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O QUE É SER UM BOTAFOGUENSE



 

                O estimado leitor, que já se deu ao trabalho de ler a crônica que escrevi, AMO O RIO, SAIO OU NÃO SAIO DAQUI? já sabe. Sou botafoguense. E mesmo aqueles que não a leram, mas cruzaram meu caminho, acredito que também já tenham conhecimento desta minha insólita condição.


​Nelson Rodrigues – gosto muito de citá-lo, ainda mais em se tratando do tema futebol – ao definir botafoguense, em célebre crônica, escrita há mais de 70 anos, alertava: “Ponham uma barba postiça num torcedor do Botafogo, deem-lhe óculos escuros, raspem-lhe as impressões digitais e, ainda assim, ele será inconfundível. Por quê?”. Arremata o genial cronista, em resposta a própria pergunta: “Pelo seguinte: há, no alvinegro, a emanação específica de um pessimismo imortal.”


​​Eu, em inevitável autocrítica, confesso: Nelson, afora alguma dose de exagero, tinha razão! O botafoguense, machucado, por toda uma história, conquanto gloriosa, de conquistas sofridas, como foi o título carioca de 1989 e o brasileiro de 1995; de quase títulos, como a perda inusitada do brasileiro de 2023; de finais “roubadas”, como o carioca de 1971; de viradas improváveis, no final de partidas vibrantes, como o inolvidável Botafogo x Palmeiras no returno do brasileiro de 2023, encara qualquer partida, seja contra time grande ou pequeno, o campeão brasileiro ou o vencedor do torneio do Aterro do Flamengo, com pessimismo ou, no mínimo, com cautela.


               Vejam o que aconteceu comigo na disputa da semifinal da Copa Libertadores da América deste ano (2024), entre Botafogo e Peñarol, do Uruguai. Estava em Brasília, na tarde de quarta-feira, 23 de outubro de 2024, dia do primeiro jogo. Tinha um julgamento. Estava chateado. Perder o jogo mais importante de meu time nas últimas décadas! Já era vivo, na era de ouro do Botafogo, na década de 60 e início de 70 do século passado. Não me lembro, entretanto, de ter visto uma equipe jogando tanta bola. Deixando-se de lado o conservadorismo botafoguense, as chances de vitória eram boas. E eu não poderia ir ao jogo, embora já tivesse comprado o ingresso.


              Primeiro a obrigação, depois a devoção, já dizia minha saudosa mãe. Futebol não paga minhas contas, nem enche barriga. Estava concentrado no meu trabalho. Eram 18 hs, quando se encerrou a sessão do Supremo Tribunal Federal. O leitor pode não acreditar: o julgamento foi adiado. Não houve julgamento!!!!! Risco do meu negócio. Assim que terminou a assentada, minha cabeça voltou-se, aí sim, para o grande jogo, marcado para iniciar às 21:30 hs, no Rio!


​​Parti, tão logo pude, para o aeroporto. O trânsito estava bom. Havia conseguido um voo para o Galeão, 19:20 hs, chegando 21:00 hs. Dava tempo para chegar ao estádio até mesmo antes do pontapé inicial. Achei que estava tudo dando certo. Talvez um sinal da vitória!


​​Aqui um parêntese. O botafoguense tem outra característica marcante, além do pessimismo. É um supersticioso. Um episódio da história do clube simboliza este traço da personalidade do torcedor: a virada sobre o Flamengo, no campeonato carioca de 1948. Uma cadelinha chamada Biriba entrou em campo, quanto o Botafogo estava em desvantagem de 3x1. Em seguida, o Glorioso reverteu o resultado, ganhando de 5x3. Carlito Rocha, icônico presidente do clube naquele período, adotou a cachorrinha, que se transformou na mascote do time. Para os botafoguenses, conquanto, como revelam as crônicas esportivas de então, no momento da invasão canina, o Botafogo jogasse melhor, anunciando uma virada, Biriba ficou com os méritos da vitória e, após, com os louros do título do campeonato carioca de 1948, que se seguiu, pondo fim a jejum de 13 anos.


​​ Tudo dando certo, até aquele momento, me convencia de que aquele dia seria do Botafogo. Logo as coisas mudaram. O voo atrasou. 50 minutos. Já não daria para assistir o primeiro tempo. Ao entrar no avião, uma mãe ansiosa me abordou:


​​- Você poderia mudar de lugar para meu filho sentar-se ao meu lado?


​​Não vi problema. Troquei a poltrona. Já sentado, aparece mais um mal presságio: o rapaz acomodado ao meu lado, da cadeira que não era a minha, vomitou. Não no saquinho próprio. No chão. Viajo há décadas. Nunca tinha acontecido comigo algo similar, em um avião em pleno voo. Porém, os pedaços de alimentos, misturados com o suco gástrico, quase em frente a mim – o rapaz, no ato final, virou-se na minha direção - não me incomodavam tanto. 


                Embora tentasse me distrair com a leitura de um livro, estava focado no que poderia acontecer no Engenhão, naquela noite. Pensei, atraso do voo, vomito no chão ao meu lado, não são bons sinais para um dia de semifinal de Libertadores… a descrença alvinegra voltava a me assombrar. Quando estou no modo torcedor, a razão perde lugar para a paixão, pessimismo/cautela e a superstição. Faz parte da catarse do espetáculo do futebol. Quando genuínas, tais sensações não devem ser reprimidas. E eu costumo dar vazão a estes sentimentos. Diverte-me. 


​​ Cheguei no Galeão às 22:00 hs. O jogo já estava em andamento. Mesmo assim, não hesitei, fui direto para o Engenhão. Quando entrei no estádio, estava no final do primeiro tempo. 0x0. Antevia claramente, mais um jogo sofrido, um resultado apertado, quiçá um 1x0. Não vai ser fácil. É a sina do botafoguense.


​​A opção de torcer pelo Botafogo não é algo facilmente explicável. Historicamente, não há jogo ou título ganho ou perdido sem angústia, ansiedade ou emoção, muita comoção e sofrimento. E ainda assim teimamos em torcer. Nelson, na mesma crônica que já citei, de forma hiperbólica, dizia que o botafoguense é o único “que, em vez de esperar a vitória, espera precisamente a derrota. Os outros comparecem (ao estádio) na esperança de saborear, como um Chicabom, o título do seu clube. Mas o torcedor do Botafogo é diferente: ele compra o seu ingresso como quem adquire o direito, que lhe parece sagrado e inalienável, de sofrer.” Não à toa, o botafoguense também é conhecido como sofredor. 


                  Sobre este ponto, antes de voltarmos a partida de futebol, ao segundo tempo da partida, uma reflexão. Todos querem o melhor para os seus filhos. Meu filho escolheu ser Botafogo. Provavelmente, tive alguma participação nesta opção. Mas ninguém obriga ninguém a se apaixonar! A paixão é algo que surge do coração e somente este sabe a razão. Quem é botafoguense não nasce com a estrela solitária em suas veias. Não há uma herança genética, um DNA alvinegro. Acredito que o Cupido flechou, com uma seta branca e preta, o coração do meu filho, como ocorreu comigo e com meu pai.


​ Apesar desta convicção, até recentemente, confesso, tive algum remorso de ter, em alguma medida, induzido ou contribuído para meu filho se transformar em um botafoguense. Nos últimos anos, os resultados foram pífios. Salvo o título Brasileiro de 1995 – ele era muito criança à época - e alguns campeonatos locais, o time não ganhou nada. 


               Agora, contudo, já passou essa má fase. É o que parece... Vejo meu filho feliz, vivendo um momento ímpar. O Botafogo acumula vitórias. Só falta um título. Talvez dois, no mesmo ano. Sou grato a John Texto por isto. Espero que ele ganhe muito dinheiro com seu investimento no Botafogo e seja muito feliz. 


​ Retornando ao jogo. Inicia o segundo tempo. Tudo levava a crer que no máximo, sairíamos com uma vitória apertada. Paulo Mendes Campos, em antológica crônica, escrita em 1957, chamada “O Botafogo e Eu”, afirmava que “há coisas que só acontecem com o Botafogo”. Para o bem ou para o mal. 


              O que ninguém, absolutamente ninguém acreditava aconteceu. Em poucos minutos, Botafogo 3x0. No terceiro gol, pensei: vamos ganhar de 3x1 ou 3x2! Fazer a nossa parte em casa. Logo em seguida, afastando meu temor, de torcedor escaldado, veio o quarto gol! Um êxtase! Apoteótico! O time jogando como dança o ballet de Bolshoi. 5x0. No quinto gol, o grito da torcida parecia cansado… muito gol em pouco tempo. Valeu a pena toda minha odisseia para ir a este jogo histórico. Não teria me perdoado se tivesse chegado no aeroporto e, ao invés de ir ao estádio Nilton Santos, seguido para casa, assistir pela TV. 


             Este não é o fim desta história. A vitória histórica do Botafogo contra o Peñarol era apenas o primeiro jogo da semifinal. Haveria um segundo, no Uruguai. No dia seguinte os jornais, de todo o mundo, destacaram, em manchetes a conquista botafoguense. Todos afirmando ser uma das maiores e mais significativas vitórias da história do clube. Espalhava-se o otimismo. Os torcedores, de outros clubes, passaram a dar como certa a classificação do Botafogo para a final da Taça Libertadores de 2024. E como favorito ao título.


​Eu - penso que não estava sozinho - como botafoguense raiz, não partilhava de toda esta confiança. Paulo Mendes Campos, como Nelson, tinha razão. “Há coisas…” A vantagem era de fato muito boa. 5 gols. Mas em se tratando de Botafogo….


​Em outro texto vamos falar sobre o que aconteceu depois deste jogo, talvez, quem sabe da final! Será fácil, tranquilo o caminho do time rumo ao título? É claro que não. Se fosse, não seria o meu amado Botafogo. 

 

 

Conexões entre futebol, música, cultura e economia criativa

revelam potencial de entretenimento global


Na interseção entre futebol, música e economia criativa, surgem exemplos de como essas áreas se conectam de forma inesperada, impulsionando negócios, cultura e inovação. Na Inglaterra, ícones como Ed Sheeran investiram em clubes de futebol, como o caso de sua associação ao Ipswich Town. Outro destaque é o compositor e hitmaker Elton John, que também é acionista de clubes.


Além disso, histórias de jogadores que fizeram transição para o mundo artístico são emblemáticas.


O lendário Julio Iglesias, por exemplo, iniciou sua carreira como goleiro do Real Madrid antes de se tornar um dos maiores cantores da história. Já na França, o ex-futebolista Eric Cantona se reinventou como ator e figura cultural de destaque.


No Brasil, essas conexões também se manifestam de maneiras singulares. John Textor, presidente do Botafogo, é conhecido por seus investimentos no setor de cinema e entretenimento. Outro exemplo notável é Antonio Galante, fundador da Cedro Rosa Digital e conhecido no meio musical como Tuninho Galante. Com décadas de experiência como músico e produtor, Galante também atuou como agente FIFA, representando grandes clubes e jogadores como Romário, Rivaldo, Alexandre Torres e Carlos Alberto Torres.


Ele negociou contratos de transferência e publicidade para times como Vasco da Gama, Botafogo e Fluminense, sempre destacando que seu foco estava em conteúdo e entretenimento, independentemente do setor.


Hoje, Galante lidera a Cedro Rosa Digital, uma plataforma que combina inovação tecnológica com economia criativa. A empresa desenvolve um sistema global de certificação, distribuição e licenciamento musical. Por meio dessa plataforma, artistas podem certificar suas obras, garantindo direitos autorais internacionais, enquanto empresas e consumidores acessam músicas de forma segura e transparente, seja para download, sincronização em filmes, vídeos promocionais ou publicidade.



A Cedro Rosa Digital busca revolucionar o mercado musical, oferecendo segurança jurídica e eficiência em negociações diretas na plataforma. Esse modelo representa uma nova forma de conectar arte e tecnologia, criando oportunidades para criadores e promovendo a economia criativa como um motor de desenvolvimento.


Essa convergência entre futebol, música e negócios não apenas enriquece a cultura global, mas também demonstra o potencial do entretenimento como uma força transformadora no cenário econômico e social.

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