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Olhos de Beth




Os olhos sombrios de Elizabeth passearam por todos os olhos que viam o movimento da praça suburbana no entardecer do último dia do outono. E se fixaram nas pupilas um tanto dilatadas sob cílios curtos e grossos, sob sobrancelhas espessas que formavam uma vírgula intensa, enquanto as mãos pequenas gesticulavam.


Ou, ao contrário, desciam em dois pontos, quando ouvia os argumentos frágeis de suas amigas, em qualquer assunto meio sem importância naquela primeira sexta-feira do mês. O salário pago na véspera garantia o churrasquinho e o balde de cervejas antes de partir para a novela, a janta no forno, o boa noite para a filha, para a mãe e a preparação para o sábado, único dia de liberdade.


E este então, seria especial. Iria encontrar Paulinho, um colega de escola na infância, que sumira na vida. Garimpeiro em Goiás, alguns diziam. Polícia Federal na fronteira com a Bolívia, outros falavam. Virou bandido, cochichavam as fofoqueiras da vila, sempre longe de Dona Nininha, Ana Maria do Santo Sepulcro, nome constante na Certidão de Nascimento da mãe de Paulo Antônio do Santo Sepulcro, o rapaz moreno de olhos verdes que saíra da comunidade há quase trinta anos.


Ninguém tinha noção do exato porquê. E ninguém sabia porque estava voltando.

Elisa não se importava com esses detalhes. Lia o horóscopo toda semana na Revista da Mulher. Gêmeos com ascendente em Câncer e Lua em Libra, sabia, tinha a certeza que era o seu momento de reencontrar um grande amor.


Não era dessas de ficar vendo só a previsão semanal. Nada disso. Estudava. Comprava almanaques. Chegou a fazer o mapa astral inteiro. Depois da internet, fez um esforço, comprou um celular, entrou na Rede, baixou aplicativos e se tornou uma expert nos desígnios dos astros. Não ao ponto de ganhar dinheiro com isso. Vivia de seu salário e das horas extras nas Casas Maranhão, vendendo eletrodomésticos e kits de presentes para noivas: faqueiros, frigideiras, colchas , colchões, camas de casal, guarda-roupas de oito portas. Era boa de venda. Comunicativa, fala mansa, parceira da galera.


Quando a empresa decidiu fazer downsizing e demitiu 60% dos empregados e readmitiu uma parte com o título de colaboradores e salários menores, ela não fez parte do passaraio. A gente gosta de você – disse o gerente com um sotaque francês forçado. Non depende de moi. Depende de tu. Tem que venderr mais.


E ela vendeu. Abriu um MEI no nome da irmã. Fez uma página na Rede social e mandou ver. Vendia à distância e mandava entregar na loja em que trabalhava.


Elizabeth olhou Eliza feito um gavião olha um filhote de passarinho. Mas não sofreu nenhum ataque tipo os pássaros adultos fazem quando o predador ronda o ninho.

Não. Eliza reagiu ao olhar de Beth. Estava tranquila, como quase sempre. Suas amigas falavam de trabalho e interesses por possíveis namorados. Mudança de vida. Carros caros. Morar no Méier. Na Barra.


Ela não. Num guardanapo escrevia uma declaração de amor para o seu namorado de escola, Paulinho, o moreno de olhos verdes, cabelos rebeldes, tênis All Star e que adorava rock progressivo.


Estava envolta no papo das amigas, das colegas de trabalho. Mas não as ouvia. Apaixonada, sonhava sua vida futura.


Quando levantou os olhos, sentiu-se lebre, sentiu-se presa de um predador, de uma predadora, na verdade.


E foi.


 

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