O presente que pedi a Papai Noel
O período natalino é um trecho do ano que me traz sensações contraditórias. Há sim, alguma poeira de felicidade no ar. Muito por conta da propagação de um forçado estado de alegria, que mistura aspectos de cordialidade, espírito cristão e coisas afins, com a necessidade de consumir, sempre com a nobre justificativa de presentear entes queridos. E tudo isso junto com a “certeza” de estarmos adentrando num período que prenuncia festas, confraternizações, férias e mudanças para melhor no novo ano que se aproxima. Tudo se mistura.
Só que essa decantada, quase-euforia natalina, não bate com o que emana do olhar de muitos adultos com quem cruzamos nas ruas. É um olhar carregado de desolação, decepção, fracasso. São desempregados ou gente com trabalho precarizado, os filhos em casa, mal alimentados e, certamente sonhando com Papai Noel. Pessoas que estão profundamente tristes e desmotivadas para a vida. Isso vaza dos olhos de muita gente nas ruas. Dói e desnuda a irrealidade, a verdadeira ilusão desses dias, pretensamente especiais.
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Quando criança esse período parecia, sim, mágico. A família era de classe média baixa. Mas parecia que eram tempos menos miseráveis. E me lembro disso, até com alguma saborosa nostalgia (se é que esse anfíbio existe). Morávamos na Baixada e costumávamos ir a Madureira e uma ou outra vez ao Centro da cidade, para as compras de Natal e, já também de Carnaval. Geralmente íamos de trem. Fazíamos o footing pela Edgard Romero, passávamos no Mercadão. Minha mãe, minhas tias, às vezes até minha avó integrava o cortejo. Era um entra e sai animado nas lojas até a suprema satisfação quando um dos mais velhos anunciava a hora de fazer um lanche. Que delícia, os grandes bules de metal despejando em nossos copos, o caldo de cana recém saído da moenda. Os pastéis fumegantes no prato.
Foi-se a infância com sua magia e veio a juventude. Não mais compras com a família. Vieram os bailes e domingueiras na Portelinha. Mais tarde, já abraçado pelo Samba, veio o Portelão, o Botequim do Império. Madureira está tatuada na minha alma desde sempre. Por essas e outras quando ouço o samba “O Meu Lugar”, do Arlindo Cruz em parceria com o bamba Mauro Diniz, principalmente quando interpretado pelo próprio Arlindo em gravação ao vivo, a massa cantando junto, sou tomando por uma incontrolável emoção, os olhos não conseguem represar a liquefação do sentimento, o corpo todo vibra. Parece que Madureira é o meu lugar também. E não dá mais pra dissociar Madureira do Arlindo Cruz.
Os tempos são outros, mesmo. Se não bastasse, vem mais essa pancada no fim de semana e que tanto ecoou no lugar. O falecimento do querido Mestre Monarco (pai do Mauro Diniz), que além de um dos pilares do Samba, glória e ícone da minha Portela, era um ser humano do mais alto nível e a quem tive a sorte de conhecer. Foi amigo de meu pai, na infância em Nova Iguaçu. Antes de mudar-se para Oswaldo Cruz.
Que tempos são esses!? Tantos, indo embora. No samba dois nomes históricos só esse ano, com Monarco indo juntar-se a Nelson Sargento, presidente de honra da Verde e Rosa. E Elton Medeiros que se foi há cerca de dois anos. O Aldir!! Tomara que exista mesmo um lugar em uma outra dimensão onde essa turma esteja cantando e feliz.
Por essas memórias e por esses dias cruéis desse nosso tempo de maldades, eu já decidi o que pedir a Papai Noel neste Natal. Já até escrevi minha carta ao bom velhinho: “Papai Noel, quero de presente, o nosso estimado Arlindo Cruz de volta. Sadio, feliz e atuante. E não só para mim, mas para tantos que sofrem com a saudade. Quero ouvi-lo cantar, entre tantas joias do seu ateliê de ourivesarias, esse samba que exalta o nobre bairro suburbano, que habita minha infância, minha memória e que sempre que ouço é como se gritassem dentro da minha alma: você está vivo meu amigo. Estás no seu lugar. É isso. Conto contigo Papai Noel”.
“O meu lugar é caminho de Ogum e Iansã
Lá tem samba até de manhã / Uma ginga em cada andar
O meu lugar é cercado de luta e suor
Esperança num mundo melhor / E cerveja pra comemorar
O meu lugar tem seus mitos e Seres de Luz
É bem perto de Osvaldo Cruz / Cascadura, Vaz Lobo e Irajá
O meu lugar é sorriso, é paz e prazer
O seu nome é doce dizer: Madureira, laiá laiá” (O Meu Lugar – Arlindo Cruz/Mauro Diniz)
Evandro Lima e Lais Amaral Jr
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