTE, ou seja : a pequena Editora-e-Livraria de Música TOCA do VINICIUS, criada, mantida e fundada por este cara (ou corôa) que vos escreve agora. A historinha não é longa e nem um pouco complicada e, em se tratando do nome de batismo de um agente sócio-educacional-cultural tão apaixonadamente dedica e resistentemente empenhado, eis aí um temperinho nada desprezível. Então vamos lá.


Algumas poucas vezes eu fui a Ouro Preto em viagem pessoal, pois, muitíssimo mais habitualmente as muitas viagens que me levaram lá, eu as fazia com objetivos inteiramente ligados ao ENSINO (ensinar com ilustrações ao vivo a estética barroca no Brasil, EDUCAÇÃO (integrar meus alunos ao universo das LINGUAGENS, através da percepção da interdisciplinariedade e proporcionar ilustrações vivas capazes de fazê-los incorporar à perspectiva cronológica da HISTÓRIA, a dinâmica das CULTURAS. De sobremesa para estes banquetes, minhas garotadas se fartavam de INESQUECÍVEIS DOCES DE PERALTICES, como daquele meu grupo de alunos de pré-vestibular que resolveram tomar banho no chafariz Marília de Dirceu, gerando, com isso, uma assustadora chamada do “Mestre” ao destacamento, em plena madrugada.


Visitávamos uma coleção de 13 lindas Igrejas, numa Cidade, cujo tamanho não excede – em muito – a um bairro nos grandes centros urbanos. Concentrávamos, contingentes estudantis que oscilavam de 150 a 500 ou 600 estudantes – por grupos, é claro – em uma Igreja – geralmente São Francisco (em Antonio Dias) e, ali, ministrávamos palestras em que as ilustrações eram as próprias linguagens pintura, arquitetura, escultura, música... E eu intercedia com a Literatura.


Numa dessas viagens, eu me hospedei no famoso Pouso Chico Rey, que acabou me fazendo repetir, em todas as visitas subsequentes, o poeminha que um de seus habituais famosos poetas deixou escrito no Album de hóspedes. Poeminha em que, depois de derramar versos de laudatória delicadeza, o Poeta encerra : “Amiga, só quero pouso, no Pouso do Chico Rey” – e acabo de me arrepiar só de voltar a escrever este verso. Quanto ao autor, certamente, os amigos leitores jamais ouviram falar nele. Mas.... é um tal de Vinicius de Moraes, que, aliás, além de nosso, também era o amado Poeta da maravilhosa dona do Pouso e, com muito pouco tempo de papo, dona, também de nossos corações : a amiga de Vinicius e mãe de nosso querido amigo Ricardo Correia Araujo, Dona Lili Correia Araujo.


Era muito difícil pensar em sair daquele lugar, pois, não bastasse a figura magnética de Dona Lili, logo ao lado, morava o artistaço plástico Carlos Bracher, que, em algum momento, será tema de um papo entre nós.

Pois numa de nossas conversas-aulas ministradas por Dona Lili, eis que ela me conta uma historinha imortal – pelo conteúdo e personagens – e imortal por um sintagma que ficaria. Ela me contou o seguinte : “ Carlos Alberto, o Vinicius era tudo isso que você e todo mundo sabe, até porque ele não sabia ser dois. O que ele era para mim, era igualzinho para o porteiro, para o parceiro, para o pedinte, para o cantor. E, em geral, ele era encantador e muito bom em tudo. Mas Vinicius tinha algumas coisas que, embora devesse, ela não conseguia modificar. Então eu vou te contar uma coisa : você está vendo que nossa pousada não é grande. Eu faço questão de te dar sempre o quarto do Vinicius porque não poderia ser diferente.


Então se você faz uma reserva aqui no Pouso, pode ter certeza de que pode vir a rainha da Inglaterra, mas o que eu reservei para você será guardado para você. Só tem um detalhe : se você marcar e não vier, aí você me deixa mal, pois eu poderei ter negado aquela acomodação com uma justificativa que não se consolidará e o outro hóspede a quem neguei a acomodação ficar zangado... Muito bem : a outra situação terrível é a seguinte (e agora chegaremos à restrição viniciana): sendo aqui muito pequenino, acaba sendo grande a possibilidade de você chegar aqui sem ter feito ‘reserva’ e eu não ter acomodação para te servir. E esta situação é muito chata seja lá com quem for. Imagine com uma pessoa amiga !!! Então, o Vinicius se hospedar aqui, algumas vezes, sem ter reservado antes. Eu o pude atender sempre, mas tinha certeza de que, num belo dia, ele chegaria e não teria vaga. E a situação ficaria muito chata. Perdi a conta das vezes em que isto acontecia. Até que chegou o dia. A campainha toca, venho abrir a porta e... quem bota a carinha pro lado de dentro.... “Oi, Lilizinha !!!” Era ele. Eu me descontrolei, não dei bom dia, nem boa tarde e fui dizendo : “Vinicius, quantas vezes eu te pedi !!! Nunca aconteceu..... mas hoje aconteceu !!! NÃO TEM VAGA, VINICIUS !!!! – nisto, eu me lembrei de um quebra-galho e mandei : OLHA VINICIUS SÓ TEM VAGA ESTA SALETA PEQUENA, QUE NÃO PASSA DE UMA TOCA. Aí, Carlos Alberto, você não vai acreditar : ele foi andando naquela direção como aqueles passinhos curtos... chegou na porta da saleta, olhou, olhou... virou-se prá mim e disse assim : “Muito bom, Lilizinha, muito bom”. Eu só acreditei porque... ele era ele. Então eu disse : “Olha, Vinicius, eu te avisei. Então isso aqui fica sendo a tua TOCA”. E posso encerrar aqui a paráfrase que fiz à narrativa de Dona Lili. Portanto, sigo eu.


Há muito tempo eu não lia e não ouvia aquela metáfora TOCA. Que bacaninha. Aquilo não me saiu mais da cabeça. E, agora, dando um bom salto no tempo, chego no 22º andar do condomínio BARRAMARES na Barra da Tijuca em visita de que já tratei aqui : À casa de Ronaldo Bôscoli, que, em nossa reunião (para mim histórica), quando me convidou para fazermos juntos a CASA da BOSSA NOVA, eu topei, mas....contrapropondo : Ronado Bôscoli, maravilhoso, mas, ao invés de a gente começar chamando de CASA DA BOSSA NOVA, não poderíamos chamar de.... TOCA DA BOSSA NOVA ??? Porque, se crescer... aí a gente passa a chamar de CASA, mas se acabar permanecendo pequenina, aí vai pegar mal, a gente vai fazer papel feio. Ronaldo Bôscoli deu 2 ou 3 gargalhadas e me respondeu numa boa : “Tá bem, Carlos Alberto, pode chamar com quiser, contanto que seja BOSSA NOVA”.


Pronto. Eu comecei a tomar providências para avançar de nossa camelotagem no Posto 9 de Ipanema, aos domingos e feriados, para um lugarzinho pequeno e que, por ser pequeno, se chamaria TOCA da BOSSA NOVA, um antídoto preventivo a quem pudesse avaliar como pretensiosa a iniciativa de dar a BOSSA NOVA uma modesta sede. Auto lá, diríamos. Isto aqui é apenas uma....TOCA para a BOSSA NOVA. Mas é BOA ! rsrsr

Em abril de 1993, consegui que o SEBRAE bancasse um estandezinho na VIª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO, que iria acontecer entre 19 e 29 de Agosto daquele mesmo ano de 1993. E íamos seguindo com a divulgação e venda do meu livro ABC de VINICIUS de MORAES, que foi a primeira Edição e Publicação de nossa Editora fundada em 1991. Ela se chamava NOVO QUADRO.


Em 3 de Fevereiro daquele ano de 1993, a Prefeitura decretara ANO VINICIUS DE MORAES NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO e a iniciativa contemplava em cheio o meu Projeto de 1987 – anunciei em entrevista para O Globo, em outubro de 1987 – que era minimizar – pois eliminar ainda era impossível – a distância existente entre os segmentos mais populares da Sociedade e essa expressão de Cultura de que, por exemplo, Vinicius de Moraes era representante. O Projeto da Prefeitura levaria – e levou – Vinicius para a Escola Pública e para os equipamentos de Cultura do Município. E tudo ía rolando maravilhosamente, até que, na quarta-feira dia 14 de Abril eu fui a Bonsucesso para fazer uma palestra sobre Vinicius num lugar em cuja Faculdade de Letras eu trabalhara durante quase 10 anos com muito amor e cercado de muito carinho : a UNISUAM. E cheguei por volta das 8 horas da manhã. Para matar a saudade fui até o Café da Calçada que ficava – ou fica na esquina da Av. Paris com a Praça das Nações. Levei meu exemplar do Jornal do Brasil, sentei na mesinha, pedi meu café e, enquanto esperava, abri o jornal e fui direto ao... todo mundo sabe.... ao CADERNO B !!! Um dos vícios de minha geração. Pois, meus amigos, quando abro o CADERNO B, para minha perplexidade... a CAPA INTEIRA trazendo uma grande foto do amado Poeta, uma matéria enorme e, sobre tudo, a grande manchete : “QUEM SALVARÁ O ANO DO POETA” – em seguida a explicação : “FALTA DE PATROCÍNIO AMEAÇA AS HOMENAGENS PARA OS 80 ANOS DE VINICIUS DE MORAES”. E o JORNAL DO BRASIL lançou uma campanha com o nome de “ S.O.S. VINICIUS. “


O susto deu uma levantada de poeira. O café chegou. Engoli quente, ao mesmo tempo em que procurava entender o estalo que deu em minha cabeça. OK. Decodifiquei. Há 3 anos passados, em 1990, eu fui à Câmara Municipal pedir ao meu querido amigo, o Jornalista de Música Sérgio Cabral, que escresse o Prefácio do meu ABC de VINICIUS. O Encontro fora maravilhoso como todos os demais e Sérgio Cabral me contou o seguinte : “Carlos Alberto eu dei entrada num requerimento do TÍTULO DE CIDADÃO BENEMÉRITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO para o VINICIUS DE MORAES. Entretanto, como eu fui para o TRIBUNAL DE CONTAS, o requerimento foi arquivado.” – voltando ao susto em Bonsucesso, corri para o pátio da UNISUAM onde eu lembrava haver um orelhão. Ainda era muito cedo, mas... Vou na cara-de-pau.


O próprio Sérgio Cabral atendeu ao telefone. “ Sérgio, aconteceu um negócio chato no Jornal do Brasil “ – “Já li” – retrucou o Sérgio. E entrei na minha idéia : “ Olha só, lembra aquele lance que você me contou do Título pro Vinicius ? Saturnino está com mandato. Você me autoriza a pedir por Saturnino requerer o desarquivamento ? Aí, no aniversário dele, em Outubro, a gente faria uma grande homenagem na Câmara para entrega aos familiares dele do TÍTULO. Pôxa !!! CIDADÃO BENEMÉRITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO POST MORTEM. Caramba, Sérgio. Que resgate !!!” Ao que Sérgio Cabral respondeu : “ APROVADÍSSIMO, Carlos Alberto. Está autorizado. Diz pro Saturna que mandei um beijo. “ Amigos, todos os desdobramentos foram lindos e, um dia, mostraremos aqui. A outra homenagem-desagravo que fizemos, não fez barulho algum, mas... era uma vez a TOCA DA BOSSA NOVA.


E a TOCA DO VINICIUS, sem nenhum exagero, está no Brasil inteiro e no mundo inteiro, naturalmente junto aos modestos segmentos dessa cultura com que tanto, tanto e tanto nos identificamos. Em AGOSTO de 1993, durante a VIª Bienal Internacional do LIVRO, com palestras nossas, visita do Prefeito, Música ao vivo e palestras do velho TOQUEIRO, promovemos o parto da TOCA DO VINICUS, com letreiro e tudo o mais. E, no mês seguinte, Setembro, no dia 30, a Toquinha receberia personalidade jurídica. Afinal, Dona Lili estava certa : a TOCA era do VINICIUS. E...TUDO PORQUE... NÃO ERA SÁBADO, MAS ERA 1993 ANO DOS 80 ANOS DO AMADO POETA.


Carlos Alberto Afonso, para CRIATIVOS neste 31 de Maio de 2021.

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